Milho do futuro: Startup brasileira desenvolve tecnologia para reduzir uso de fertilizantes em até 50%

Globo Rural
Milho do futuro: Startup brasileira desenvolve tecnologia para reduzir uso de fertilizantes em até 50% Reprodução

A InEdita Bio, uma startup de biotecnologia especializada em edição genômica, firmou uma parceria de pesquisa e desenvolvimento com a Shull Seeds, uma empresa de sementes. O objetivo dessa colaboração é criar uma variedade de milho que necessite de menos fertilizante nitrogenado, o que reduziria tanto os custos de produção quanto o impacto ambiental.


A Shull Seeds está buscando expandir sua presença no mercado de sementes de milho. Entretanto, especialistas estão preocupados com a escassez de profissionais qualificados no setor de sementes. Além disso, as sementes ilegais causam prejuízos de R$ 2,5 bilhões anuais no Brasil.


O projeto visa desenvolver plantas de milho que sejam mais eficientes na associação com bactérias capazes de capturar o nitrogênio do ar, o que poderia reduzir em pelo menos 50% a necessidade de fertilizantes nitrogenados, responsáveis por cerca de 20% dos custos de produção atualmente.


A inovação proposta funcionaria de maneira semelhante aos inoculantes bacterianos do gênero Rhizobium, amplamente utilizados na cultura da soja desde os anos 2000. Com a tecnologia Trait by Design da InEdita, espera-se que os primeiros híbridos estejam disponíveis no mercado em 3 a 4 anos, representando um grande avanço para a agricultura.


Paulo Arruda, CEO da InEdita, destaca que a tecnologia de sementes tem evoluído nos últimos 30 anos com o uso da transgenia, tanto que mais de 90% das lavouras de soja e milho no Brasil utilizam sementes geneticamente modificadas. No entanto, ele observa que a percepção pública sobre os transgênicos não é positiva, além de a transgenia exigir altos investimentos em regulamentação. Em comparação, os custos regulatórios da biotecnologia são inferiores a 5%.


“Na última década, surgiu a revolução na biotecnologia para todas as áreas do conhecimento. A edição genômica pode fazer uma planta ser mais eficiente na aquisição de características com pequenas modificações no genoma sem introduzir nenhum gene novo, com custos mais ao alcance de pequenas empresas, o que impulsionou a criação de startups nesta área no mundo todo.”


Ele reforça que o grande desafio da agricultura atualmente é produzir alimento para uma população crescente com menos fertilizantes químicos e menos pesticidas ou a produção ficará insustentável, com impactos danosos ao meio ambiente.


“O fertilizante nitrogenado é caro e gera no solo uma das espécies mais nocivas do ponto de vista dos gases de efeito estufa, o óxido nitroso, que é mais prejudicial que o CO2. Então, nossa parceria visa desenvolver uma planta que além de representar um gasto menor para o produtor, ainda diminui a emissão de gases de efeito estufa.”


Questionado se não teme o fracasso da pesquisa, Arruda diz que a equipe de PhDs da InEdita desenvolveu uma tecnologia capaz de trabalhar com as linhagens comerciais como as da Shull, o que acelera o processo, já que fazer testes de campo é o cotidiano dessas empresas de sementes.


“É certamente um projeto de alto risco por ser uma inovação disruptiva. No Brasil, o sistema é meio avesso a risco, mas sem risco sem ganho”, diz Arruda, acrescentando que não há biotecnologia desenvolvida no Brasil para as grandes culturas e o sucesso dessa pesquisa pode tornar o país uma potência na área genômica.


A Shull Seeds contribuirá com parte dos custos da pesquisa, fornecerá as linhagens que serão editadas e, posteriormente, receberá as plantas modificadas para testes em casas de vegetação e no campo. Segundo Paulo Arruda, os resultados desse projeto poderão ser aplicados em outras culturas e em diferentes regiões do mundo.


O contrato com a Shull não é exclusivo. Recentemente, a InEdita Bio também firmou uma parceria com a Helix, anteriormente conhecida como Agroceres, a maior empresa brasileira de sementes de milho. No entanto, os detalhes dessa pesquisa não foram divulgados.


Nem Arruda nem Paulo Pinheiro, CEO e fundador da Shull, revelaram os valores envolvidos na parceria. Pinheiro mencionou apenas que a Shull, fundada há seis anos, investe entre R$ 35 milhões e R$ 40 milhões anualmente em pesquisas. O objetivo da colaboração é expandir o foco para incorporar tecnologias que beneficiem tanto os produtores quanto o meio ambiente.


Pinheiro acredita que é o momento de o Brasil desenvolver uma tecnologia impactante para o milho. "Essa pesquisa representa uma revolução para a Shull e para o milho. Estamos investindo uma quantia significativa em um projeto que pode não ter resultados em quatro anos, mas nosso propósito é desenvolver tecnologias aplicáveis no Brasil e em outros locais."


Ele também destaca a economia potencial para os produtores de milho, que atualmente gastam cerca de R$ 3.000 por hectare com fertilizantes nitrogenados, além dos benefícios ambientais que a pesquisa pode trazer.


Conheça as empresas

A InEdita Bio, fundada em 2021, tem se destacado no setor de deep techs de biotecnologia ao desenvolver plataformas proprietárias que integram bioinformática, edição genômica, inteligência artificial, machine learning e outras tecnologias. Essas plataformas são utilizadas para criar características de interesse em diversas culturas agrícolas.


Com uma solução tecnológica integrada, a startup, que foca nas culturas de soja e milho, é capaz de desenvolver plantas mais adaptadas a condições climáticas adversas, mais eficientes na absorção de nutrientes e no uso de água, além de serem mais resistentes a pragas e doenças.


Nos últimos três anos, a InEdita Bio captou aproximadamente US$ 1,5 milhão em investimentos do fundo Vesper Ventures e da gestora Ecoa Capital. Seus laboratórios estão localizados em Florianópolis, no mesmo edifício onde funciona a Vesper, mas no andar inferior.


“Na sede, há o sinergismo entre o pessoal do capital movido a tecnologia disruptiva e o pessoal da ciência”, diz o CEO Arruda, biólogo e professor da Unicamp, com mestrado, doutorado e pós-doutorado em biologia molecular de plantas.


A Shull, com sede e uma das três estações de pesquisa em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, foi fundada em 2016 por Paulo Pinheiro, ex-diretor de biotecnologia da antiga Dow Agroscience, em parceria com José de Leon, que atuou como vice-presidente de pesquisa da Dow e foi responsável por toda a pesquisa de melhoramento de milho no Brasil.


A empresa oferece atualmente seis híbridos de milho e quatro de sorgo, com foco nos mercados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Nos próximos dois anos, a Shull planeja lançar um programa de milho temperado, desenvolvendo sementes específicas para a região sul do país, com pesquisas em andamento em uma estação localizada no Paraná.




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