Lançar Caiado para presidência em 2026 e continuar no governo é 'traição a Lula', declara Elmar Nascimento


Lançar Caiado para presidência em 2026 e continuar no governo é 'traição a Lula', declara Elmar Nascimento Reprodução

O União Brasil, que é o quarto maior partido do Brasil, não lançará uma candidatura própria nas eleições de 2026, conforme afirmou em entrevista à coluna o deputado federal Elmar Nascimento (BA), que é líder na Câmara.


Um movimento do partido que impeça a candidatura de Caiado pode deixar Lula quase sem adversários significativos em 2026. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que também é um nome cotado, já declarou sua intenção de buscar a reeleição, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontra inelegível.


Elmar Nascimento sugere que o União Brasil tome uma decisão até fevereiro sobre sua permanência ou saída do governo Lula. Para ele, seria uma "traição" ao presidente Lula (PT) continuar no governo com três ministérios até a "última hora" e, ao mesmo tempo, lançar uma candidatura própria em oposição ao petista.


"Não dá para a gente ficar falando em candidatura própria ou abrindo ou flertando com a candidatura adversária por dentro do governo", afirmou.


Veja a entrevista feita em Lisboa, onde Elmar participou do Lide Brazil Conference Lisboa, promovido pelo Lide, UOL e Folha de S.Paulo.


UOL - As eleições municipais empoderaram o centro. Esses partidos irão cobrar mais protagonismo no governo Lula?

Elmar Nascimento - Passados os primeiros dois anos do governo, agora nós teremos um novo realinhamento com vistas a 2026. Acho legítimo que o presidente faça uma repaginada com gente que ele saiba que vai estar ao lado dele na reeleição.


UOL - O seu partido tem um candidato e, portanto, não estará...

Elmar - Não seria muito legítimo alguém ocupar espaço dentro do governo com os bônus que isso traz e, quando chegar na convenção, faltando seis meses para a eleição, fazer de conta que não participou do governo, que não tem nada com aquilo e lançar candidato próprio ou apoiar outro candidato. Não acho isso leal. Portanto, qualquer partido que deseje ter um voo próprio ou escolher outro caminho deve deixar o lugar para os outros.


UOL - E fazer oposição a Lula?

Elmar - Nós temos uma pauta econômica que é importante. Independentemente de qualquer coisa, a gente vai votar a favor, mas o partido [se optar por candidatura própria] deveria deixar o lugar para quem quer estar ao lado do presidente em 2026. Se o meu partido não tomar uma posição agora, permitindo que a gente continue no mesmo jogo, votando com o governo, participando do governo, usufruindo dos cargos, eu não vou virar as costas em 2026. Vou apoiar o presidente. A política não perdoa traição.


UOL - Vai ter um racha no partido com o grupo que defende a candidatura do Caiado?

Elmar - Não vai ter racha, porque a gente pode conseguir levar [o partido a apoiar Lula].


UOL - Quando essa decisão de permanecer ou desembarcar do governo deve ser tomada?

Elmar - O momento dessa discussão é depois das eleições para o Congresso [em fevereiro de 2025]. Pelo timing de virar dois anos do governo Lula.


UOL - O senhor irá defender que o partido siga com o presidente Lula?

Elmar - Não dá para a gente ficar falando em candidatura própria ou abrindo ou flertando com a candidatura adversária por dentro do governo. Se o partido quiser ter um projeto próprio, tem que sair ou estará enganando alguém. Como é que você pode querer, por exemplo, que o ministro Juscelino [Filho, Comunicações], que o ministro Celso Sabino [Turismo] ou que o presidente Davi Alcolumbre, que indicou o ministro da Integração Nacional, que é um dos ministérios mais importantes do país, fiquem contra o governo? Seria desleal da parte deles.


UOL - Nessa lógica, o partido pode rifar a candidatura própria em 2026 só para manter os cargos?

Elmar - Eu tenho indicação de um cargo que, do ponto de vista político, para a minha região, é muito importante, que é o presidente da Codevasf. O que eu posso lhe dizer é que, se eu chegar em 2026 ocupando a Codevasf, com certeza eu vou votar no presidente Lula, independentemente da posição do meu partido. Eu, pelo menos, não consigo indicar cargo, participar do governo para chegar em 2026 e ficar contra o governo. Continua após a publicidade


UOL - Seria melhor para o partido o governador Caiado retirar seu nome da disputa?

Elmar - Eu, no lugar dele, provocaria esse debate. Até para ele não ficar dois anos passeando e depois não ser candidato. Mas imagina só, como é que ele pode ir falando em ser candidato se o partido está no governo?


UOL - O Congresso capturou o orçamento público e usa os recursos de acordo com seus interesses políticos, e não do país. O STF está correto em por um freio?

Elmar - Por que quando um ministro de uma área temática como a agricultura decide aplicar recursos do seu ministério de forma diferente e desproporcional para a sua região em detrimento de outra, isso não é questionado, e quando é feito por um deputado, é questionado?


UOL - O Supremo cobra transparência no processo de indicação dos recursos. Tem legitimidade para isso?

Elmar - O Poder Judiciário aponta o dedo para a gente, quando deveria apontar o dedo para a sua casa, com os supersalários que a gente já devia estar discutindo, com as várias distorções que existem.


UOL - O senhor defende anistia aos golpistas do 8 de Janeiro que o ministro Alexandre de Moraes mandou prender. Quando era candidato à presidência da Câmara, o PL pediu isso em troca de apoio?

Elmar - Sou a favor da pacificação e de a gente encontrar um meio-termo que não desmoralize o Judiciário.


UOL - A anistia alcança o ex-presidente Bolsonaro?

Elmar - A condenação dele foi pela manifestação com os embaixadores. Aquilo não tem consequência criminal nenhuma. Teve uma consequência eleitoral e não cabe anistia para isso.


UOL - Já superou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ter escolhido Hugo Motta (Republicanos-PB), e não o senhor para sucedê-lo?

Elmar - Não se ganha tudo. Muita gente se prepara a vida toda para uma coisa e não dá certo, e tem gente que não faz nada e dá certo. É, como a Presidência da República. Dizem que é destino, não é? Bolsonaro faz tudo errado e virou presidente.




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