Planalto libera acesso a computadores usados em plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes
A Polícia Federal obteve acesso a registros de uso de computadores do Palácio do Planalto durante a investigação sobre um grupo que planejou assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2022. Um relatório da PF revela que, com base nos arquivos da Presidência da República, foi possível identificar que militares estavam envolvidos na elaboração do plano e que uma das versões foi impressa dentro do Planalto.
Com 221 páginas, o relatório contém as evidências coletadas pelos investigadores. A Operação Contragolpe foi iniciada na terça-feira, 19, resultando na prisão de quatro militares do Exército e um policial federal.
Os policiais federais solicitaram ao Palácio do Planalto os registros de acesso e os dados de impressão das impressoras da sede do governo e do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, referentes a 2022. A Presidência autorizou o acesso aos registros.
Durante a investigação, a PF descobriu que um documento com o planejamento operacional intitulado “Punhal verde amarelo” foi impresso às 17h09 do dia 9 de novembro de 2022, pelo general Mário Fernandes, em uma impressora da Secretaria-Geral da Presidência.
Além disso, a investigação analisou os registros de entrada e saída nas portarias dos prédios oficiais. A análise revelou que o general Mário Fernandes entrou no Palácio da Alvorada às 17h58 do mesmo dia, 41 minutos após a impressão do documento no Palácio do Planalto.
Através da imagem, a investigação do Instituto Nacional de Identificação (INI) conseguiu identificar o major Rafael Martins de Oliveira. De acordo com o relatório da Polícia Federal, ele utilizou dados de um homem que havia se envolvido em um acidente de trânsito com ele algumas semanas antes. O militar tinha armazenado a foto da CNH e do documento do veículo do condutor.
Segundo a PF, o grupo criou linhas telefônicas em nomes de pessoas sem qualquer ligação com os eventos, como uma estratégia para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas.
Para determinar onde a foto que mostra o dedo foi tirada, a polícia analisou as coordenadas geográficas registradas nos metadados da imagem. A foto foi capturada na BR-060, no sentido Brasília a Anápolis, nas proximidades de um restaurante.
PF recuperou coordenadas geográficas do local exato em que uma foto foi feita para reunir elemento de investigação Foto: Reprodução/PF
O endereço coincide com o local do acidente registrado pelo condutor cujos dados foram utilizados. A Polícia Federal também recuperou o boletim de ocorrência feito pelo motorista, que relatou que o carro do major Rafael Oliveira “estava em baixíssima velocidade”, “quase parado”, o que o impediu de frear a tempo. “Conversamos e acionamos a seguradora para retirar os veículos da via”, afirmou.
Conversas
A "ação operacional clandestina", que tinha como alvo prender o ministro Alexandre de Moraes, do STF, em 15 de dezembro, foi organizada por meio de um grupo de conversas no aplicativo Signal. Este aplicativo funciona de maneira semelhante ao WhatsApp, mas oferece uma criptografia considerada mais segura. O grupo foi nomeado “Copa 2022”.
A ação foi abortada após os envolvidos saírem às ruas para executá-la. Um dos militares chegou a mencionar que estava em “posição”. Não está claro o motivo pelo qual o plano não foi realizado, mas a polícia identificou uma reunião dos investigados no Parque da Cidade, uma área aberta no centro de Brasília, além do deslocamento deles pela cidade.
O celular onde as mensagens foram encontradas havia sido apreendido na operação Tempus Veritatis, realizada em fevereiro.
Por meio do cruzamento de dados das Estações Rádio Base (ERBs), os policiais conseguiram identificar a presença dos celulares dos militares envolvidos na trama em áreas próximas ao ministro Alexandre de Moraes.
PF cruzou dados de antenas de celulares para reconstituir movimentação de 'kids pretos' por Brasília Foto: Reprodução/PF
A investigação revela que o magistrado começou a ser monitorado pelo grupo em novembro. O relatório indica que os militares se dividiram em diferentes locais de Brasília para realizar a ação militar clandestina, que, no entanto, foi abortada.