Plano de deportação em massa de Trump pode trazer 230 mil brasileiros ilegais de volta ao Brasil
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conquistou a vitória com discursos contundentes contra a imigração, prometendo até mesmo a deportação em massa de milhões de estrangeiros que residem ilegalmente no país, incluindo brasileiros.
De acordo com uma pesquisa, estima-se que 230 mil brasileiros estejam vivendo ilegalmente nos Estados Unidos. Um levantamento do Pew Research Center, divulgado em julho deste ano, revela que esse número representa um aumento de 30 mil em comparação ao ano anterior.
Os Estados Unidos são o principal destino dos migrantes brasileiros, com 1,9 milhão de brasileiros residindo lá, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. Em segundo lugar, está Portugal, onde vivem 360 mil brasileiros, seguido pelo Paraguai, com 254 mil imigrantes brasileiros.
Rodrigo Costa, CEO da Viva América e especialista em imigração, afirma que os brasileiros que residem nos EUA não precisam temer deportações, desde que consigam comprovar que estão dentro das condições de seus vistos, seja para trabalho ou estudo. "O grande desafio da imigração é manter seu status válido", complementa.
"Imigrantes não documentados vão sofrer pressão real", diz especialista. Costa alerta que estão em risco as pessoas que vivem nos Estados Unidos sem documentação. Isso inclui estrangeiros que entraram no país com visto de turista ou de forma ilegal, mas que acabaram se estabelecendo.
Costa afirma que "imigrantes qualificados" serão bem-vindos nos Estados Unidos. "Hoje há um número de vagas de trabalho disponíveis aqui nos Estados Unidos que não conseguem ser preenchidas por americanos. E a única maneira de se preencher essas vagas de trabalho é através do imigrante qualificado", diz Rodrigo Costa, CEO da Viva América, empresa especializada em imigração de brasileiros aos Estados Unidos.
Os Estados Unidos necessitam de imigrantes em diversas áreas, como Tecnologia da Informação, engenharia, energia, logística e saúde, segundo a Viva América.
A plataforma republicana pode aumentar a presença de brasileiros no país. Apesar das críticas dos republicanos em relação à imigração durante a campanha, Costa acredita que, com a vitória expressiva do partido nas eleições, haverá um aumento no número de oportunidades de emprego.
Donald Trump prometeu conceder "green cards" a estudantes estrangeiros no primeiro dia de seu mandato. Em junho deste ano, ele afirmou em um podcast que os estudantes universitários estrangeiros deveriam receber um green card, ou cartão de residência permanente, ao se formarem.
"Se isso vai acontecer ou não é outra história, mas isso é um discurso de campanha", diz Rodrigo Costa.
O green card não equivale à cidadania. Ele comprova que uma pessoa reside permanentemente nos Estados Unidos e permite o acesso a alguns direitos, como educação pública e previdência social. No entanto, o portador do cartão não é considerado cidadão americano. "O green card é um passo anterior à cidadania", explica Costa.
Em 2023, o Brasil foi o décimo país que mais recebeu green cards. Dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA revelam que 28.050 documentos foram emitidos no último ano, o maior número já registrado na história.
Trump prometeu realizar a "maior operação de deportação doméstica da história americana", visando expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais, conforme estimativa da revista Time. A estratégia envolve encurtar os processos de deportação, permitindo expulsões sem as audiências que são atualmente exigidas por lei.
O republicano afirma que essa medida melhorará os salários dos americanos, mas os efeitos podem ser desastrosos. A remoção abrupta de milhões de imigrantes provavelmente causaria instabilidade econômica, especialmente em setores que dependem fortemente da mão de obra ilegal, como agricultura e turismo.
Para cumprir essa promessa, Trump planeja gastar bilhões de dólares. O custo para deportar um milhão de imigrantes ilegais por ano seria superior a US$ 88 bilhões (R$ 502,3 bilhões em valores atuais), totalizando cerca de US$ 967,9 bilhões (R$ 5,5 trilhões) ao longo de mais de uma década, segundo um relatório do Conselho Americano de Imigração.
O presidente eleito pretende utilizar o exército para expulsar imigrantes sem documentos. Tropas federais seriam deslocadas para a fronteira sul do país, que dá acesso à América Latina, onde teriam autorização para prender imigrantes.
A intenção é estabelecer uma presença militar sem precedentes na fronteira, com a Guarda Nacional e a polícia local de estados governados por republicanos reforçando a vigilância.
Trump também planeja construir novos campos de detenção para imigrantes irregulares. A campanha de Trump afirma que essa medida acelerará o processo de expulsão, com o apoio dos militares.
Em 2021, os Estados Unidos tinham centros de detenção que abrigavam mais de 20 mil crianças. Uma reportagem da BBC revelou que esses menores enfrentavam condições precárias, como baixas temperaturas, doenças, negligência, piolhos e sujeira.
Além disso, Trump pretende realizar operações em locais de trabalho para identificar e prender imigrantes ilegais. Essa estratégia desestimularia as indústrias a contratarem mão de obra ilegal e beneficiaria trabalhadores americanos. Contudo, a medida poderia impactar negativamente as economias locais, resultando em caos social, separação de famílias e aumento da vulnerabilidade de populações inteiras de imigrantes.
Outra prioridade do presidente eleito é expandir o muro na fronteira com o México. Durante seu primeiro mandato, Trump construiu 804 km de um total de 3,1 mil km na fronteira com o país vizinho. "Nós completaremos o muro da fronteira", diz seu programa de governo, que pretende usar dinheiro militar para levantar a barreira.
Embora Trump possa complicar a situação dos imigrantes, seu governo provavelmente não conseguirá cumprir todas as promessas feitas. "Eu vejo muito mais uma retórica do Trump para conseguir voto na campanha", diz Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM. "É logistica e economicamente impossível deportar 11 milhões de pessoas."