Editorial 246
Interessa quem ganhou ou quem perdeu? Todo mundo perde: Fundão eleitoral, partidos com muito dinheiro e o bolso vazio do povo
Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a um preocupante aumento no valor investido pelo Estado em partidos políticos, um retrato de um sistema que se alimenta de dinheiro público para manter suas operações, mas que, na prática, tem se mostrado excessivamente indulgente com os luxos de seus dirigentes. O uso questionável do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), revela uma falta de bom senso que merece crítica e reflexão.
Ao analisar as prestações de contas de 2021, conforme divulgado pelo Estadão, o dinheiro foi direcionado a gastos extravagantes como voos de jatinho e hospedagens em hotéis de luxo. Um exemplo emblemático disso é o Partido Democrático Trabalhista (PDT), que desembolsou quase R$30 mil para levar seu presidente, Carlos Lupi, e um colega a um encontro da Internacional Socialista em um resort em Cancún. Esta situação levanta questões éticas sobre como os recursos públicos estão sendo manejados e, principalmente, se estes gastos realmente refletem as necessidades da sociedade.
Somente em 2021, os partidos políticos prestaram contas de mais de R$18 milhões em passagens aéreas e hospedagens, além de R$3,1 milhões em jatinhos - uma soma exorbitante que contrasta com a realidade enfrentada por muitos brasileiros. Em 2022, a movimentação de recursos do Fundo Partidário da sigla de Lula foi para jatinhos para viagens de sua mulher, quando recuperou seus direitos políticos. Isso evidencia que o uso indevido dos fundos não é uma exceção, mas uma prática recorrente.
Em uma sociedade com crescente descrédito na classe política, esses gastos exorbitantes exigem uma reflexão crítica sobre a destinação de recursos públicos. O Congresso Nacional destinou R$4,9 bilhões aos partidos para as eleições municipais de 2024, além dos quase R$1,2 bilhão que já foram alocados ao Fundo Partidário neste e no próximo ano. Este montante poderia fazer uma enorme diferença na vida de brasileiros que lutam diariamente com a pobreza, a falta de educação e saúde.
Observando isso, fica evidente que há um desvio de finalidade no uso desses recursos. As despesas com hotéis de luxo e viagens para destinos turísticos não podem ser consideradas normais para o funcionamento de uma legenda partidária. Elas destoam do discurso político que clama pela austeridade e responsabilidade fiscal em tempos de crise.
Enquanto os partidos se apropriam de recursos que deveriam ser voltados para a promoção da democracia e do bem-estar social, as duas maiores legendas do país - PL e PT - se beneficiam de forma desproporcional do sistema, recebendo quase um terço dos chamados "fundos". Os partidos que mais gastaram durante o primeiro turno das eleições de 2024 foram, PL com R$886,8 milhões, seguido de PT com R$619,8 milhões, e União Brasil que gastou R$536,5 milhões. Esta desigualdade na distribuição apenas perpetua um ciclo, onde o poder se concentra nas mesmas mãos, enquanto a população assiste de longe.
É fundamental que os cidadãos e as instituições tomem consciência do uso do dinheiro público e exijam uma maior transparência e responsabilidade das siglas políticas. O Brasil não pode continuar a bancar o luxo e os privilégios de partidos que, em vez de servir ao povo, parecem ter se tornado verdadeiros feudos de interesses particulares. O futuro da política brasileira depende do seu povo, de não tratar política como futebol com disputas de torcidas. Hoje se encerram as eleições municipais e quais serão as promessas não cumpridas dessa vez? Dilma avisou e tinha razão: "Quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar, nem quem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”. Eles - os políticos - irão sempre ganhar, perdendo ou não. E nós - reles eleitores - iremos sempre perder, ganhando ou não.