Demora por consulta é principal dificuldade de brasileiros com diabetes, aponta pesquisa

Folha de São Paulo
Demora por consulta é principal dificuldade de brasileiros com diabetes, aponta pesquisa Acompanhamento de casos de diabetes deve ser feito por um endocrinologista - IndiaPix - stock.adobe.com

A longa espera para agendar e realizar consultas médicas é a principal dificuldade enfrentada por pessoas com diabetes, especialmente as mais vulneráveis no Brasil. Esse é um dos destaques da pesquisa Radar Nacional sobre Tratamento de Diabetes no Brasil, realizada pelo Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, em parceria com a consultoria Imagem Corporativa.

O levantamento ouviu 1.843 adultos diagnosticados com diabetes, entre 1º de julho e 22 de agosto de 2024, com dados ponderados de acordo com o perfil do IBGE e da ANS. Com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%, o estudo revela lacunas no atendimento médico e na gestão da doença.

Entre os entrevistados, 13% afirmaram que o médico não definiu uma frequência para consultas, enquanto 10% não costumam ser atendidos regularmente e 6% o fazem menos do que o necessário. Além disso, 30% dos participantes apresentaram hemoglobina glicada acima de 7%, e 42% desconhecem ou não se recordam desse indicador, essencial para o controle do diabetes.

Vanessa Pirolo, coordenadora do Vozes do Advocacy, alerta para a negligência em relação ao diabetes e destaca a necessidade de políticas públicas efetivas. Um dos objetivos da organização é aprovar um projeto de lei que exige a realização de testes de glicemia em serviços de urgência e emergência, uma medida que pode salvar vidas.

Outro ponto crítico identificado pela pesquisa é o tempo de espera por consultas com especialistas. Mais da metade dos entrevistados (54%) relatou aguardar mais de três meses para atendimento oftalmológico. Dependentes do SUS atribuíram notas baixas à demora para agendamentos (4,5) e ao tempo de espera até a consulta (4,7). Já as populações das classes D e E e pessoas autodeclaradas pretas deram notas ainda mais negativas para esses itens, evidenciando desigualdades no acesso à saúde.

Segundo o médico Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a lacuna entre atenção primária e atendimento especializado compromete o controle da doença. Ele defende a estruturação de linhas de cuidado e indicadores que garantam assistência de qualidade, mesmo na atenção primária.

O Ministério da Saúde informou que reforça o investimento na Atenção Primária à Saúde (APS) por meio da Estratégia de Saúde da Família e que mantém o Plano de Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis até 2030, com foco na vigilância e na assistência.

A pesquisa também apontou que 72% dos entrevistados utilizam o SUS para consultas, e 84% acessam medicamentos gratuitos ou subsidiados, principalmente pelo programa Farmácia Popular. Apesar disso, 52% dos participantes pertencem à classe C, com renda familiar de até dois salários mínimos, e a maioria (56%) tem mais de 60 anos.

Os dados reforçam a necessidade de melhorar o acesso, a agilidade e a qualidade do atendimento no SUS, especialmente para populações mais vulneráveis, a fim de evitar complicações graves e promover um cuidado mais efetivo no tratamento do diabetes.




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