Gustavo Boni Minetto

Não era depressão, era capitalismo

Goiás 246
Não era depressão, era capitalismo

No mês de setembro como é de costume, é trabalhado em escolas, empresas e órgãos públicos o tema do suicídio, o chamado Setembro Amarelo, quando surgem diversas campanhas com o objetivo de “conscientizar” quanto ao suicídio, incentivando pessoas que se sintam depressivas a procurar ajuda. Porém, precisamos ser radicais ao analisar assuntos tão relevantes como esse. Quando uso o termo “radical”, quero dizer que precisamos buscar a raiz do problema. Dessa maneira, é possível analisar mais profundamente a questão e fugir de ideias e opiniões superficiais.

Dados da OMS indicam que até 2030 a depressão será a maior causa da perda de pessoas no mundo. Com números cada vez mais crescentes e que se intensificaram após a pandemia de COVID-19, deve ser realmente considerada como um grave problema de saúde que afeta a população brasileira e mundial. Em 2021, o Brasil tinha 11,3% da população sofrendo de depressão, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com a OMS, após a pandemia, cresceu em 25% o número de casos existentes.

Os pesquisadores também observaram que os casos de depressão são maiores em países pobres em relação a países ricos e que uma pessoa, ainda que viva num país rico, se for pobre, terá maior propensão à depressão. A frase “Não era depressão, era capitalismo” surgiu durante manifestações populares no Chile em 2019. Tais manifestações tinham em seus objetivos a luta contra o atual sistema econômico predominante no mundo e suas consequências. Falamos do capitalismo e em sua atual fase, o neoliberalismo.

O neoliberalismo, sob a máscara de preservar nossa individualidade, prega que qualquer pessoa pode prosperar na vida, desde que se esforce bastante e siga os passos de pessoas que vieram antes e alcançaram o sucesso. Ou seja, no modelo neoliberal tudo é devido apenas ao mérito individual, o que nos leva a pensar sempre de maneira individualista e também a considerar que qualquer insucesso na vida é culpa nossa, somente. Criou-se uma sociedade que olha somente para si e com pessoas que, ao alcançar o sucesso, tendem a pensar somente na prosperidade própria, esquecendo-se das lutas coletivas.

Num contexto como esse, é natural crescerem as ocorrências de depressão e tentativas de autoextermínio. Se sou fracassado, a responsabilidade é toda minha e por isso preciso tomar alguma medida para resolver o problema. A frase dita popularmente “o pobre não tem um dia de paz” é mais verdadeira do que se imagina. O pobre não tem paz. Até porque, se tiver, começará a almejar um futuro melhor, com menos exploração e abusos e isso é ruim para o grande empresário, que lucra menos.

A geração atual é a primeira que crescerá com condições financeiras piores que a dos pais. Se antes nossos pais e avós tinham casa própria, construída muitas vezes sem financiamentos, hoje com muito esforço se compra um apartamento minúsculo com financiamento a perder de vista.

Vivemos hoje em condições muito mais complexas do que as que existiam anteriormente. À falta de dinheiro soma-se a pressão exercida pelas redes sociais por status, sucesso e beleza. Surgem mais e mais produtos e experiências considerados como necessários para sua felicidade. Sem perceber, nos envolvemos numa atmosfera onde estamos sempre querendo mais. Não só coisas grandes, mas também as pequenas. Vivemos uma sociedade exaurida, infeliz e sempre com a impressão de que falta algo para se chegar à felicidade.

Então, quando você ouvir falar de Setembro Amarelo, ou de depressão, lembre-se que a real causa não está dentro do indivíduo somente, mas está na sociedade incapaz de nos dar um dia de paz para que possamos recuperar nossas forças.



Gustavo Boni Minetto é mestrando em Educação, Linguagens e Tecnologia pela Universidade Estadual de Goiás, em Anápolis. Pesquisa as relações entre o neoliberalismo e a educação. Instagram @gmineto



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