Votação para definir presidência da Frente Evangélica é adiada após articulação de 'ala bolsonarista'
A votação para definir o novo presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso, que estava marcada para esta quarta-feira, foi adiada. A decisão do presidente do colegiado, o deputado Silas Câmara (Republicanos -AM), comunicada ao grupo nesta segunda-feira, atende a pedidos de impugnação da eleição apresentados pelos candidatos à presidência Gilberto Nascimento (PSD-SP) e Greyce Elias (Avante-MG).
A medida é vista por integrantes como uma estratégia dos parlamentares, ambos do grupo que apoia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de ganhar tempo para conquistar mais votos e bater o candidato ligado ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ).
O deputado Gilberto Nascimento nega que o pedido de impugnação da eleição tenha sido uma estratégia para ganhar tempo para conquistar mais votos e garante que chegou, inclusive, a retificar o documento que tinha apresentado.
— Fiquei com dúvidas sobre o dia, a hora e o local da eleição, por isso apresentei o pedido de impugnação. Mas fui respondido pelo presidente do colegiado, o deputado Silas Câmara, que me ligou para falar do assunto, e fiz uma errata retirando a solicitação.
Não tem nenhuma estratégia, mas achei a decisão de adiar acertada, para dar tempo de organizar a votação de forma eletrônica, que é minha sugestão — explicou.
Já a candidata Greyce Elias, que também consta como autora de um pedido de impugnação, diz que fez solicitação por considerar que o pleito não está respeitando o estatuto que rege o colegiado. Segundo ela, o prazo entre as inscrições das candidaturas e de votação deveria ser de sete dias, e antes estavam sendo contados apenas seis, e que houve uma obrigatoriedade de inscrição presencial que não existe no regimento.
— Todos os gabinetes dos integrantes da frente também tinham que ser notificados da eleição, para garantir a transparência, o que também não aconteceu. Mas não vejo a decisão como uma estratégia que beneficiaria do deputado Gilberto Nascimento, que vejo no momento como o favorito e que seria beneficiado com a votação agora — avalia a parlamentar, que conta ter sido chamado pelo rival do PSD para compor uma chapa, mas que optou a se manter no pleito por considerar importante a presença de uma mulher entre os postulantes: — Nunca uma mulher concorreu à presidência e sou capacitada para o desafio.
Ao todo, quatro candidatos se inscreveram para o pleito, com a inclusão do nome do Fernando Máximo (União - RO). A disputa, no entanto, tem girado em torno de dois postulantes: Otoni de Paula, visto como um político próximo ao governo federal, e Gilberto Nascimento, que representa o grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O representante do PSD é apoiado ainda pelo pastor Silas Malafaia, que tem atuado nos bastidores para conquistar votos para o apadrinhado e não tem poupado críticas ao rival. Ele, no entanto, nega ter qualquer participação no pedido de adiamento da eleição.
— Nem sabia, não tenho nada a ver com isso. Não estou sabendo da atitude de Gilberto Nascimento , mas ele é um cara moderado, não joga para lado nenhum. É um cara equilibrado, que acha que a frente deve ser usada para defender as nossas pautas.
Otoni um dia desses era defensor intransigente de Bolsonaro e media o cacete no PT e Lula e agora virou defensor. Otoni já mostrou que é um vira casaca, vai fazer o jogo do governo. É uma vergonha até o governo querer interferir nisso (a eleição), mas acredito no bom senso dos deputados evangélicos, que não vão deixar a frente ser contaminada — afirmou o pastor.
Já Otoni de Paula garante respeitar Malafaia e se nega a rebater as críticas.
O parlamentar avalia que o adiamento do pleito foi uma estratégia de seus opositores, mas garante que vai respeitar a decisão e se preparar para o pleito, que só deve mesmo acontecer em fevereiro de 2025, data limite para a troca da presidência.
— Vejo pedido de adiamento como uma demonstração de que o outro lado não tinha certeza de que ia me vencer.
Claro que foi uma estratégia porque quando foram contar votos, entenderam que eu ia levar mesmo com todas as mentiras. Querem me colocar como um novo esquerdista gospel, mas não vai adiantar. A frente não está dividida, esse grupo é minoritário, e vou disputar lá na frente— adianta.
A frente escolhe um novo presidente a cada dois anos, usualmente na primeira semana de fevereiro.
Neste ano, contudo, os líderes tinha decidido antecipar o anúncio de quem será o representante no biênio de 2025-2026, para esta semana. Até este pleito, a bancada nunca colocou a decisão em votação e se orgulhava de escolher nomes de consenso.
Em 2023, sem unanimidade, Otoni se retirou da corrida e um acordo de presidência alternada foi costurado entre Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM).
Segundo ele, a decisão o cacifaria para ser o presidente na próxima gestão, sem necessidade de eleição. Mas a apresentação de novos nomes, que não aclamaram sua candidatura, levou a disputa para as urnas.