Após divulgação da ata, mercado prevê aumento de 0,75 ponto na Selic em dezembro
Copom sinaliza aperto na política monetária diante da inflação crescente
A ata divulgada pelo Copom nesta terça-feira, (12), revela uma crescente preocupação com a trajetória da inflação, sugerindo a necessidade de uma política monetária ainda mais rigorosa. Esse alerta reflete as pressões sobre a economia brasileira, que vêm tanto do lado fiscal quanto do mercado de trabalho e do cenário externo, fatores que podem enfraquecer os esforços do Banco Central para controlar a inflação.
Na semana passada, o Copom aumentou a taxa Selic de 10,75% para 11,25% ao ano, reconhecendo a necessidade de adotar uma postura mais contracionista. "Considerando a necessidade de uma política monetária mais austera, o comitê optou por um aumento mais expressivo da taxa Selic", diz a ata.
Esse movimento reflete a crescente preocupação com o aumento das projeções inflacionárias e a queda da confiança nas políticas fiscais do governo. O Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central, revisou pela sexta semana consecutiva sua estimativa de inflação, de 4,59% para 4,62%.
“Em comunicados anteriores, costumava-se afirmar que a política monetária vigente seria suficiente para levar a inflação à meta. Desta vez, essa afirmação não apareceu, o que abre espaço para uma possível aceleração da alta da Selic”, avalia Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Para ele, as chances de um aumento de 0,75 ponto percentual na próxima reunião já são tão grandes quanto as de um aumento de 0,50 ponto percentual. “O fato de a ata não excluir essa possibilidade reforça seu tom mais rigoroso”, acrescenta.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, compartilha da mesma opinião, indicando que o Copom pode intensificar a alta dos juros nas próximas reuniões. “A ata de hoje é ainda mais dura do que o comunicado da semana passada, e isso fez nossa projeção para o fim do ciclo de aperto subir de 12% para 14%”, diz Sanchez. Ele destaca que a menção a uma possível deterioração das expectativas inflacionárias, o que pode prolongar o ciclo de alta dos juros, foi um dos principais motivos para a revisão das previsões.
O aumento dos gastos públicos e a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal são apontados como fatores-chave para o impacto nos preços dos ativos e nas expectativas do mercado. A ata destaca que uma política fiscal sólida, com regras previsíveis e transparência nos resultados, é essencial para ancorar as expectativas de inflação e reduzir os riscos nos ativos financeiros, o que impactaria diretamente a política monetária.
Além disso, o Copom alerta para os efeitos do mercado de trabalho, principalmente o aumento dos salários reais, que tem pressionado as expectativas de inflação. Embora o crescimento dos salários seja benéfico para os trabalhadores, o comitê observa que essa tendência pode acentuar a pressão inflacionária, visto que os aumentos salariais não têm sido acompanhados de forma equivalente por aumentos na produtividade.
As pressões externas também preocupam. A ata menciona que o novo governo dos EUA adota políticas mais inflacionárias, com estímulos fiscais e redução de impostos, além de pressões inflacionárias causadas pelo aumento de tarifas. Também se destaca a incerteza sobre a efetividade dos estímulos fiscais na China para gerar crescimento sustentável, o que afeta a balança comercial brasileira e o comportamento dos preços das commodities.
Com a inflação projetada para ficar acima da meta de 3% ao final do ano, o Copom expressa preocupação com a “desancoragem das expectativas”. O mercado começa a precificar um cenário de inflação persistente, alimentado pela percepção de que o governo terá dificuldades em cumprir suas metas fiscais. Desde junho de 2023, o Brasil acumula déficit primário, o que agrava o quadro fiscal, além de um aumento significativo da dívida pública, que subiu quase 7% do PIB desde o início do governo Lula.
O governo prepara um pacote de cortes de gastos para garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, com medidas que devem ser apresentadas ao Congresso até o final desta semana. No entanto, ainda não se sabe se essas ações serão suficientes para restaurar a confiança do mercado e conter a espiral inflacionária que ameaça comprometer os avanços econômicos recentes do país.
Com o cenário fiscal e inflacionário ainda instável, a expectativa é que o ciclo de aumento dos juros possa se prolongar mais do que o previsto inicialmente, representando um desafio significativo para o governo federal. A inflação no Brasil continua sendo uma preocupação em aberto.