Dirceu emerge como articulador do PT e é visto por aliados como peça fundamental para Lula em 2026
A reabilitação política do ex-ministro José Dirceu dará um “novo rumo” ao PT no momento em que a legenda inicia as discussões sobre a sucessão no comando do partido, preveem aliados do ex-homem forte do primeiro governo Lula. Dirceu também retorna aos holofotes num cenário em que o governo admite a necessidade de caminhar para a centro-direita para ter mais chances de viabilizar o quarto mandato de Lula nas urnas em 2026.
O primeiro movimento da reaproximação de Lula com Dirceu ocorreu há pouco mais de um mês, quando ambos estiveram juntos em Brasília. O encontro foi mantido em sigilo e acompanhado por um auxiliar. Segundo aliados, foi a primeira conversa tête-à-tête de ambos em um intervalo de dois anos.
Petistas veem Dirceu como peça-chave para costuras de alianças a fim de evitar que siglas de centro-direita caminhem juntas com uma chapa bolsonarista. Segundo esses correligionários, o que o credencia à tarefa é o fato de ser um dos poucos quadros do PT que tem diálogo com a esquerda, direita, centro e até nomes da extrema direita. Em entrevista à GloboNews, Dirceu sintetizou a relevância dessas legendas para 2026:
— Lula é candidatíssimo e, para nós, é ele quem realmente organiza e simboliza uma linha histórica de projeto de desenvolvimento nacional e justiça social. A liderança é ele. Queremos organizar e eu acredito que o MDB é um pouco chave disso aí. Talvez o MDB e o União Brasil se diferenciem.
Reconstrução partidária
Na disputa interna pelo comando do PT a partir de 2025, Dirceu integra o grupo que defende a candidatura de Edinho Silva. Essa ala é liderada pelo próprio presidente, pelos ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Fernando Haddad (Fazenda). Dirceu admite publicamente que quer contribuir no processo de renovação do partido e aponta caminhos.
— O PT precisa ter projeto de reconstrução partidária, sede em todas as cidades, mais trabalho com a juventude, mais trabalho no território — disse à GloboNews.
A interlocutores, Dirceu avalia que o prefeito de Araraquara tem o melhor perfil para liderar a renovação da legenda nessa nova fase do partido, com o PT ocupando o Palácio do Planalto e em governo de frente ampla, que pretende manter diálogo com empresários, entidades e diferentes partidos políticos. Para o ex-ministro, Gleisi Hoffmann cumpriu papel fundamental de manter a militância unida na pior fase da legenda e segurar a onda no período em que Lula esteve preso.
A novidade da reabilitação política também é vista com o potencial de causar um “tsunami” interno uma vez que interfere na correlação de forças de dois grupos que estão em atrito; Gleisi de um lado e Padilha de outro. Uma ala vê problemas no atual comando enquanto outra acha que a articulação política do governo é um fracasso. Dirceu faz parte do primeiro grupo que entende que o partido precisa fazer uma ampla discussão e pensar em estratégias para se reaproximar das bases.
Dirceu também quer disputar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2026. Ele teve seu mandato cassado em 2005 em meio ao escândalo do mensalão e agora vê como questão de justiça retornar à Casa ao completar 80 anos.
Na terça-feira, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, anulou as condenações do ex-ministro na Lava-Jato. O magistrado considerou o ex-juiz Sergio Moro suspeito ao praticar atos contra Dirceu, mesmo entendimento aplicado em relação ao presidente Lula.