Mulheres foram cruciais para conter aliados de Bolsonaro em Goiânia e outras duas capitais
O eleitorado feminino, segmento que é maioria entre os que estão aptos a votar, atuou como uma “barreira de contenção” a candidatos mais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em disputas de segundo turno das eleições municipais nas quais o campo bolsonarista acabou derrotado por nomes mais moderados de centro ou de direita. É o que sugerem as pesquisas de véspera feitas pela Quaest em Goiânia ,Belo Horizonte, e Curitiba.
Os levantamentos mostram que, enquanto os homens se dividiam entre os candidatos a prefeito, o eleitorado feminino dava vantagem, um dia antes do pleito, a rivais dos aliados de Bolsonaro que acabaram eleitos. Em Goiânia, Sandro Mabel (União), candidato do governador Ronaldo Caiado (União) que acabou eleito, aparecia 17 pontos à frente do bolsonarista Fred Rodrigues (PL) entre as mulheres, mas empatava entre os homens (44% a 41%). Eleito em Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), aliado do governador do estado, Ratinho Júnior (PSD), também liderava no segmento feminino (55% a 34%), mas aparecia em empate técnico no masculino (44% a 42%) com a jornalista Cristina Graelm (PMB), que recebeu aval de Bolsonaro.
Na capital mineira, na qual o prefeito Fuad Noman foi reeleito, o nome do PSD tinha vantagem de 12 pontos percentuais (49% a 37%) entre as mulheres frente ao bolsonarista Bruno Engler (PL), enquanto, entre os homens, havia um empate técnico, com Engler numericamente à frente (45% contra 43%).
Além de representar derrotas pessoais para o ex-presidente — Bolsonaro se envolveu diretamente na reta final das eleições de Belo Horizonte e Goiânia e decidiu apoiar Cristina Graelm, apesar de o PL ter indicado o vice da chapa de Eduardo Pimentel —, o cenário reforça a dificuldade do bolsonarismo para conquistar a adesão das eleitoras. Na disputa de 2022, quando acabou derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro também enfrentou forte rejeição entre as mulheres.
O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, avalia que os resultados no pleito municipal reforçam que o eleitorado feminino é mais moderado.
— São as mulheres que estão sempre preocupadas com as discussões mais reais da cidade, por serem maioria entre os usuários do serviço público. — destaca. — Os moderados vencedores nestas capitais já eram prefeitos ou tinham relação com os incumbentes, e não com o radicalismo da direita. Essa relação direta faz com que o candidato queira discutir os problemas do município, como a vaga na creche e o sistema de saúde.
Estratégias adotadas
Uma estratégia recorrente no campo bolsonarista durante a campanha foi lançar mão da imagem da primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e da própria família do candidato para se aproximar do eleitorado feminino. Em Goiânia, Fred Rodrigues tratou, por exemplo, sobre o diagnóstico de esclerose múltipla da companheira em uma propaganda na TV.
Parte dos candidatos bolsonaristas também buscou modular posições sobre pautas mais identificadas com a direita radical nos últimos anos. Foi o caso de Engler, em Belo Horizonte. Apesar de ser aliado de primeira hora de Bolsonaro, ele adotou um tom mais ameno durante todo o pleito e terceirizou os ataques a Fuad.
Já Cristina Graeml foi na estratégia oposta em Curitiba. Além de apelar à imagem do ex-presidente, que demonstrou simpatia por sua candidatura, Graeml reforçou pautas caras ao eleitorado de Bolsonaro, como a proposta de criar um “instituto pró-vida” para desestimular o aborto mesmo em casos previstos em lei.
— As mulheres têm rejeitado a violência que a extrema direita apresenta como solução para os problemas. Por isso, optaram por candidatos da direita tradicional nestas três cidades e por programas que combatam esse extremismo — conclui o cientista político Josué Medeiros, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).