Atentado em Brasília muda cenário eleitoral de 2026: Lula, Bolsonaro, Caiado e governadores reposicionam estratégias
Após a explosão provocada por Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, na praça dos Três Poderes na última quarta-feira (13), figuras da direita que aspiram à presidência, atualmente ocupada por Lula (PT), se manifestaram contra a politização do incidente. Seguindo a linha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), argumentaram que se tratou de um "lobo solitário". Em contrapartida, a base de Lula resgatou a bandeira "sem anistia", exigindo punições rigorosas para prevenir novos atos extremistas.
As reações também vieram de governadores considerados pré-candidatos ou que se movimentam como apoiadores de um possível projeto unificado da direita. Ronaldo Caiado (União Brasil - GO) e Romeu Zema (Novo - MG) usaram o episódio para intensificar a retórica contra o governo, mirando no eleitorado de Bolsonaro. Embora o ex-presidente esteja inelegível, ele se posiciona como candidato, apostando em uma eventual reviravolta nas cortes superiores e no Congresso.
Por outro lado, Tarcísio de Freitas (Republicanos - SP) e Ratinho Jr. (PSD - PR) optaram pelo silêncio, evidenciando a necessidade de cautela nas esferas institucional e eleitoral.
Lula manteve sua agenda oficial e, com as medidas de segurança reforçadas após o ataque, buscou garantir a normalidade do governo, evitando comentar o incidente. No entanto, ministros e aliados de diversas siglas da base demonstraram alinhamento com a interpretação do STF, associando o ataque ao discurso radical do bolsonarismo nos últimos anos, que incluiu a contestação das eleições de 2022 com alegações infundadas de fraude.
Os assessores de Lula consideraram as explosões um desdobramento dos eventos de 8 de janeiro, reiterando que apenas a punição dos responsáveis pode impedir novas ocorrências. O discurso se aproxima do adotado pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, que rejeitou a ideia de um fato isolado, ligando o caso ao "gabinete do ódio" do governo Bolsonaro e afirmando que "não há possibilidade de pacificação com anistia a criminosos".
O atentado teve um impacto significativo na pauta de anistia para os condenados do 8 de janeiro, um tema defendido pelo grupo de Bolsonaro, que espera criar um ambiente favorável à recuperação dos direitos políticos do ex-presidente. Ao se pronunciar, Bolsonaro tentou se distanciar do incidente, referindo-se a ele como um ato isolado cometido por alguém com "problemas de saúde mental" e clamou por "pacificação nacional", enquanto sua estratégia de defesa busca moderar o tom e evitar conflitos com o Judiciário.
Apesar de estar inelegível até 2030 devido a ataques e desinformações sobre o sistema eleitoral, Bolsonaro se considera o único da direita com chances de vitória em 2026, alegando ter um "nome nacional". Sem uma reversão judicial, ele poderá acabar assumindo um papel secundário.
O atentado também esfriou a euforia gerada pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, sendo visto como um novo fator de pressão em favor do ex-presidente no Brasil. No caso de Lula, a mobilização em torno da defesa de punições severas para crimes contra o Estado democrático de Direito e contra propostas de anistia se confronta com as preocupações eleitorais, especialmente após as dificuldades enfrentadas pela esquerda nas eleições municipais e o crescimento da direita.
O presidente tem participado de discussões nas quais é aconselhado a abandonar a polarização e a reorganizar os ministérios e a comunicação para a segunda metade de seu mandato. Há uma percepção de que um discurso agressivo contra o golpismo pode reforçar a imagem de revanchismo e perseguição à direita.
Os apelos por "sem anistia", que já eram vocalizados por apoiadores desde a posse de Lula, ganharam nova força após o incidente da semana passada. Uma pesquisa do Datafolha, realizada em março deste ano, revelou que 63% dos brasileiros são contrários à anistia para aqueles envolvidos nas depredações de 8 de janeiro.
Ao comentar o atentado, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), do PT, atribuiu a responsabilidade a "líderes da extrema direita", que, segundo ele, fomentam uma "cultura de ódio, intolerância e estímulo à violência", levando indivíduos a cometer crimes contra instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal. A ministra Simone Tebet (Planejamento), do MDB, ressaltou a importância de manter vigilância enquanto persistirem "apitos" que incentivem ataques. "No ataque à democracia, os 'lobos' nunca são solitários", afirmou. Anielle Franco (Igualdade Racial), do PT, disse que "nunca foi nem será um ato isolado".
Por outro lado, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro de Bolsonaro, criticou a tentativa de "transformar a atitude insensata de um indivíduo em um contexto institucional" em relação ao caso.
"Ao invés de atribuir culpa de parte a parte, faríamos bem em reduzir a temperatura do debate político, trazendo de volta o diálogo como regra básica", afirmou.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, criticou o que chamou de "distorção inaceitável dos fatos", com o "propósito malicioso de prejudicar o andamento do projeto de lei da anistia". Os conservadores argumentam que apenas o perdão poderá promover uma reconciliação nacional.
Os governadores de oposição que comentaram o atentado aproveitaram a oportunidade para enviar mensagens. Caiado responsabilizou Lula, direcionando o debate para a questão da segurança pública. Ele, que se posiciona como presidenciável para 2026, afirmou que o país sofre com "falta de comando" e "ausência de um líder forte", argumentando que "um governo federal fraco e apático [...] se submete ao avanço do crime organizado e do extremismo".
Zema, que apoia pautas bolsonaristas, reforçou a ideia de que o ataque cometido por Francisco foi um ato isolado. O governador mineiro ainda tentou isentar o PL, partido pelo qual o autor se candidatou a vereador em 2020, afirmando que "nenhum partido está livre de ter um indivíduo desequilibrado entre seus possíveis candidatos".
Posicionamentos dos principais nomes na corrida presidencial sobre o atentado:
Lula (PT)
O presidente não se manifestou sobre o incidente até este domingo (17) e seguiu com sua agenda. Auxiliares e aliados contestaram a narrativa do "lobo solitário" e associaram o episódio a Bolsonaro e à extrema-direita, rejeitando a possibilidade de anistia para os condenados do 8 de janeiro.
Jair Bolsonaro (PL)
Inelegível, o ex-presidente procurou se distanciar do ocorrido, tratando-o como um "fato isolado" e pedindo pacificação. O episódio representa um obstáculo para sua tentativa de obter perdão para os presos do 8/1 e para uma possível reversão de sua inelegibilidade.
Tarcísio de Freitas (Republicanos)
O governador de São Paulo optou pelo silêncio em relação ao atentado. Considerado um dos pré-candidatos bolsonaristas para 2026, ele defendeu, no último 7 de Setembro, a anistia para os condenados pela invasão às sedes dos Três Poderes, referindo-se a eles como "presos políticos".
Ratinho Jr. (PSD-PR)
O governador do Paraná também não se pronunciou. Reconhecido como uma alternativa da direita na disputa presidencial, ele já expressou interesse em concorrer e defende que seu partido tenha um papel de destaque, distanciando-se da gestão petista.
Ronaldo Caiado (União Brasil-GO)
O governador de Goiás relacionou o ataque em Brasília à "falta de comando" e "ausência de um líder forte" no país. Com a intenção de se candidatar em 2026, ele usou o caso para criticar a ineficiência do governo Lula em relação à segurança, diante do crescimento do crime organizado e do extremismo.
Romeu Zema (Novo-MG)
O governador de Minas Gerais rejeitou a ideia de que o ataque fosse parte de um movimento maior, ecoando a narrativa bolsonarista de que se tratou de um "ato isolado", perpetrado por "alguém em profundo desequilíbrio emocional". Ele também isentou de responsabilidade o PL, ao qual o autor do ataque estava filiado.