Pesquisa indica que um número significativo de idosos faz uso de medicamentos potencialmente perigosos na terceira idade


Pesquisa indica que um número significativo de idosos faz uso de medicamentos potencialmente perigosos na terceira idade Reprodução

Uma pesquisa revelou que 71,8% dos pacientes com mais de 60 anos internados em uma unidade hospitalar brasileira estavam utilizando pelo menos um medicamento potencialmente inapropriado (MPI). Essa sigla refere-se a substâncias comuns que podem impactar negativamente a saúde dos idosos. O estudo foi conduzido pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e publicado no Journal of the American Medical Directors Association (JAMDA).


Um dos medicamentos mais frequentemente mencionado no estudo foi o omeprazol, indicado para problemas gastrointestinais e facilmente encontrado em farmácias. Segundo Pedro Curiati, geriatra do Núcleo de Medicina Avançada do hospital e autor da pesquisa, "se o paciente tem refluxo ou úlcera, deve usá-lo. No entanto, observamos muitas pessoas tomando preventivamente ou por prescrição automática do médico, sem uma real indicação."


O médico alerta que o uso desse medicamento pode aumentar a probabilidade de problemas cognitivos no futuro e também há evidências de que ele compromete a absorção de vitamina B12. “Em pacientes internados, a diminuição da acidez do estômago (como a provocada pelo remédio) pode aumentar bactérias e gerar uma pneumonia por broncoaspiração quando a pessoa tem refluxo”, acrescenta. Ou seja, é um remédio comum, mas que oferece riscos importantes na terceira idade e, por isso, a prescrição deve ser criteriosa.


Curiati enfatiza que a prescrição deve ser adaptada às necessidades de cada paciente. "Precisamos analisar os efeitos do medicamento e seus danos colaterais. Temos que checar cada condição para saber se há outro tipo de tratamento ou se o benefício vale mais a pena do que o risco”, descreve.


Os dados foram coletados com o auxílio de uma inteligência artificial que analisou quase 15 mil internações no Hospital Sírio-Libanês. Sempre que um profissional prescrevia um medicamento potencialmente inapropriado (MPI) para idosos, ele recebia um alerta para revisar o prontuário, considerando os riscos clínicos associados aos pacientes internados.


Quais são esses riscos?


O médico esclarece que, em geral, quando as prescrições geravam alertas, os pacientes tendiam a ter internações mais prolongadas, além de enfrentarem um maior número de eventos adversos e complicações, como quedas, confusão mental e até risco de morte.


Foram analisados 10.038 pacientes com mais de 60 anos entre agosto de 2022 e julho de 2023, resultando em 14.560 admissões hospitalares (alguns pacientes foram internados mais de uma vez durante esse período). Dentre essas admissões, 10.461 geraram um alerta de medicamento potencialmente inapropriado (MPI), ou seja, 71,8% do total.


De acordo com Lincoln Marques, farmacêutico clínico e doutorando da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da Universidade de São Paulo (USP), e que não participou do estudo, a responsabilidade de monitorar esses medicamentos geralmente recai sobre a equipe de farmácia.


Ele informa que os riscos de eventos adversos aumentam com a idade, a forma de manipulação e o estado geral do paciente – quanto mais debilitado, maior será o risco. Medicamentos venosos, por exemplo, tendem a ser mais danosos do que comprimidos.


Na opinião de Curiati, médicos que não são especializados em geriatria tendem a subestimar os riscos potenciais e mostram mais resistência em trocar medicamentos. Em sua pesquisa, ele notou que a maioria dos pacientes foi admitida no pronto atendimento, onde atuam médicos plantonistas. Dentre os pacientes cujo prontuário gerou o alerta, 57% receberam indicações de medicamentos inapropriados nessa área do hospital. 


A principal justificativa apresentada por esses médicos era que os idosos já estavam em uso contínuo de algum desses medicamentos.  “Apesar disso, a presença dos alertas no sistema identificou uma parcela de pessoas internadas bem mais frágil, com mais comorbidades e maior tempo de internamento”, diz o geriatra. 


Os médicos que prescreveram essas medicações só precisavam justificar suas escolhas quando o alerta era considerado muito grave; em casos de menor risco iminente, essa justificativa não era necessária. Curiati espera que, a partir desses resultados, outras áreas médicas além da geriatria comecem a prestar mais atenção na prescrição de medicamentos para pacientes na terceira idade.




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