Editorial 246
Vitória de Trump, agitação na extrema direita do Brasil e esquerda envelhecida
A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos sacudiu o mundo e trouxe espanto com a reviravolta em sua vida. Em janeiro, poucos dias após o início de sua nova vida como ex-presidente, vivia infeliz e apequenado, auto exilado em seu resort na Flórida quase como um pária duas vezes contrariado. Jogando golfe e chiando sua derrota em 2020 que insistia não ser legítima. Silenciado nas redes sociais após o 6 de janeiro, com o Twitter avisando que seu perfil tinha “risco de incitamento adicional à violência”. Foi mantido longe das câmeras por alguns assessores juniores, e recebeu várias acusações de crimes. Logo depois de anunciar que estava em campanha eleitoral para a presidência, foi jantar com Nick Fuentes, um racista declarado, e Kanye West que demonstrou comportamento antissemita. Trump retardou como pode as acusações que sofreu judicialmente a fim de as manter no centro das atenções. Assim, organizou toda a sua campanha em torno delas, seria ele um herói perseguido e injustiçado em uma campanha que combinava política e entretenimento, e assim venceu.
A vitória lá teve seus ecos aqui e levou a direita bolsonarista às ruas, trouxe Bolsonaro de volta às capas dos jornais que, animado, ressuscitou o já aposentado político Michel Temer sugerindo nomes para compor sua chapa em 2026. 35 deputados federais já compõem uma lista da comitiva que estará na posse de Trump, 26 desses são do PL, onde a euforia é evidente. Nem parece que nas vezes em que o ex-presidente Bolsonaro esteve com Trump este foi completamente indiferente.
Enquanto ocorre o clima de festa no Brasil, os mais empolgados respondem às matérias que anunciavam a vitória de Trump nos jornais dizendo que “ninguém aguenta mais a cultura woke”. "Woke" e outros termos tiveram uma forte presença no debate online nos EUA. O uso do termo "woke" surgiu na comunidade afro-americana, e queria dizer "estar alerta para a injustiça racial". Mas, seu uso se espalhou para além da comunidade negra e passou a ser empregado com significado mais amplo. Assim, algumas pessoas se autodefinem com muito orgulho como alguém woke, ou atento contra a discriminação e a injustiça, outros utilizam o termo como insulto. Os críticos da cultura "woke" questionam principalmente os métodos coercitivos adotados por pessoas que eles acusam de ser "policiais da linguagem" — sobretudo em expressões e ideias consideradas misóginas, homofóbicas ou racistas.
Sobre a vitória de Trump, especialistas em política estadunidense dizem que partidos tendem a ter dificuldade em se reeleger, e isso é uma tendência global, também a inflação pós-pandemia que afetou muito os mais pobres, uma instabilidade global, e a insegurança dos homens foram fatores que somaram positivamente para sua vitória. Os homens se sentem ameaçados pela igualdade de gênero por causa do aumento nos índices de desemprego e adoecimento estatístico da população masculina. Assim,Trump conseguiu mais apoio na população onde há menor formação universitária e isso inclui grupos minoritários, homens pretos, imigrantes e latinos. Pelo medo do desemprego a pauta de gênero se torna aversiva.
O avanço da extrema direita sinaliza uma contradição em que há um diálogo estabelecido por ela, em que o fim do avanço dos direitos das mulheres e de grupos minoritários, se encontra a solução para manter os empregos tradicionalmente ocupados por homens, e isso inclui homens negros e imigrantes. Apesar da política estadunidense ser completamente diferente da brasileira, essa força ecoa aqui apesar da enorme contradição de, enquanto latino-americanos sermos desfavorecidos nessa perspectiva trumpista, ainda assim existe uma identificação de boa parte da população com a rejeição de pautas progressistas.
Enquanto isso, parte dos progressistas estão em debate após as eleições municipais deste ano, que por conta do resultado considerado fraco passou a discutir mudanças internas. Com escassas lideranças mais jovens, ao contrário da direita e extrema direita, os partidos estão recheados de políticos com idade avançada e nepo babies, filhos de alguém famoso ou herdeiros de sobrenomes políticos, tal qual Zeca Dirceu, que apesar de ser PT, poucos dias atrás associou bolsa família com falta de coragem para querer trabalhar. Apresentando assim, candidatos que em nada se diferem dos políticos tradicionais do centrão, que não apresentam nenhuma solução para os problemas reais da população. Ou são os velhos dinossauros do partido que insistem em manter seu protagonismo, apesar de históricos sombrios que envolveram seus nomes em movimentações escandalosas de dinheiro, que em certos casos tem relação até com apropriação de merenda escolar, ainda assim, querem capitanear as ações como quem detém a propriedade ou se a renovação fosse impossível sem sua tutela. É assim, repetindo os velhos, que o discurso caduca e o disco está cada dia mais furado.
Seja como for, enquanto os partidos calculam as peças para o xeque-mate de 2026, e bolsonaristas marcham diante das estátuas da Havan, a classe política da direita e da extrema direita se organiza para frear avanços nos direitos trabalhistas, derrubando a pauta do fim da escala 6x1, que daria melhor qualidade de vida para trabalhadores CLT e, luta para manter a falta de transparência das emendas parlamentares em favor de si mesmos.