Agata Lima
Mulheres na política: entre cantadas, apagamentos e o pix como cabresto da vez
Como estudante de economia sempre me propus a estar aberta a viver intensamente todas as experiências que a academia pudesse me proporcionar, tendo em vista o privilégio de experienciar a universidade pública. Sempre fui uma criança atipicamente politizada, pode-se dizer que nasci com o dom da política, feita de acordo com a vontade de Deus. Tive a oportunidade de me filiar ao PSol, partido na qual tive sempre uma grande admiração e me identifiquei desde o primeiro contato.
A priori digo com muita tranquilidade que nunca tive inclinação para me candidatar a qualquer que seja o cargo, no entanto, minha perspectiva mudou quando pude contemplar a possibilidade de realizar uma campanha em um cenário onde o município de Anápolis se encontrava quase que inteiramente entregue a afronesia política, mesmo sabendo da baixa possibilidade de ser eleita como vereadora em primeira tentativa lidando com vários desafios em uma cidade majoritariamente de direita conservadora, com pouco recurso financeiro.
Além de ser uma jovem mulher, finalizando o curso superior, todavia sempre tive a desejo de compreender a profundidade e complexidade do sistema eleitoral, da democracia e como funciona o mecanismo que orienta as políticas e consequentemente nossa vida, por mais que sejamos alheios às verdades e a realidade. Assim tracei como propósito aprender e absorver a maior quantidade de informações sobre candidatura, campanha eleitoral e as eleições, imediatamente eu soube que seria enriquecedor para a minha carreira profissional e acadêmica, e agora de forma exordial, apresento algumas modestas impressões.
Nada saiu como o esperado. Quando falamos de economia, no senso popular as pessoas imaginam uma ciência exata, repleta de cálculos e análises estatísticas, no entanto a economia é uma ciência social aplicada, ou seja, de fato usamos cálculo e estatística, mas em prol dos fatores humanos, repletos de subjetividade e em muitos casos inapto de ser calculado com exatidão. A universidade de fato me deu uma base teórica magnífica para realizar uma ótima campanha, mas jamais me prepararia para os desafios que eu viria a enfrentar pela frente.
O primeiro choque evidente e manifesto é a asquerosa diferença de tratamento entre homens e mulheres. Em diversas vezes precisei pedir silêncio para falar, precisei me posicionar com dureza, e não pensem que estarei tomando lados ideológicos nessa discussão, pois muitas pessoas imaginam que o tratamento hostil às mulheres na política se delimita apenas aos grupos dos liberais conservadores, a política em sí está embebida de misoginia, desde assédio sexual até ataques diretos de misoginia explícita vinda de candidato a vereador, pasmem, de partido aliado, eu pude vivenciar. Além dos velhos enredos de precisar pedir silêncio em momentos de fala, até as famosas ‘cantadas’ na rua ou nas redes sociais enquanto fazia campanha me atormentaram nessa missão.
Nessas eleições, além de candidata a vereadora, também fui presidente de federação, função que me colocou em evidência nos diversos encontros e reuniões em prol da campanha, inquestionavelmente o que sempre me apanhava em pensamento era o fato de ser a única mulher a frente, as cadeiras de representação sempre ocupadas por homens, em sua grande maioria brancos, de meia idade, em contraste comigo, uma jovem estudante, testemunhando a necessidade de mudança da esquerda. Por fim, advirto que as mulheres têm pouco menos de 100 anos de direito de votarem e serem votadas, e ainda temos muito pouco espaço nas mesas de representação, além disso a democracia burguesa está em seu auge, e o pix é o cabresto da vez.