Para 79% dos brasileiros, polícia é mais violenta com negros do que com brancos

Folha de São Paulo
Para 79% dos brasileiros, polícia é mais violenta com negros do que com brancos Anita Leite, 36, e seu filho Isaac, 16, que moram em São Paulo; ela orienta ele para o caso de abordagens da polícia - Jardiel Carvalho/Folhapress

A maioria dos brasileiros acredita que, ao abordar uma pessoa negra, a polícia tende a ser mais violenta do que ao abordar uma pessoa branca. Segundo uma pesquisa do Datafolha divulgada em 23 de novembro de 2024, 79% dos entrevistados compartilham dessa opinião, enquanto 17% discordam.

O levantamento aponta que 28% dos brasileiros já foram abordados pela polícia para uma revista. Esse índice é maior entre pessoas pretas (34%), seguido de pardas (29%) e brancas (24%). A diferença é ainda mais marcante entre homens (50%) e mulheres (8%). A pesquisa, realizada de 5 a 7 de novembro de 2024, entrevistou 2.004 pessoas de 16 anos ou mais em 113 municípios de todas as regiões do país. A margem de erro geral é de dois pontos percentuais, variando entre três e cinco pontos nos recortes de cor da pele.

Para Evandro Cruz Silva, pesquisador em violências de Estado e relações raciais, os dados confirmam que o policiamento no Brasil opera com base em perfilamento racial, tornando pessoas negras os principais alvos. Já o sociólogo Paulo César Ramos, autor do livro Gramática Negra Contra a Violência de Estado (2024, Elefante), reforça que o policiamento ostensivo não reduz o crime, mas perpetua práticas históricas de racismo institucional. Segundo ele, o jovem negro é o principal alvo da violência policial, enquanto convenções sociais tendem a excluir mulheres desse perfil de suspeição.

Carolina Pereira, advogada, explica que pardos são mais abordados do que brancos, mas menos do que pretos, devido a fatores como a maior proporção populacional e a "passabilidade" — ou seja, a capacidade de transitar entre diferentes grupos raciais dependendo de sua classe social, indumentária e território.

O medo de pais e mães em relação à violência policial também foi avaliado. Entre entrevistados com filhos, 68% disseram temer que seus filhos sejam abordados de forma violenta pela polícia, sendo que 43% relataram ter muito medo. Entre pais e mães negros, o temor é ainda maior: 75% (55% com muito medo). Para pardos, o medo chega a 70%, enquanto para brancos é de 61%. No recorte por gênero, 50% das mães têm muito medo, frente a 34% dos pais.

Ramos aponta que pais e mães negros temem que seus filhos vivenciem situações semelhantes às que já enfrentaram. Muitas vezes, a abordagem policial funciona como um "ritual de racionalização", revelando que mesmo uma pigmentação mais clara não exime alguém do lugar de suspeito. Essa realidade leva os pais a orientarem seus filhos sobre como se comportar em público e durante abordagens policiais.

A assessora de eventos Anita Leite, mãe de Isaac, de 16 anos, relata que conversa com o filho, que é pardo, sobre como agir em uma abordagem policial. "Oriento as respostas, peço para ele andar sempre com o RG e ser cuidadoso. Sei que ele defenderia os direitos das minorias, mas temo que isso possa colocá-lo em situação de risco", explica.

No quesito confiança na polícia, os brasileiros atribuíram uma nota média de 5,9 em uma escala de zero a dez. Entre brancos e pardos, as notas foram 6,1 e 6,0, respectivamente, enquanto entre pretos o valor caiu para 5,2. Além disso, 28% das pessoas negras deram à polícia notas de confiança entre 0 e 3, índice superior ao de brancos e pardos.

Ramos conclui que esses números refletem a dualidade entre a necessidade e a desconfiança em relação à polícia. "Todo cidadão sabe que precisa da polícia, mas ninguém gostaria de depender dela."

O arquiteto Anderson de Almeida, de 40 anos, conta que tenta confiar nas forças de segurança, mas reconhece que o preconceito e as condições de trabalho dos policiais impactam suas atitudes. "Já fui seguido pela polícia em bairros nobres de São Paulo. Quando precisei do trabalho policial, senti a necessidade de afirmar que sou arquiteto para ser ouvido. Essas experiências me fazem confiar pouco na instituição", lamenta.




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