EMS retira proposta à Hypera; entenda
A Hypera comunicou, na noite de quarta-feira, 30, em um fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que a EMS retirou a proposta de oferta pública de aquisição de ações e combinação de negócios apresentada à empresa em 21 de outubro. A decisão seguiu a rejeição unânime do conselho de administração da Hypera, que ocorreu dois dias após a proposta. Nesta quinta-feira, 31, as ações da Hypera caíram 8,3%, marcando uma das maiores quedas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, em outubro.
As ofertas hostis de aquisição, comuns nos Estados Unidos, ainda enfrentam mais insucessos do que sucessos no Brasil, como demonstrado pela retirada da proposta da EMS. Desde a pandemia, dos nove negócios divulgados, sete não foram concretizados.
Tradicionalmente, as empresas contratam bancos de investimento para realizar aquisições ou fusões, abordando potenciais alvos e negociando termos, com a necessidade de aprovação da diretoria e do conselho. Em uma oferta hostil, a empresa faz a proposta diretamente ao mercado, podendo assumir o controle da concorrente sem a aprovação da administração, por meio da compra de ações de outros acionistas.
Vários fatores dificultam a concretização desse tipo de negócio no Brasil, como preço considerado baixo, resistência de acionistas ativistas e até famílias sócias se sentindo traídas. Esse foi o caso da primeira tentativa da Arezzo de fusão com a Hering em 2021, onde a família se opôs à proposta não solicitada e ao preço. A Hering acabou se fundindo com outro concorrente, o grupo Soma, mas a Arezzo retornou ao mercado e este ano se fundiu com o Soma.
João Alves de Queiroz Filho, fundador da Hypera, chamou a proposta da EMS de "absolutamente hostil", enquanto Carlos Sanchez, da EMS, defendeu que não havia hostilidade na oferta. O conselho da Hypera votou por unanimidade contra a proposta não solicitada, alegando que o preço ofertado subestimava significativamente o valor da empresa. Eles também mencionaram diferenças de cultura organizacional e estratégias como razões para a rejeição. A EMS retirou a proposta, mas expressou interesse em futuras negociações.
Em outro caso, a Eneva não conseguiu se fundir com a Vibra, após uma proposta "de fusão de iguais" em novembro de 2023, que foi rapidamente rejeitada pela ex-BR Distribuidora, que considerou o preço baixo. Embora houvesse novas propostas, as negociações não avançaram, com a Vibra, maior distribuidor de combustíveis do Brasil, incomodada com as usinas de carvão e óleo combustível da Eneva. Em 2020, a Eneva tentou uma fusão com a AES Tietê, também sem sucesso, mesmo aumentando a proposta.
O setor de petróleo também viu uma tentativa recente de oferta não solicitada que não avançou. A 3R tentou se fundir com a PetroRecôncavo, mas o negócio não se concretizou. A Enauta entrou no processo e acabou se fundindo com a 3R.
No exterior, a tentativa de aquisição hostil do Commerzbank, um dos maiores bancos da Alemanha, pelo italiano UniCredit, gerou discussões no governo. O chanceler Olaf Scholz declarou que aquisições hostis não são adequadas para os bancos.
Estimativas do escritório americano Wachtell, Lipton, Rosen & Katz indicam que fusões e aquisições hostis ou não solicitadas representaram cerca de 8% dos negócios globais em 2023, movimentando US$ 2,9 trilhões. A maior parte dessas operações ocorre nos Estados Unidos, onde esse tipo de transação é mais comum devido ao maior número de empresas abertas e ao fato de muitas serem "corporations", sem um controlador definido.