Empresário é preso pela PF por liderar quadrilha que desviava R$ 200 milhões em emendas parlamentares e subornos
O empresário José Marcos de Moura, conhecido como Marcos Moura na Bahia, foi preso nesta terça-feira (10) durante uma operação da Polícia Federal que investiga desvios de dinheiro público através de emendas parlamentares e contratos do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca). Ele é acusado de liderar uma organização criminosa que movimentou cerca de 200 milhões de reais desde 2020, junto com mais 16 pessoas.
Embora Moura seja relativamente desconhecido pelo público em geral, seus vínculos com o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, são bem documentados. Em 2022, o site Bastidor destacou a amizade entre os dois, revelando que Moura solicitava contribuições de empresários de diversas orientações políticas para o fundo de campanha de Neto ao governo da Bahia.
Durante a gestão de Neto na prefeitura, de 2013 a 2021, Moura acumulou vários contratos públicos relacionados à coleta de lixo em diversas cidades, além de Salvador. Ele também era proprietário da aeronave de prefixo PP-SKI, utilizada por Neto em suas viagens de campanha. Moura mantém relações próximas com o deputado Cacá Leão, do PP, um aliado de Neto.
As investigações, conduzidas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, apontam que Moura exerce influência sobre funcionários públicos em diversos estados, incluindo Bahia, Amapá, Rio de Janeiro, Tocantins e Goiás. No relatório da PF, ele é identificado como "líder" por Alex Parente, seu principal colaborador, que estaria envolvido em subornos a agentes públicos e manipulação de licitações para favorecer empresas ligadas ao grupo criminoso.
Alex Parente é proprietário de várias empresas investigadas por suspeitas de lavagem de dinheiro, incluindo Allpha Pavimentações e Serviços de Construções, Larclean Saúde Ambiental, Pap Saúde Ambiental, Qualymulti Serviços e Fap Participações. Ele e seu irmão, Fabio Rezende Parente, também foram alvos de pedidos de prisão preventiva.
As investigações começaram após suspeitas de superfaturamento em contratos com o DNOCS na Bahia, que somam 150 milhões de reais e foram analisados pelo Tribunal de Contas da União em 2023. O TCU constatou a falta de fiscalização nos serviços prestados e inconsistências nos cálculos apresentados nas licitações.
Um dos contratos investigados foi firmado com a prefeitura de Salvador, liderada atualmente por Bruno Reis, sucessor de ACM Neto. Este contrato, que previa a remoção de morcegos e outros animais das escolas municipais, foi estabelecido no início do ano, com a ajuda de Thiago Martins Dantas, secretário de educação da capital, e do funcionário público Flávio Henrique de Larceda Pimenta.
A PF revelou que esse contrato gerou 67 milhões de reais para a organização criminosa, com pagamento de propina realizado em eletrodomésticos e dinheiro, embora os detalhes sobre os valores exatos ainda não tenham sido divulgados.
A Polícia Federal revelou que um contrato firmado no início deste ano com a prefeitura de Campo Formoso (BA) foi conquistado após o pagamento de 100 mil reais em suborno. Segundo as investigações, a quantia foi necessária porque a organização criminosa não conseguiu desqualificar a empresa concorrente. A vitória na licitação foi facilitada pela proximidade de Alex Parente com Francisco Manoel do Nascimento Neto, que era o secretário-executivo do município na época da assinatura do contrato.
Após a conquista da licitação, Nascimento Neto solicitou que Parente repassasse uma quantia ao pregoeiro do processo, que havia sido "parceiro e ajudou" na negociação. Este pedido foi feito no mesmo dia em que a prefeitura de Campo Formoso emitiu uma ordem de pagamento de quase 5 milhões de reais para a empresa de Parente.
Nos dois anos anteriores, Nascimento Neto recebeu cerca de 101 mil reais de empresas ligadas a Alex Parente, conforme apurado pela Polícia Federal. Após garantir o contrato no início deste ano, ele ainda pediu a Parente mais 17,5 mil reais, além de autorização para utilizar um avião do empresário.