Homem que se explodiu no DF foi candidato a vereador pelo PL em SC e teria visitado o STF em agosto

Folha de S. Paulo
Homem que se explodiu no DF foi candidato a vereador pelo PL em SC e teria visitado o STF em agosto Reprodução

Um homem se explodiu na Praça dos Três Poderes, em Brasília, detonando seu carro a cerca de 300 metros da Esplanada dos Ministérios. Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, era chaveiro e havia sido candidato a vereador pelo PL em Santa Catarina, embora não tenha sido eleito. Ele se apresentou nas eleições com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC). Antes de sua morte, publicou uma série de mensagens que misturavam política e religião.


Em sua página no Facebook, agora excluída, ele se descrevia como empreendedor, investidor e desenvolvedor. Não há registros de crimes ou condenações contra ele em qualquer instância. Sua tentativa de se eleger em 2020 foi sua única experiência política; ele gastou apenas R$ 500 em sua campanha e recebeu 98 votos.


Além do carro que foi detonado, estacionado próximo ao anexo da Câmara dos Deputados, ele tinha outros quatro veículos registrados no sistema de candidaturas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sendo três deles antigos. Também havia várias multas pendentes, incluindo uma por recusa a fazer o teste do bafômetro. Francisco afirmou possuir um prédio residencial de dois andares em Rio do Sul.


Francisco também tinha um perfil no X (ex-Twitter), onde compartilhava diversos vídeos de outras redes sociais, incluindo conteúdos religiosos, músicas internacionais antigas e um vídeo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, durante um comício na Pensilvânia. Antes do incidente em Brasília, ele esteve nas dependências do STF em 24 de agosto.


O deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC) afirmou que conhecia Francisco Wanderley e se encontrou com ele pela última vez em agosto deste ano, coincidentemente na mesma época em que o chaveiro visitou o Supremo. Goetten mencionou em um grupo de WhatsApp com deputados da oposição que Francisco aparentava ter sérios problemas mentais e, em entrevista à Folha, revelou que o achou emocionalmente abalado no ano anterior, especialmente devido à sua separação.


O filho adotivo de Francisco, Guilherme Antônio, também chaveiro, contou ao portal Metrópoles que estava sem notícias do pai há meses quando soube das explosões em Brasília. Ele explicou que Francisco enfrentava problemas pessoais com sua mãe e estava muito afetado pela situação, mencionando que seu pai queria apenas viajar, com a intenção de ir para o Chile.


Em uma coletiva de imprensa na noite de quarta-feira, a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, indicou que o proprietário do carro explosivo é provavelmente a mesma pessoa que morreu na Praça dos Três Poderes. Segundo Celina, Francisco tentou entrar no prédio do Supremo na mesma noite, mas não conseguiu. Após essa tentativa, ele parou em frente à estátua da Justiça, onde detonou os explosivos.


Natanael Carmelo, um segurança do Supremo, testemunhou a explosão e relatou que Francisco retirou alguns artefatos de sua mochila e, ao ser abordado pelos seguranças, abriu a camisa e os advertiu a não se aproximarem. O segurança notou um objeto que parecia um relógio digital e suspeitou que fosse um explosivo. Francisco chegou a pegar um extintor, mas desistiu e o colocou no chão. Em seguida, lançou dois ou três artefatos que explodiram. Após isso, deitou-se no chão, acendeu o último artefato, colocou-o na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão.


O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que presidia a sessão legislativa durante as explosões, informou que estão investigando se Francisco Wanderley conseguiu entrar nos prédios da Câmara, mas ainda não há confirmação oficial sobre isso. Ele não entrou nas dependências do Senado ao longo do dia.


No momento de sua morte, Francisco estava vestido de forma que lembrava a fantasia do personagem Coringa, um vilão anarquista de histórias em quadrinhos. Ele usava uma calça e um terno com estampa de naipes de cartas de baralho, em um fundo verde-escuro, e ao lado de seu corpo foi encontrado um chapéu branco.


A área ao redor do carro e o local onde o corpo foi encontrado estão isolados pela polícia, que alerta para o risco de haver explosivos não detonados. 


Nas redes sociais, Francisco fez postagens com um tom ameaçador, mencionando bombas e explosões, e afirmando que a Polícia Federal precisaria desarmar o equipamento.


"Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda", afirmou em capturas de tela que publicou em sua página no Facebook.


"Quando o grito da voz ecoa nos paredões trapezoidais e se perde no espaço; o efeito explosivo pode atingir esquinas, vielas, nações e comarcas!!! Muito cuidado com o povo que ainda só gritaaaa", publicou, em postagem com emojis de ampulhetas. Também haviam mensagens com cunho religioso.


Em outro texto, ele mencionou uma "revolução" e fez referência ao dia 15 de novembro, data da Proclamação da República. Afirmou que o Brasil ainda não era um país socialista ou comunista, e que os planos para a transformação do regime social do país estavam em sua fase final. Também compartilhou uma foto sua em frente ao que parecia ser um plenário vazio do STF, dizendo que "deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)". Não está claro se a imagem é uma montagem.


"Hoo pai, u tiü França não é terrorista né??? EU NÃO SEI MEU FILHO. Não é não, ele tinha a BÍBLIA!!!!!!!", escreveu em outra publicação.


"EU NÃO SEI NÃO MEU FILHO. Ele apenas solto uns foguetinhos pra comemorar o dia 13!!!!!"


Em suas publicações, ele também compartilhava mensagens com recomendações ao setor agro e fazia menções a Trump.




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