Presidente da Coreia do Sul decreta lei marcial e Exército ocupa Parlamento; oposição alerta para golpe de estado
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, anunciou a imposição de lei marcial nesta terça-feira (3), surpreendendo a nação em meio a uma intensa disputa com a oposição. As atividades políticas e as liberdades civis foram suspensas, e as forças armadas ocuparam as ruas de Seul, além de terem invadido a Assembleia Nacional.
"Eu declaro lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas da Coreia do Norte, para erradicar as desprezíveis forças antiestatais pró-Coreia do Norte que estão pilhando a liberdade e a felicidade do nosso povo, e para proteger a ordem constitucional", disse Yoon.
A oposição declarou que não reconhece a medida e a considera uma tentativa de golpe por parte do presidente. Até mesmo aliados de Yoon, como o líder de seu partido, criticaram a decisão. Imagens nas redes sociais mostravam grupos de pessoas em frente ao Parlamento, que estava cercado por soldados, enquanto tropas tentavam ocupar o plenário do edifício.
De acordo com o Comando de Lei Marcial, estabelecido por Yoon, as liberdades civis estão severamente limitadas. O Exército informou que aqueles que desrespeitarem as regras poderão ser detidos, e as atividades políticas de partidos, tanto dentro quanto fora do Parlamento, estão proibidas, pelo menos por enquanto.
A lei marcial é geralmente invocada em períodos de guerra, como no caso da Ucrânia. Vale lembrar que Seul se encontra em um conflito congelado com Pyongyang desde o armistício que encerrou três anos de combates em 1953.
Yoon, do conservador Partido do Poder do Povo, tem enfrentado resistência no Congresso, que é dominado pelos liberais do Partido Democrático. Esta agremiação oposicionista possui 170 dos 190 assentos, enquanto o governo conta com 108 deputados.
A mais recente controvérsia envolve o orçamento do próximo ano, que os adversários alegam ser uma cortina de fumaça para desviar a atenção de escândalos envolvendo aliados do presidente e até mesmo sua esposa, criticada por aceitar uma bolsa de luxo e acusada de manipulação do mercado de ações.
O líder da oposição, Lee Jae-myung, declarou que a lei marcial é inconstitucional. Ele convocou uma reunião de emergência no Parlamento com membros de seu partido, mas foi impedido de entrar por soldados, conforme relatado pela mídia local.
A gravidade da crise, apesar das constantes tensões entre governo e oposição, não era esperada dessa maneira. A política sul-coreana sempre se destacou por suas disputas, contrastando com o crescimento econômico do país. Desde a sua fundação em 1948, a Coreia do Sul foi governada por ditaduras militares e líderes autocráticos até 1987, quando começou a transição para uma democracia liberal, que se consolidou plenamente apenas em 2002.
No Parlamento, a dinâmica política, que às vezes se tornava cômica com as famosas brigas físicas entre os deputados, não indicava uma possível regressão aos tempos de golpes militares. Em um pronunciamento inesperado em rede nacional no final da manhã (horário de Brasília), Yoon afirmou que "não teve outra escolha". Ele destacou que a gota d'água foi uma moção do Partido Democrático para barrar alguns procuradores de Estado, além da rejeição ao orçamento proposto pelo Executivo.
A acusação de que a oposição apoia a Coreia do Norte também parece infundada. Nos últimos meses, a aprovação de Yoon caiu para os níveis mais baixos desde que assumiu o governo em 2022. Na semana passada, uma pesquisa do instituto Gallup Korea revelou que apenas 19% dos sul-coreanos apoiam o presidente.
Seu rival, Lee, a quem Yoon derrotou por uma margem estreita na eleição presidencial anterior, declarou à agência Yonhap que o país será "governado por tanques, veículos blindados de transporte de pessoal e soldados armados com armas e facas".
"A economia da República da Coreia vai colapsar de forma irreversível. Meus concidadãos, por favor venham à Assembleia Nacional", disse, usando os nomes formais do país e do Congresso. A Bolsa de Seul poderá não abrir nesta quarta (4), e há o won, moeda local, sofreu queda ante o dólar.
A crise ocorre no momento de grave tensão com a Coreia do Norte, cujo ditador Kim Jon-un recrudesceu a retórica militarista e até explodiu estradas que ligavam os dois países. Kim assinou um polêmico acordo de defesa mútua com a Rússia de Vladimir Putin e aparentemente enviou soldados para lutar na Ucrânia.
Os Estados Unidos, principais apoiadores de Seul, afirmaram estar "monitorando a situação", conforme comunicado da Casa Branca. Yoon é um aliado próximo de Washington, essencial para a estratégia americana de conter a China na região da Ásia-Pacífico.
Desde o governo anterior ao de Yoon, a retórica de Washington contra Pyongyang se intensificou. No ano passado, os sul-coreanos foram incluídos no comitê responsável por definir o uso de armas nucleares em resposta a um ataque do Norte, o que gerou críticas da Rússia e da China, aliadas de Kim.