Gustavo Boni Minetto
Por que devemos temer (e lutar contra) a ultradireita?
O capitalismo se faz de crises. Essas crises são cíclicas e servem como novos momentos importantes na acumulação de riquezas por parte dos mais ricos. Sem crises, o capitalismo não sobreviveria. Esses conceitos não são meus, mas de um famoso teórico alemão chamado Karl Marx (1818-1883). Esse nome causa arrepios em parte da população, que já pensa em ter sua casinha financiada, seu carrinho popular tomados pelos “comunistas”. Goste você ou não de Marx, ele é o pensador que melhor compreendeu o sistema capitalista, surgido após o feudalismo.
Não irei me estender aqui nos conceitos marxistas, mas o que nos importa nesse momento é que o capitalismo passa mais uma vez por uma crise. O imperialismo estadunidense está em claro declínio. Prova disso é que os Estados Unidos têm participado de diversos conflitos por todo o globo e não conseguem mais exercer a influência do passado.
No meio escolar, pouco se fala da ultradireita europeia e de como esse passado deveria estar muito vivo em nossas memórias, para nunca nos esquecermos dele. O alemão Theodor Adorno (1903-1969) nos alerta no magistral escrito “Educação após Auschwitz” que nunca deveríamos nos esquecer dos horrores dos campos de concentração, sob pena de termos a volta de tudo aquilo em nosso planeta.
Esse texto, escrito no pós 2a. Guerra Mundial poderia parecer exagerado à época, pois alertava sobre algo que na visão de muitos nunca voltaria a acontecer, tamanho trauma existente na população alemã e em todas as nações que se uniram para derrubar Hitler. A humanidade já acompanhou, despreocupada no início e estarrecida no final a um movimento que agora cresce com intensidade no mundo: os movimentos de ultradireita, notadamente o fascismo e nazismo na Europa.
Agora, voltamos a acompanhar o crescimento assustador da extrema direita (ultradireita) em diversos países no mundo. O que Israel tem feito com os palestinos é igual ou pior ao que foi feito pelos alemães. Na própria Alemanha, a ultradireita retornou ao parlamento em 2017, com o AfD (Alternativa para a Alemanha), partido que se utiliza de símbolos e conceitos nazistas abertamente.
A Itália (berço do fascismo) já tem seu governo mais à direita em décadas. Na França, a Frente Nacional, liderada por Marine Le Pen, esteve a um passo de ter o controle do congresso, e nada parecia ser possível para conter esse processo. Só a mobilização coletiva foi capaz de barrar este movimento que certamente teria repercussão nas democracias da Europa e do mundo.
Na América, recentemente tivemos a eleição de Donald Trump e Jair Bolsonaro, grandes expoentes da extrema direita, defensores dos ideais fascistas, discriminatórios, segregacionistas, racistas. Ambos perderam a disputa pela reeleição, porém com grandes chances de ter seu grupo político de volta ao poder nas próximas eleições. Na verdade, no Brasil a direita não deixou de governar, só não elegeu o Presidente e com o parlamentarismo à brasileira que se desenvolveu por aqui quem tem mandado é o congresso, dominado pelos extremistas.
As escolas não ensinaram e não ensinam algo fundamental sobre os movimentos de extrema direita: sob a falsa bandeira de defesa de “Deus, Pátria e Família” estão princípios totalmente aderentes ao capitalismo, ou em sua atual vertente, o neoliberalismo. Ao capitalismo só interessa atender aos interesses da elite. Aqui, menos de 1% da população pertence a esse seleto grupo.
Então, se você acredita que a direita te representa, tenho uma má notícia: eles representam apenas os interesses econômicos de pessoas que você mal conhece. Quando você defende os bilionários, está defendendo que a classe trabalhadora, a qual você certamente faz parte, seja cada vez mais oprimida e perca os poucos direitos conquistados. A riqueza não se construiu através do trabalho árduo, como querem te ensinar. Veio através de muita exploração, principalmente da mão de obra escravizada aqui no Brasil. As escolas não desmentem esse mito da meritocracia, ao contrário, agora incentivam com diversas aulas de empreendedorismo no “Novo Ensino Médio”.
Retomando as palavras de Theodor Adorno, precisamos recordar urgentemente os horrores vividos na Europa e também aqui com a ditadura civil militar, sob pena de voltarmos a vivenciar estes horrores. A atual juventude, que não vivenciou a Segunda Guerra nem a ditadura, corre sério risco de ser testemunha viva de uma triste história que pode se repetir.