Editorial 246
Bolsonaristas fugindo da culpa e Caiado, o herói fake, estrelando a queda de Goiás no ranking de segurança pública
Era uma quarta corriqueira em Brasília, o Congresso e o Judiciário seguiam cada qual suas agendas. No STF as pautas do dia eram o julgamento que discute a letalidade policial nas operações em comunidades pobres do Rio de Janeiro; a ação penal que envolve Fernando Collor de Mello, condenado por crimes relacionados à BR Distribuidora; e o recurso que discute a validade de prova obtida a partir de revista íntima de visitante em estabelecimento prisional. Nesse dia discutia-se também que o governo federal adote imediatamente medidas para impedir o uso da Bolsa Família e BPC em jogos de apostas, e no Congresso corria a entrada do fim da escala de seis dias de trabalho e um de descanso como Projeto de Emenda Constitucional.
Enquanto isso, um desconhecido executava seu plano de redenção da pátria, planejado por meses e deixando para trás mensagens endereçadas a Lula e ao então inelegível ex-presidente Bolsonaro, demonstrando que em seu peito carregava sonhos de herói. A atitude de Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiü França, resultou apenas em: sua própria morte e a eliminação das chances de anistia para os golpistas do 8 de Janeiro.
Imediatamente após o ataque, mensagens trocadas entre deputados bolsonaristas em dois grupos de WhatsApp indicavam essa percepção. O consenso era de que, se Tiü pretendia colaborar, só acabou complicando a situação. O deputado goiano Gustavo Gayer (PL), afirmou que o autor seria mesmo um ex-candidato a vereador pelo PL: "Parece que foi esse cara mesmo. Agora vão enterrar a anistia. Pqp". Depois se apressou nas redes para diagnosticar adoecimento mental e a ausência de qualquer vínculo entre Tiü e o bolsonarismo. Mas, a filiação ao PL e suas redes sociais demonstram o contrário. Não colou para ninguém a tese de que o atentado foi um ato isolado. Por mais que estivesse sozinho, se moveu seguindo a agenda dos discursos bolsonaristas, sobretudo do líder maior, Bolsonaro.
No livro “O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos”, o sociólogo Jessé Souza mostra a "síndrome do Coringa" e como ela afeta os setores da sociedade identificados com o bolsonarismo no Brasil e com a extrema direita no mundo. Jessé fala da "fuga na fantasia" desse "humilhado" que se sente abandonado pela sociedade e pelo Estado. Enquanto o Coringa do cinema fantasia que namora a vizinha, tem delírios de fama e sucesso, o Coringa da Esplanada fantasiava "libertar" o Brasil dos inimigos imaginários que o bolsonarismo plantou nele.
Falando em fantasia, horas depois o governador Ronaldo Caiado disparou bravatas em torno da explosão em Brasília, de acordo com ele, o governo de Lula “se omite” de problemas da sociedade brasileira e “se ajoelha diante do avanço do crime organizado e do extremismo”. E emendou afirmando que “com a falta de comando no país, na ausência de um líder forte, o extremismo e o crime organizado avançam”. A primeira fantasia de Caiado é que Goiás não tem problemas com segurança, porque ele resolveu tudo, a segunda é que ele é esse líder forte que salvará o país de todos os seus problemas. Na realidade, a síndrome de grandeza deste parece com a do Coringa da Esplanada, que imagina em seus delírios que é algum salvador do país.
Caiado, o autointitulado candidato à presidência, se mostra pouco republicano, rejeita a visita de um prefeito goiano eleito neste ano, esconde a verdade de que Goiás caiu duas posições no ranking de segurança, e ainda comparece a reuniões com outros governadores só para ter vídeos virais que deem visibilidade nacional à sua campanha para 2026, em lugar de colaborar para melhorias nas capacidades que têm como governador, as quais incluem o comando da segurança no Estado de Goiás. E assim, nem é bom governador para Goiás, muito menos bom candidato para presidir o país.
Seja como for em 2026, neste 2024 o Brasil dos Três Poderes, corre democraticamente com aplausos da população com as discussões pela alteração da jornada de trabalho e o fim da escala 6x1, além da discussão no STF por mais transparência nas emendas parlamentares e a extrema-direita revelando sua nudez nada popular, escolhendo se colocar ao lado de quem lucra com a escala 6x1. A semana também teve o registro da deputada goiana Silvye (União) dizendo que “folga do trabalhador” é assunto menos importante. Cabe avisar a nobre deputada que para a maior parte dos brasileiros só resta um dia para pensar em saúde mental, para cuidar dos filhos e viver com a família, então essa discussão é muito mais do que discutir folga.