Um dos grandes mitos trazidos pelo capitalismo e em sua versão moderna, o neoliberalismo, é a ideia de que o trabalho produz riqueza. Basta trabalhar duro e se esforçar que você receberá a riqueza como recompensa. Neste ponto de vista, aparecem diversos vendedores de sonhos e ilusões, conhecidos como coaches divulgam uma ilusão messiânica apoiada por diversas religiões segundo a qual se você seguir determinados conselhos e hábitos, você encontrará a riqueza.

O neoliberalismo, impulsionado principalmente pelos governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margareth Thatcher no Reino Unido, criou a ideia de classe média. Hoje, a maioria de nós se considera como “classe média”, embora poucos estejamos realmente nessa tal faixa mediana de renda. Mas, o que é a classe média? É uma iniciativa para dividir a classe trabalhadora, através de uma suposta proximidade entre ricos e pobres. O pobre acredita que através do empreendedorismo pode um dia ser rico e desfrutar de uma vida tranquila financeiramente. Basta esforçar-se.

A meritocracia é uma importante e ao mesmo tempo cruel invenção do neoliberalismo. Todas as conquistas são baseadas no esforço individual. Quem não “chega lá”, é porque “não se esforçou o suficiente”. Por essa razão, o pobre se doi tanto quando se fala dos ricos. Eles se veem lá, pensam que o rico é um deles e que merece a defesa.

Bom, como podemos falar em mérito se saímos de pontos de partida diferentes? Uns possuem melhores escolas, melhores planos de saúde, possuem cor de pele que os favorece nos meios sociais. Outros, não tem nada disso. Então o esforço precisaria ser muito maior para construir riqueza. Porém, existe algo que você precisa saber: o que cria riqueza não é o trabalho duro, não o seu. O que cria a riqueza é a exploração, seja de mão de obra barata (ou até mesmo escravizada), de recursos naturais ou mesmo de incentivos governamentais.

A revista Forbes recentemente publicou uma informação importante: todos os bilionários com menos de 30 anos são herdeiros. Logo, se você não é herdeiro, suas chances de ser rico se reduzem. A grande riqueza dos países do chamado Norte global (países do norte e Austrália) se fez através da exploração dos recursos existentes nas colônias. A França, por exemplo, possui uma das maiores quantias de ouro guardadas, porém é um país de onde não se extrai ouro. A Bélgica provocou mortandades em massa de populações negras, porém nunca houve comoção global. Afinal, tratava-se de pessoas não brancas sendo mortas.

Até mesmo o holocausto judeu teve motivações financeiras. Os judeus sempre foram portadores de muitos recursos e joias. Os alemães aproveitaram desta conveniente “coincidência” para expropriar todos esses bens e continuar financiando o exército alemão na 2ª Guerra Mundial. Alguém pode até vir dizer que conhece alguém que começou do zero, família pobre e conseguiu alguma riqueza. Esses casos que a mídia neoliberal se orgulha em mostrar são exceções e é um grande erro tomar a exceção pela regra. Não é porque um indivíduo conseguiu algo que isso está acessível a todos. É apenas uma enganação do neoliberalismo.

E mesmo essa pessoa que começou do zero, continua na mesma classe social de todos nós. Rico é aquele que não precisa trabalhar, que tem sua riqueza preservada independentemente da situação econômica do país. Os demais pertencemos à classe trabalhadora, que se passar três meses sem trabalhar já passa a ter sua situação financeira ameaçada.

Muitos desavisados defendem a riqueza, pois dizem que ela gera empregos. Temos que ser gratos aos empregos gerados pelos bilionários. O rico precisa do pobre para continuar fazendo crescer sua riqueza. Sem o trabalho, o rico não consegue fazer sua fortuna prosperar. Trabalho sempre há e haverá, ainda que não existam exploradores. Hoje, ganha-se pouco e trabalha-se muito. Se assim não for, o trabalhador poderia exigir trabalhar menos ou ganhar mais e isso reduziria o lucro do empresário. Para existir o rico, é fundamental que exista o pobre e explorado. Se sua família não tem fortuna e não é capaz de explorar a força de trabalho dos trabalhadores, tenho uma péssima notícia: você é pobre e sempre será!

Gustavo Boni Minetto é Mestrando em Educação, Linguagens e Tecnologia pela Universidade Estadual de Goiás. Pesquisa as relações entre o neoliberalismo e a educação. Contato via instagram @gmineto