Produtos prometem 'melhorar' a vulva. Precisa?

O GLOBO
Produtos prometem 'melhorar' a vulva. Precisa? Muitas mulheres desejam mudar ou mascarar aspectos naturais da vagina, um movimento que pode impactar na saúde física e sexual — Foto: Reprodução/Freepik

A rotina de cuidados com a pele, conhecida como "skincare", se expandiu nos últimos anos para incluir o nicho do "autocuidado íntimo", que foca nas necessidades específicas da vulva. Esse crescimento trouxe uma variedade de produtos ao mercado, como desodorantes, perfumes, cremes e hidratantes para a região íntima. Apesar das intenções positivas, essa tendência pode aumentar a insegurança das mulheres em relação ao próprio corpo e levá-las a usar produtos que podem ser prejudiciais à saúde vaginal.

Nas redes sociais, o tema ganha destaque, com hashtags como #femininehygieneproducts e #femininehygiene acumulando milhões de visualizações no TikTok. Esses conteúdos, frequentemente focados em beleza, abordam técnicas para disfarçar odores íntimos e modificar a aparência da vulva, como remoção de pelos e até "desintoxicação do útero".

A ginecologista Carolina Alves explica que a vagina tem um pH ácido natural, que protege contra infecções. O uso de produtos íntimos pode alterar esse pH, tornando a região mais suscetível a infecções. Ela afirma que a área íntima tem a capacidade de se "autolimpar", sendo a água e o sabão neutro suficientes para a higiene.

— Muitos produtos contêm álcool e outros ingredientes que podem causar desconforto e irritação, especialmente para quem tem pele sensível — alerta Alves.

A sexóloga Mariah Prado, que já enfrentou inseguranças relacionadas à sua própria genitalidade, observa que muitos produtos que prometem disfarçar odores são desnecessários. Ela conta que, ao descobrir que seu odor natural era normal, deixou de lado esses produtos artificiais.

Uma pesquisa realizada pela marca Intimus em 2020 revelou que 68% das brasileiras não estão satisfeitas com a aparência de sua vulva, sendo os pelos, a cor e o odor os aspectos que mais as incomodam. Além disso, 25% das mulheres não costumam tocar ou observar a região.

Clariana Leal, educadora sexual, destaca a importância do autocuidado consciente. Embora seja bom que as mulheres se preocupem com sua intimidade, é fundamental que isso não se transforme em uma obsessão por produtos que não são realmente necessários.

— Precisamos ficar atentas ao crescente número de produtos que visam fazer as mulheres parecerem “melhores”. A disparidade entre os cosméticos femininos e masculinos é alarmante — observa.

Alves reforça que a busca por mascarar odores naturais pode impedir as mulheres de perceberem alterações que requerem atenção médica. O odor vaginal, por sua vez, é parte da comunicação sexual, uma maneira de expressar atração.

A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, Laura Meyer, também alerta que o uso de perfumes para a vulva pode prejudicar a saúde íntima e a segurança durante o sexo.

— O cheiro natural pode ser excitante para parceiros que apreciam isso — afirma.

As especialistas concordam que a flora vaginal é delicada e deve ser mantida em equilíbrio. Produtos que prometem modificar odores e aparências podem desregular essa flora, levando a problemas de saúde.

Mariah Prado, agora segura de si, incentiva que as mulheres explorem sua intimidade de maneira saudável, reconhecendo a singularidade de cada vulva.

— Não existe uma vulva "certa" ou "errada". Cada mulher é única, assim como seus órgãos genitais. É essencial apreciá-los — recomenda.

A educadora Clariana Leal sugere um exercício de "mapeamento da vulva", onde a mulher pode tocar e se familiarizar com sua própria anatomia. Essa prática ajuda a desconstruir padrões estéticos impostos e promover um autoconhecimento positivo.

— Conhecer a própria intimidade é um processo gradual e deve ser feito com curiosidade — conclui Clariana.




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