Gustavo Boni Minetto

Combater o racismo é obrigação do negro?

Goiás 246
Combater o racismo é obrigação do negro?

O Brasil e parte do mundo se indignaram esta semana ao saber que Vinicius Junior, grande jogador do Real Madrid não foi escolhido como melhor jogador do mundo. A Bola de Ouro teve como vencedor o espanhol Rodri, do Manchester City. Este texto, porém, não é sobre futebol. É reconhecido que Vini Jr, como carinhosamente é chamado, destacou-se na última temporada e merecia com tranquilidade receber o prêmio, fruto de votação entre jornalistas de 100 países.

Por que então Vini não venceu a eleição? Nos últimos anos ele vem recebendo ataques racistas durante diversas partidas jogadas pelo Real Madrid na Espanha. O racismo não é novidade no futebol. Jogadores tem sido atacados por torcidas adversárias, por outros jogadores, até mesmo árbitros de futebol são pegos referindo-se pejorativamente a jogadores negros.

E assim seria com Vinicius também. Seria apenas “mais um” recebendo o ódio das pessoas apenas pela cor de sua pele. Acontece que o jovem jogador foi diferente. Decidiu se posicionar veementemente contra o racismo e cobrou atitudes das autoridades contra este crime. Sim, racismo é crime e não deve em hipótese alguma ser tolerado.

Tem surgido argumentos para sua não eleição como melhor do mundo. Falam que o vencedor é alguém que cursou universidade, dizem que os dribles dele são ofensivos, ao passo que o goleiro eleito como o melhor faz gestos obscenos, inclusive com os troféus recebidos e é chamado de irreverente, divertido, pela imprensa.

Fica claro que a derrota de Vini não deveu-se somente ao futebol jogado, até porque poderia haver pelo menos uns 10 jogadores à frente do vencedor. Muitos relativizam o que aconteceu, porém nesse caso não é defender um brasileiro, nem dizer que deveria ganhar somente por ser negro. O fato é que perdeu porque era negro. Porém, o ponto que eu, homem branco, que nunca vivenciou o preconceito na vida, quero tocar é o que pessoas privilegiadas como eu tem feito quanto ao racismo. Estamos no mês de novembro, conhecido como “novembro negro”, em mobilização contra todo tipo de racismo.

Hoje, a luta contra o preconceito tem sido feita somente pela população negra. A verdade, no entanto, é que nós brancos deveríamos lutar intensamente para o fim deste abominável crime, pela simples razão de que fomos os brancos que criamos o racismo. Cabe, porém, a nós terminar com ele.

Se você é branca ou branco como eu, deve se perguntar: O que tenho feito para terminar o racismo, criação nossa? Criamos o racismo e nos beneficiamos diariamente com ele, quando um negro é parado numa abordagem policial em nosso lugar, quando um negro é baleado porque corria com um guarda-chuva na mão, quando uma vereadora negra é morta por se posicionar contra as milícias e em infindos momentos.

Cida Bento escreveu o importante livro O Pacto da Branquitude, onde afirma que há um acordo não verbal entre nós brancos, para mantermos nossos privilégios herdados do tempo da escravidão. Nós criamos o pacto e cabe a nós rompê-lo. Vinicius Jr perdeu a Bola de Ouro por lutar contra o racismo, mas poderia não ter perdido se nós brancos estivéssemos cumprindo nosso dever, acabando de uma vez por todas a discriminação em função da cor da pele.

O Dia da Consciência Negra não deve ser apenas um feriado para descanso. Deve ser mais um dia de mobilização de todos nós, para extirpar da humanidade o sentimento de superioridade que temos apenas por termos uma cor de pele diferente.

Que tal começarmos desde já, a começar por hoje, a lutar pela real equidade entre todas as pessoas, independente da cor de pele, gênero ou orientação sexual? Vamos juntos!



Gustavo Boni Minetto é mestrando em Educação, Linguagens e Tecnologia pela Universidade Estadual de Goiás, em Anápolis. Pesquisa as relações entre o neoliberalismo e a educação. Instagram @gmineto



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