Falta de mão de obra qualificada já afeta 40% das profissões que mais empregam no País
Na semana passada, quem passou pelo centro de São Paulo presenciou uma cena atípica: a habitual fila de desempregados no Vale do Anhangabaú, que buscavam uma oportunidade no Mutirão Nacional do Emprego, não se formou. Pela primeira vez desde 2018, o evento, promovido pela União Geral dos Trabalhadores (UGT) e o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, apresentou mais vagas do que candidatos, sendo chamado de "mutirão do pleno emprego".
Durante os cinco dias do evento, 3.580 trabalhadores compareceram, menos da metade dos 7.400 participantes da primeira edição. Apesar do recorde de 25.046 vagas oferecidas, apenas 200 foram preenchidas no local, menos de 1% do total. Esse resultado reflete a atual dificuldade das empresas em encontrar trabalhadores qualificados. A taxa de desemprego de 6,9% no trimestre encerrado em junho foi a menor dos últimos dez anos, segundo dados do IBGE.
O cenário de escassez de mão de obra já afeta 40% das profissões que mais empregam formalmente no país, conforme estudo da CNC. Profissões no setor de serviços e construção civil são as mais impactadas. O economista da CNC, Fabio Bentes, destacou que 92 das profissões que mais empregam apresentavam sinais de escassez em junho de 2024, com salários crescendo acima da média do mercado e aumento no número de trabalhadores.
A situação é crítica especialmente nos setores de alimentação e alojamento, onde os salários estão subindo, mas as contratações não acompanham o ritmo. Estudos indicam que a demanda por mão de obra qualificada também é alta em indústrias, comércio, transporte, tecnologia, finanças e administração pública. Empresas como Pernambucanas e Grupo GR relataram dificuldades em contratar, mesmo com ofertas salariais elevadas.
O perfil dos candidatos ao mutirão também mudou, com mais trabalhadores experientes, aposentados e pessoas buscando uma segunda fonte de renda. O evento destacou a crescente complexidade do mercado de trabalho brasileiro, onde a escassez de mão de obra qualificada se torna um desafio central para as empresas.