Editorial 246
O eleitor cada vez mais desinteressado pela política e políticos cada vez mais clichês
Em 2022, o cenário das eleições era de extrema polarização e muita gente deixou de votar. Em setembro daquele ano, uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 40% da população acreditava na possibilidade de ocorrências de violência nos dias de votação. Além disso, 9% afirmou que poderia deixar de votar por medo de ser vítima de violência. Apesar de ainda existir uma tentativa de uso político dessa polarização, tendo em vista ganhar as eleições com o uso da imagem de Lula ou de Bolsonaro, o cenário já não é mais esse, porém, a pergunta persistente é: será que o número de eleitores que vão se abster do voto irá aumentar?
Em 2024, o que se vê cidades afora são candidatos se acotovelando para afirmar que seu lado é o certo enquanto todos os outros são errados, quase como quem diz que são “do mal”, ou se apoiando nas figuras de Lula ou de Bolsonaro, enquanto poucos candidatos não usam esses recursos, e propõem um debate mais sério sobre os problemas vividos na cidade. Assim, o cidadão que está ocupado e tem pouco tempo para ouvir as propostas dos candidatos acaba se esquivando da enxurrada de informações marqueteiras. Surge o tédio de ouvir, eleição após eleição, as mesmas propostas que se tornam clichês porque o resultado prático em sua vida parece nunca chegar. Sempre as mesmas propostas vagas de “melhorar a educação” e as escolas continuam com professores desvalorizados com salários bem longe do teto profissional, com falta de estruturas escolares de qualidade, com falta de merenda escolar de qualidade. Assim, como ocorre em várias outras áreas como saúde, cultura, transporte urbano e por aí vai.
Uma rápida revisão nas eleições anteriores e os números contam melhor essa história. A abstenção em Goiás foi de 21,7% nas Eleições de 2022. Isso representa que 1.057.695 eleitores deixaram de comparecer às urnas. Ao todo, o estado tem 4,8 milhões de eleitores. Desses, 3,8 milhões votaram. Nacionalmente, mais de 32 milhões de eleitores não compareceram às urnas. O nível de abstenção, de 20,9%, foi o mais alto desde as eleições de 1998, quando 21,5% do eleitorado não votou.
Em 2020, na disputa do segundo turno, em Goiânia, mais de 356 mil eleitores se abstiveram de votar. Cabe lembrar que a diferença de votos entre Maguito Vilela/Rogério Cruz e Vanderlan/Wilder Morais, foi de 27.461 votos, um quadro que poderia ter sido totalmente diferente se os eleitores que não votaram tivessem comparecido. Em Anápolis, na disputa do segundo turno, 88.723 eleitores não foram votar. E assim, a diferença de votos entre Roberto Naves/Márcio Cândido e Antônio Gomide/Professora Geli foi de 37.303 votos. Então, novamente o resultado final poderia ter sido outro se não houvessem as abstenções.
Neste ano, já não temos mais o medo das eleições extremadas, que na eleição municipal passada afastou, principalmente, mulheres (71,8%), a população negra (73%) e os eleitores das classes mais baixas (71,5%), por medo de sofrer qualquer tipo de agressão, conforme pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ao Datafolha. No entanto, podemos contar com o tédio por questões nunca resolvidas, e discursos demagógicos que não resultam em nada para a população mais pobre.
Enquanto há o risco da manutenção de altas abstenções, temos cada vez mais candidatos milionários nos pleitos, que conhecem pouco ou nada das necessidades reais da população. Como Sandro Mabel, que foi notícia nacional figurando como líder no ranking nacional de candidatos mais ricos do país, o que nos faz indagar sem entender: quer ser prefeito para quê? Quais os reais interesses? Entende a importância da escola pública na vida da população? Entende os erros graves no transporte urbano da cidade? Entende que a saúde municipal está um caos? Ou a prefeitura está apenas dentro de um jogo maior de poder?
Quem acompanhou os primeiros debates e os primeiros discursos dos candidatos viu que os velhos discos furados já estão rodando novamente. Foram falas vagas e imprecisas sobre a realidade da cidade, na maior parte dos casos. Porque o eleitor irá deixar seu pouquíssimo e escasso tempo de descanso para ouvir quem não tem nada a dizer?