Editorial 246

Populismo barato, governador como cabo eleitoral e o povo sobrevivendo como dá

Goiás 246
Populismo barato, governador como cabo eleitoral e o povo sobrevivendo como dá

Uma rápida olhada na agenda oficial do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e lá está: apenas entrega de reformas, transferência da capital em comemoração ao aniversário de Goiás, entrega de cartões do Aluguel Social e 133 escrituras do programa “Pra Ter Onde Morar” em Aparecida de Goiânia. À noite prestigia as comemorações pelo aniversário de 166 anos da Polícia Militar. Em outro dia, entrega reforma da capela do Estádio Serra Dourada, em novo dia participa, em Goiânia, da abertura do Congresso Nacional de Comandantes Gerais das PMs.

Apenas eventos formais para prestigiar a população, não fosse a agenda em segundo plano revelada nas redes sociais dos candidatos a prefeito do interior de Goiás. Em um domingo movimentado, o governador oficializou seu apoio a três candidatos no entorno do Distrito Federal. Em Luziânia, Caiado trabalha a favor da reeleição do atual prefeito Diego Sorgatto (UB). Em Valparaíso de Goiás, ele apoia a candidatura de Marcus Vinícius (MDB). Em Santo Antônio do Descoberto, respalda apoio à Jéssica do Premium. Passou também por Anápolis para dizer que sua candidata é Eerizânia Freitas (UB), que é indicada pelo atual prefeito Roberto Naves, presidente estadual do Republicanos.

A agenda de cabo eleitoral das campanhas nas cidades não tem fim, com visita no dia anterior à Inhumas, em apoio a Zé Essado, em Aparecida de Goiânia, apoiando Leandro Vilela, em Trindade apoiando Marden Junior. Vale dizer que além da visita às convenções para apresentação dos candidatos, são feitos vídeos e publicações em seus perfis oficiais. De uso pessoal - alguém correrá para dizer, mas, existe um enorme tempo e material humano e financeiro investido nesse trabalho pelo qual um cabo eleitoral recebe para que seja feito. As custas estão sendo pagas única e exclusivamente pelo União Brasil? (Tomara que sim!) Mas, isso não atrapalha seu trabalho como gestor do Estado?

Ainda assim, é preciso dizer que todo esse esforço para se apresentar como o governador que garante que o candidato fulano é o melhor, pode ser em vão. Governadores definem apoios nas eleições municipais nas capitais, mas o histórico mostra baixa influência. Levantamento do GLOBO feito com base nos resultados dos pleitos de 2016 e 2020 revela que menos de um terço dos prefeitos eleitos tinham o apoio do gestor estadual. No período analisado, os candidatos dos governadores tiveram um resultado eleitoral pior ou igual àqueles que não contaram com o suporte da máquina. 

Parte dessa corrida não tem como base o bem-estar para a população goiana. No entendimento usual político, é importante que um presidente tenha em sua base muitas prefeituras, isso torna o partido mais forte e mais palatável a sua capacidade de implementar seu projeto político nas cidades. Ronaldo Caiado, que tem desejo anunciado de disputar a Presidência, chegou a ser sondado pelo PL para ser filiado ao partido. No entanto, conforme noticiou a colunista Bela Megale, do GLOBO, o ex-presidente considera o goiano um “traidor” por ter defendido o isolamento social e a vacinação durante a pandemia. Mas, insistente, insistente, Caiado não esconde que quer o espólio de Bolsonaro (inelegível até 2030). E afirmou que seu primeiro passo como presidenciável era ter estrutura partidária, ajuste feito e em curso.

Pouco importa se os candidatos serão bons gestores, o que importa nesse momento são as alianças partidárias e ações com viés populista porque podem agradar os mais pobres, como o Aluguel Social em que as pessoas recebem, por 18 meses, um benefício mensal de R$ 350, que auxilia mas não resolve o problema da falta de moradia. Ou como a entrega de cestas básicas recolhidas em festas de custos estrondosos como a Arraiana de Anápolis, que alimenta por uns dias sem garantir a manutenção pelos dias futuros das famílias.

Em ano eleitoral, enquanto governadores, prefeitos e vereadores estão ocupados apenas com a reeleição ou em ser cabos eleitorais (a fim de manter alianças e domínio partidário), o povo sobrevive como dá. Esperando que a renda seja suficiente para as despesas do lar, apesar da maioria da população estar longe dos R$ 8.978,79 considerado o salário mínimo ideal para uma família de quatro pessoas, conforme aponta uma pesquisa da Universidade Estadual de Goiás (NEPE-CeTTeD).

As promessas de campanhas que iriam garantir uma vida melhor, ainda não cumpridas, seguem aguardadas como quem aguarda pelo transporte coletivo sempre atrasado e insuficiente. A ordem é a mesma em todas as instâncias de governo, atender as demandas que ecoam mais forte, como o presidente Lula soltando às pressas uma isenção de imposto de renda aos atletas olímpicos, que não resolve nada na realidade da população mais pobre que está pagando uma alta carga de impostos. A promessa para aumentar a faixa de isenção do imposto de renda ainda não foi cumprida e nem será se depender da boa vontade de deputados que são eleitos por discursos vazios. 

Nem a realidade mudará enquanto tivermos gestores que nem se constrangem por deixar o trabalho para atuar como cabos eleitorais, priorizando sempre seu projeto pessoal de poder em detrimento de aderir políticas nacionais que visam a transformação na sociedade brasileira, superando problemas graves como a violência policial, a falta de moradia, o crescimento da população em situação de rua, a alta carga de impostos para a população mais pobre, entre outros.



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