Céu Abreu
Avanços e desafios da comunidade LGBTI+ em Anápolis
Desafios das pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho
O mercado de trabalho ainda é um campo cheio de desafios para a comunidade LGBTQIA+. Segundo uma pesquisa do Center for Talent Innovation, 61% dos funcionários gays e lésbicas preferem esconder sua sexualidade no trabalho por medo de perderem o emprego. Além disso, 33% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBTQIA+ para cargos de chefia, e 41% das pessoas LGBTQIA+ afirmam ter sofrido discriminação no ambiente de trabalho. Isso sem contar que 90% das travestis acabam se prostituindo por não conseguirem outro emprego, mesmo tendo boas qualificações.
Esses números mostram a urgência de criar políticas inclusivas e de sensibilizar as empresas para criar um ambiente de trabalho mais acolhedor para todos.
Dificuldades no acesso à saúde
A saúde também é um grande desafio. Muitas pessoas LGBTQIA+ relatam que os médicos não estão preparados para atendê-las e, às vezes, até demonstram despreparo ou negligência. Por exemplo, o uso do termo “homossexualismo” ainda é comum, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter retirado a homossexualidade da lista de doenças em 1990. Além disso, é comum que médicos peçam exames para detectar HIV sem ao menos perguntar sobre as práticas sexuais dos pacientes. Para as pessoas trans, o maior desafio é fazer valer o uso do nome social e ser tratado conforme o gênero com o qual se identificam. A falta de especialização no atendimento a pessoas trans leva muitas a buscarem tratamentos clandestinos, o que coloca ainda mais em risco sua saúde.
Dificuldades na educação
O ambiente escolar também pode ser hostil para jovens LGBTQIA+. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) revelou que 73% dos alunos LGBTQIA+ já sofreram agressões verbais devido à sua orientação sexual e 68% devido à sua identidade de gênero. Essa discriminação leva muitos jovens a abandonarem os estudos. Estima-se que 25 milhões de pessoas estão fora da escola no Brasil, e a discriminação e a violência são causas comuns desse abandono entre a população LGBTQIA+. Jovens trans enfrentam desafios como a falta de respeito ao nome social e o dilema de qual banheiro utilizar. Como resultado, raramente concluem os estudos e frequentemente são excluídos do mercado formal de trabalho.
Iniciativas e movimentos em Anápolis
Apesar de Anápolis não ter muitas ações do poder público voltadas para pessoas LGBTQIA+ e nenhum representante direto na câmara legislativa ou no executivo, temos vários movimentos e coletivos que fazem a diferença. Por exemplo, a psicóloga Luciana Alarcão e a comunicadora e gestora de diversidade Céu Abreu, junto com toda a equipe do Projeto Margem a Vista, criaram o primeiro projeto fotográfico voltado para pessoas trans, apresentado na galeria Antônio Sibasolly.
Temos também o Time de Queimada, liderado por Anderson Kenin, que reúne várias pessoas LGBTQIA+ semanalmente para jogar queimada, promovendo inclusão no esporte e momentos de colaboração. Outro exemplo é o Mutirão de Retificação de Nome e Gênero, organizado pelo Coletivo Flamingo e liderado por Samuel Mendes e Anderson Kenin, que ajuda pessoas trans a retificarem seu nome e gênero. A campanha “#MeuNomeMeuDireito” aconteceu em 30 de abril de 2024, em parceria com a OAB Diversidade e a Defensoria Pública.
Outro destaque atuante é o projeto "Mais Um Sem Dor", coordenado pelo procurador do trabalho do 18º Tribunal Regional do Trabalho em Goiás, Dr. Tiago Ranieri. Esse projeto está fazendo um trabalho incrível ao captar, qualificar e encaminhar pessoas vulneráveis para o mercado formal de trabalho. As empresas que contratam participantes desse projeto recebem o Selo Empresa Amiga da Diversidade, o que traz ainda mais valor para a empresa e toda a equipe envolvida.
Grupos e coletivos ativos
Anápolis conta com vários grupos e coletivos que atuam em prol da comunidade LGBTQIA+, como a Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/Subseção de Anápolis, o Projeto Linhas de Fuga, a Queimada TRIX, o Projeto Absorver, SexTIPS, a Coletiva Manas, a Associação Goiana de Pessoas Trans e a Defensoria Pública de Goiás. Além disso, temos o Núcleo de Estudos sobre Gênero e Diversidade Sexual (Neged/IFG).
Proteção contra crimes de intolerância
O delegado Manoel Vanderic Filho, responsável por três delegacias importantes em Anápolis, atua contra crimes raciais e delitos de intolerância, reforçando a proteção e os direitos da comunidade LGBTQIA+.
Apesar de Anápolis ser uma cidade extremamente religiosa e conservadora, temos visto um crescimento nos movimentos sociais e na luta pelos direitos humanos. É fundamental continuar fortalecendo essas iniciativas, aumentar a conscientização e criar mais espaços seguros para pessoas LGBTQIA+. Iniciativas como as mencionadas são essenciais para construir um futuro mais igualitário e justo para todos.
Céu Abreu é gestora de diversidade, comunicadora, artista visual e palestrante, baseada em Anápolis, Goiás, Brasil. Sua missão é promover a equidade e inclusão da diversidade.