Golpe de casal já é o maior já registrado no agro brasileiro
Os principais alvos da operação que resultou no bloqueio de R$ 19 bilhões, Vinícius de Mello e sua esposa, Camila Rosa Melo, são acusados de liderar o maior golpe contra o agronegócio já registrado no Brasil, conforme informações da Polícia Civil de Goiás (PC-GO). O casal, com o apoio de empresas criadas para sonegar impostos e lavar dinheiro, movimentou R$ 1,2 bilhão entre 2021 e 2024, o que representa cerca de R$ 400 milhões por ano.
Atuando como corretores de grãos, os suspeitos compravam e vendiam produtos agrícolas em Rio Verde, uma cidade goiana que ocupa a 5ª posição entre os 100 municípios brasileiros mais ricos do agronegócio. Na prática, após receber as produções, eles não pagavam ou pagavam um valor inferior ao acordado com os produtores e também não entregavam toda a carga aos clientes. Depois, vendiam os produtos e transferiam os valores para empresas-fantasmas, registradas em nome de laranjas, para ocultar e lavar o dinheiro.
Até o momento, 13 pessoas já procuraram a PC-GO para denunciar o crime. Contudo, a corporação acredita que o número de vítimas pode ser ainda maior, uma vez que Vinícius não formalizava contratos, estabelecendo acordos apenas verbalmente, ou seja, “no papo”, como é comum na linguagem popular.
“São chamadas de empresas noteiras. São empresas que servem apenas para emissão do documento fiscal, das notas fiscais, e não havia o recolhimento dos tributos devidos”, afirmou ao Fantástico o delegado Márcio Marques.
Conhecido no setor, Vinícius, um gaúcho que se tornou milionário em poucos anos, é procurado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) desde a semana passada, assim como sua esposa, Camila. A Polícia Civil de Goiás (PC-GO) suspeita que o casal tenha fugido para os Estados Unidos para escapar da prisão.
O empresário, de 40 anos, mudou-se para Rio Verde na década de 1990. Carismático e bom de conversa, ele construiu uma reputação no meio rural, comprando soja, milho e algodão de produtores para revender no mercado. No entanto, em junho deste ano, ele e a esposa desapareceram de forma misteriosa, deixando um rastro de prejuízo estimado em cerca de R$ 38 milhões devido a golpes.
“Acho que uns oito anos que ele tava negociando com o pessoal e sempre deu certo, sempre deu certo. Ele foi lá no armazém e combinou comigo para embarcar em 30 dias, e ele embarcou muito rápido, achei até estranho, colocou muito caminhão grande, de nove eixo, rapidão, e retirou o produto ”, disse o produtor rural Carlos Freitas de Paula Filho, ao dominical da Globo.
O negócio foi concluído em março, e Vinícius se comprometeu a realizar o pagamento em 90 dias, mas isso não ocorreu. “O sentimento é desespero, porque a gente contava com esse dinheiro, com esse valor pra cumprir nossos compromissos futuros”, conta o também produtor rural, Paulo Ricardo Sousa Freitas.
Ainda em junho, Vinícius escreveu um e-mail pros produtores, em que dizia que, “devido a algumas ameaças recebidas, o ambiente não é seguro pra minha família. Portanto, preservando a nossa integridade física, resolvi não retornar a cidade”.
Ainda em junho, Vinícius escreveu um e-mail pros produtores, em que dizia que, “devido a algumas ameaças recebidas, o ambiente não é seguro pra minha família. Portanto, preservando a nossa integridade física, resolvi não retornar a cidade”.
A operação
A Polícia Civil de Goiás (PCGO) conduziu uma operação para desmantelar uma quadrilha especializada em golpes contra produtores rurais e sonegação fiscal. Durante a ação, os agentes apreenderam 468 veículos, duas aeronaves, sete imóveis e solicitaram o bloqueio de R$ 19 bilhões.
A operação ocorreu nos dias 28 e 29 de novembro nas cidades de Rio Verde, Morrinhos, Goiânia, Santo Antônio da Barra, Montividiu, além de ações nos Estados Unidos. No total, quatro pessoas foram presas e 18 mandados de busca e apreensão foram executados.