UFG apresenta soluções sustentáveis para melhorar o saneamento em comunidades quilombolas
Um levantamento realizado em 115 comunidades rurais e/ou tradicionais de Goiás, pelo projeto Saneamento e Saúde Ambiental em Comunidades Rurais e Tradicionais de Goiás (SanRural) da Universidade Federal de Goiás (UFG), revelou que 59,3% dos domicílios de 97 comunidades rurais analisadas utilizam fossas rudimentares, que são basicamente buracos escavados no solo para o descarte de dejetos. Além disso, 6,6% das moradias não possuem banheiro.
Em resposta a essa situação, a equipe de pesquisadores da UFG, liderada pelo professor Paulo Sérgio Scalize da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA), desenvolveu o projeto Informações de Comunidades Tradicionais e Ações de Saneamento (TradSan). Eles instalaram a Bacia de Evapotranspiração (BET), conhecida popularmente como fossa de bananeira ou fossa ecológica, em seis comunidades quilombolas.
A bacia de evapotranspiração é uma tecnologia social alternativa que oferece melhorias para comunidades que enfrentam vulnerabilidades em relação ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário. Segundo o professor, "a fossa de bananeira é um sistema fechado que permite o tratamento da água utilizada na descarga dos sanitários". Este sistema não gera efluentes, evitando a contaminação do solo e das águas superficiais e do lençol freático. Os resíduos humanos são transformados em nutrientes para as plantas, e a água é liberada limpa por meio da evapotranspiração.
Entretanto, pode ser necessária uma tubulação de saída para direcionar excedentes para uma vala de infiltração ou um círculo de bananeiras, conforme detalha o plano de trabalho elaborado pelos pesquisadores. A escolha pela fossa sustentável foi discutida entre os pesquisadores e as comunidades quilombolas, utilizando uma metodologia de escuta do projeto TradSan da UFG. A decisão sobre o local de instalação da BET foi feita coletivamente.
As comunidades quilombolas que participaram da instalação da bacia de evapotranspiração incluem Fazenda Santo Antônio da Laguna (Barro Alto), José de Coleto (Colinas do Sul), Queixo Dantas (Mimoso de Goiás), Rafael Machado (Niquelândia), Porto Leucádio (São Luiz do Norte) e Almeidas (Silvânia). Está prevista uma visita dos pesquisadores ao Povoado Levantado, em Iaciara, ainda em dezembro.
Etapas do projeto
Para a instalação da BET, foram realizadas duas oficinas nas comunidades, com o objetivo de reunir, em cada local, pelo menos um representante de cada moradia, buscando o maior envolvimento possível dos moradores. A primeira oficina teve como foco o reconhecimento e acolhimento da história das comunidades, além de sensibilizar e engajar os participantes na proposta do Projeto TradSan. Durante esse encontro, os moradores decidiram o domicílio e o local para a execução da BET, considerando critérios como domicílios chefiados por mulheres, maior número de pessoas por moradia e a presença de instalação hidrossanitária que separasse o esgoto fecal da água cinza. Também foram distribuídos filtros de barro para purificação da água de consumo humano.
A segunda oficina, realizada em dois dias, foi dedicada à construção da fossa de bananeira e ao treinamento de líderes comunitários para o cadastro na Plataforma de Territórios Tradicionais (PTT), que facilita a relação das comunidades com o Ministério Público Federal (MPF). Os moradores participaram ativamente do processo de execução da fossa ecológica, através de mutirões, sob a orientação técnica dos pesquisadores da UFG.
Equipe do projeto
A equipe de pesquisadores da UFG, coordenada pelo professor Paulo Sérgio Scalize e pela subcoordenadora Karla Emmanuela Ribeiro Hora, é composta pelos professores da EECA da UFG: Humberto Carlos Ruggeri Júnior, Raviel Eurico Basso e Denilson Teixeira, além da engenheira ambiental Adivânia Cardoso da Silva, do engenheiro agrícola Kervens Lamarre e do graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária Vinicius Baroni Scalize.
A equipe também conta com a participação da professora da Universidade de São Paulo (USP) e museóloga Camila Azevedo de Moraes Wichers, do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e engenheiro químico Adriano Luiz Tonetti, e da professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) Nolan Ribeiro Bezerra.
O projeto TradSan é resultado da colaboração interinstitucional e internacional entre a Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape), UFG, Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e MPF, com o objetivo de contribuir para a implementação do Projeto Territórios Vivos e a multiplicação da Plataforma de Territórios Tradicionais (PTT) em Goiás.