Editorial 246

Bolsonaro covarde e omisso, a guerra religiosa da direita e o lavar de mãos do PT goianiense

Goiás 246
Bolsonaro covarde e omisso, a guerra religiosa da direita e o lavar de mãos do PT goianiense

Nesta semana, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vencer em Cristo, deu declarações que caíram como uma bomba no campo conservador. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Malafaia se referiu a Jair Bolsonaro como “covarde” e “omisso” e questionou “que porcaria de líder é esse”, em referência à participação ambígua do ex-presidente na disputa pela Prefeitura de São Paulo. 


As eleições de 2024 trouxeram novos marcos para os conservadores da extrema direita. O pivô de um possível racha entre os dois é Pablo Marçal, candidato que não chegou ao 2º turno, mas que conseguiu votação expressiva e mobilizou parte relevante do eleitorado bolsonarista – incluindo muitos evangélicos, parcela da população a qual Malafaia tem forte influência há décadas. No campo da direita brasileira, está deflagrada a guerra pelas posições de liderança.


Como se sabe, Goiás também é palco dessa disputa de quem é a verdadeira direita entre os candidatos, quem é mais conservador e mais evangélico. O pastor, em sua análise, fez as contas da ação da milícia digital contando que perdeu 1,5% de seguidores na guerra eleitoral com o ataque de robôs de Marçal. Mas, afirma que um líder não age para agradar seguidores das redes sociais, se vai perder ou ganhar seguidores, líder conduz as pessoas, assume erros e corrige a rota.


Mas, falando em erros, o PT de Adriana Accorsi, em Goiânia, fez como Pôncio Pilatos e lavou suas mãos sobre o futuro do goianiense. Mostrando limitada capacidade de diálogo democrático. Pôncio Pilatos, o procurador romano que governava a Judéia na época da crucificação de Jesus é narrado, na fé cristã, como um homem equilibrado e preocupado em ser justo. Seu papel na narrativa da morte de Jesus é de quem não condena alguém no qual não vê crime algum. "Lava as mãos" e deixa que o povo judeu decida pela sentença de morte. Essa é a narrativa dos autores cristãos, enquanto o Pilatos dos autores não religiosos é cruel, sanguinário — alguém que não poupa seus inimigos. Os historiadores afirmam que essa visão simpática de Pilatos se deu porque os cristãos primitivos tinham na aristocracia judaica os seus rivais, aqueles que não aceitavam a nova seita que surgia, afirma o historiador Chevitarese, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)


De igual modo, o PT de Accorsi que agora “lava suas mãos” e deixa que o povo fique à própria sorte, será narrado como justo e equilibrado entre petistas, mas como cruel pela população que acompanha a realidade da capital e as necessidades urgentes de quem sofreu a gestão de Rogério Cruz, nos últimos quatro anos.


Enquanto isso, a direita segue sua disputa de conquista de território nas três cidades mais populosas de Goiás - Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis, com o velho e tradicional “Deus, pátria e família” para atrair o crescente e gigantesco público evangélico, que representam 1 em cada 3 brasileiros, com um aumento de mais 500% em 30 anos no número de templos evangélicos, conforme pesquisa Datafolha e estudos da Universidade de São Paulo. Esse crescimento numérico fez com que muitos templos se transformassem em palanques políticos, mas, ao contrário do que Malafaia simula, não é homogêneo. 


O mesmo Malafaia que ignora todas as acusações que tramitam contra Bolsonaro e que se manteve ao seu lado mesmo quando o ex-presidente temia ser preso, já esteve na campanha com Lula em 2002, quando foi eleito pela primeira vez, tendo José Alencar (PL) na vice-presidência. De lá para cá, o pastor se afastou de Lula por não ter sido protegido em uma investigação da PF sobre lavagem de dinheiro em igrejas, e também pela aproximação do PT com a Igreja Universal do Reino de Deus, naquele momento. Ou seja, não foi por questões ideológicas e morais, conforme aponta Christina Vital da Cunha, professora do Departamento de Sociologia da UFF e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião, em entrevista à jornalista Julia Duailibi.


Se por um lado o PT afirma que é um partido em reconstrução, com um desempenho um pouco melhor do que na última eleição, por outro lado a direita avança mais rapidamente. Nesse momento o cenário mostra que a direita está organizada, enquanto as esquerdas seguem com seus feudos, mas nessa guerra os interesses não são os dos eleitores. Enquanto o PT goianiense lava as mãos, o União Brasil de Caiado chamou o PSB para perto, e este não rejeitou o diálogo.



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