Projeto de Sam Altman para criar 'identidade global' por meio do olho humano volta ao Brasil
Operação será aberta na quarta-feira, em São Paulo, em dez centros de registro; iniciativa inclui pouco mais de R$ 300 em criptomoedas como recompensa para quem se cadastrar O projeto de Sam Altman, criador da OpenAI, que pretende criar uma identidade global a partir da verificação da íris humana, vai retomar as operações no Brasil. Sob o novo nome de “World”, a iniciativa terá inicialmente dez pontos de cadastro em São Paulo, que começam a funcionar nesta quarta-feira. Qualquer pessoa com mais de 18 anos poderá se registrar.
Fundada em 2019 por Altman e pelo empreendedor alemão Alex Blania, a World pretende desenvolver uma espécie de “RG” digital que ajude a diferenciar humanos de robôs e de inteligências artificiais. A opinião de seus criadores é que o avanço da IA tornará cada vez mais difícil essa distinção.
No longo prazo, o criador do ChatGPT espera que essa identidade permita iniciativas de redistribuição financeira, como uma renda básica universal (RBU), ao autenticar identidades de quem receberia o benefício.
Em fase experimental e sob desconfiança de reguladores de dados de diversos países, o projeto chegou a operar no Brasil e em outros mercados durante algumas semanas, no ano passado. Segundo a World, aquele foi um “piloto” para o lançamento oficial que acontece agora, que tem a América Latina como um dos focos.
Brasil terá 50 'orbs'
Por trás da iniciativa está a startup Tools for Humanity, presidida por Alex Blania. É a empresa que é responsável por operar as tecnologias que estão envolvidas no ambicioso plano da World.
Para viabilizar uma identidade global, o projeto conta algumas frentes.
O registro de humanidade é feito a partir de um equipamento chamado “Orb”, que faz a verificação da íris. Ao todo, 7 milhões de pessoas no mundo realizaram o registro.
Será a partir do Orb — uma pequena bola metálica recheada de sensores e com câmeras que captam o olho — que a empresa irá verificar a identidade de brasileiros. Os endereços dos locais onde o equipamento será disponibilizado, inicialmente apenas em São Paulo, vão ser divulgados na quarta-feira. No mundo, o projeto conta com 902 equipamentos ativos. No Brasil, serão pouco mais de cinquenta.
Para verificar sua humanidade, o Orb captura uma imagem de alta resolução da íris, que é convertida por algoritmos em uma representação numérica do usuário. A empresa argumenta que a íris é a maneira "mais segura e confiável de verificar que as pessoas são seres humanos", e garante que os registros originais do olho não ficam com a emrpesa - são criptografados e deletados.
Na América Latina, além do Brasil, a operação da World foi retomada na Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, México e Peru. Na Europa, os equipamentos estão disponíveis na Áustria e Polônia e, na Ásia, em Singapura, Coreia do Sul, Malásia e Japão. Nos EUA, sede do projeto, há apenas quatro pontos de verificação dos olhos.
Recompensa de R$ 322 e preocupação de autoridades
Para validar o registro feito pela íris, os usuários precisam baixar o aplicativo World App, que atua como uma carteira digital e um ponto de acesso para a identidade e os recursos do projeto. A plataforma já alcançou 16 milhões de usuários.
Por meio do aplicativo, é possível acessar a criptomoeda Worldcoin (WLD), que faz parte da estrutura econômica da iniciativa. Os usuários que fazem a identificação a partir da íris recebem uma recompensa financeira por meio da moeda digital. Os usuários, ao se verificarem recebem 25 tokens em até 48 horas. Ao longo de 12 meses, recebem mais 25.
O valor pode ser convertido em reais e transferido para contas bancárias. Por volta do meio-dia desta terça-feira, cada criptomoeda era negociada por US$ 2,42 (cerca de R$ 12,90). Isso significa que se o usuário brasileiro fizesse o registro hoje, ao ganhar 25 tokens, receberia aproximadamente R$ 322,50.
Imagem do 'orb', equipamento da World para escanear a íris
Marisa Isabel Oliveira/O Globo
Na primeira frase do projeto, que teve o lançamento em países da América Latina, Asia e Africa, a recompensa financeira chegou a gerar filas enormes de pessoas interessadas em fazer a verificação do olho. Um dos casos emblemáticos foi o Quênia, em que os pontos de coleta geraram enormes aglomerações. No país da África Central, o projeto acabou depois suspenso em razão de preocupação de autoridades de dados. Na França e na Alemanha, reguladores também expressaram preocupações.
Em apresentação para jornalistas em São Paulo, Rodrigo Tozzi, gerente de operações para a Tools for Humanity (TFH), disse que a empresa teve conversas com reguladores para viabilizar o retorno da operação ao Brasil:
— Antes de lançar qualquer mercado, proativamente fazemos conversas com órgãos regulamentadores. No Brasil não foi diferente. Foram feitas diversas conversas — afirmou.
O GLOBO questionou a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) sobre a conformidade da iniciativa com a lei brasileira de dados, mas ainda não teve retorno.