Não existe "ex-trans", "ex-travesti", "ex-gay" ou "ex-lésbica". Ou você é, ou nunca foi. Eu costumo dizer que não virei trans do nada, como um Pokémon; nasci, fui criança e cresci assim. Hoje, tenho muito orgulho e sou muito feliz e realizada por ser quem realmente sou. 

Terapia de conversão mata! Não existe cura para o que não é doença. Homossexualidade, bissexualidade e a transgeneridade não são doenças; a tortura psicológica, sim! Quantas vidas ainda serão perdidas com essas terapias de cura em nome de Deus? Isso é cruel e desumano.

Atraídos por extremistas religiosos e políticos da extrema direita, jovens LGBTs estão tirando a própria vida após passarem por "terapias de conversão". Pastores como Flávio Amaral e o trágico caso de Letícia, uma jovem trans que se suicidou recentemente após ser submetida a uma terapia de conversão, são reflexos de práticas e ideologias perigosas que marginalizam a comunidade LGBTQIA. O pastor Amaral é conhecido por promover a ideia de que ser LGBT+ é um pecado que pode ser “curado” por meio de sua interpretação da fé cristã. Ele frequentemente fala sobre sua transformação pessoal, mas sua mensagem e ações têm causado danos psicológicos e emocionais a indivíduos da comunidade LGBTQIA+. Desta vez, algo irreversível aconteceu.

Letícia Maryon, uma jovem travesti de 22 anos, tirou a própria vida após uma “destransição” conduzida por um pastor que prega a cura gay e se apresenta como ex-trans. Karol Eller, uma influenciadora lésbica de 36 anos e pró-extrema direita, deixou uma nota publicada em rede social indicando um possível suicídio: “Renunciei à prática homossexual, eu renunciei vícios e renunciei os desejos da minha carne para viver em Cristo!” havia escrito ela meses atrás.

As religiões ocidentais talvez sejam a maior prova de perseguição à comunidade LGBTQIAP+ que temos na história do mundo. O cristianismo se baseia em uma Bíblia escrita há centenas de décadas para julgar a nossa existência. Ignoram todos os outros pecados estipulados no mesmo livro. Pegam apenas a parte que lhes interessa, permitindo a perseguição à nossa existência. Essas pessoas não querem agradar a Deus; o que desejam é destilar seu ódio e preconceito, protegidos atrás de uma religião milenar que já nos ataca há muito tempo.

A prática de promover “conversões de cura” a pessoas LGBTs pode resultar em penalidades severas no Distrito Federal, incluindo multas de até R$65 mil. Um projeto de lei (PL) protocolado na Câmara Legislativa (CLDF) propõe punições ainda mais rigorosas para essas ações contra a comunidade LGBTQIAP+.

O PL também busca penalizar quem “expor ou coagir a pessoa LGBTQIAP+ em cultos, missas ou sessões religiosas de quaisquer credos a afirmar sua sexualidade, identidade e/ou expressão de gênero, bem como a aceitar tratamento de correção”. É sempre bom lembrar: transfobia é crime! Somos “suicidadas”, e isso precisa ser impedido e denunciado! Os autores devem pagar por esses crimes.

Céu Abreu - comunicadora, gestora de diversidade e inclusão, artista visual, palestrante, baseada em Anápolis - Goiás, Brasil.