Cantora trans que fez dança erótica na UFMA aciona Justiça contra Nikolas Ferreira
A historiadora da arte e cantora trans Tertuliana Lustosa entrou com uma ação judicial contra o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) pela divulgação de uma performance erótica feita por ela na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Em imagens que viralizaram nas redes sociais em outubro do ano passado, a artista apareceu cantando e dançando o brega funk de sua autoria “Educando com o C*”.
Na época, o parlamentar mineiro compartilhou o vídeo se referindo a ela com pronomes masculinos e afirmou que o caso seria apurado pelo Ministério Público. O episódio polêmico aconteceu durante uma palestra do seminário "Dissidências de gênero e sexualidades", organizado pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (Gaep).
Na performance, Tertuliana mostrou os glúteos para a plateia e foi aplaudida após o término da apresentação.
Na época, ao compartilhar o vídeo em seu perfil nas redes sociais, o deputado se referiu à cantora como "um travesti" e disse que o momento serviria para "desvirtuar o local de sala de aula para poder fazer ativismo político".
— Isso daqui não é luta por cultura, por inclusão, pelo funk, pelo LGBT, por nada. Se for luta por alguma coisa, isso aqui é luta para poder destruir a educação do Brasil, isso sim — disse Nikolas.
Em resposta, a defesa da artista entrou com um processo no Tribunal de Justiça da Bahia contra o parlamentar, exigindo a remoção do vídeo e uma retratação do deputado.
A ação também pede uma indenização no valor de R$ 60 mil a ser paga por "infringir os direitos da autora, causando-lhe uma série de ofensas, ameaças e ataques", afirmou o advogado Ives Bittencourt, que a representa. Uma audiência online para tratar do caso foi marcada para o dia 27 de março.
Ao GLOBO, Tertuliana se referiu a Nikolas como "um fascista usando da sua imagem para ganhar audiência".
Procurada, a equipe do parlamentar mineiro não se pronunciou sobre o caso.
Saiba quem é Tertuliana
Nascida no interior do Piauí e criada em Salvador, Tertuliana Lustosa é historiadora, pesquisadora e autora do livro Manifesto Traveco-Terrorista. Em um de seus artigos científicos, intitulado “Educando com o c*: traveco-terrorismo e descolonialidade de gênero na arte”, ela defende o prazer e o corpo enquanto potências pedagógicas e artísticas.
Tertuliana também se apresenta como cantora e compositora da banda A Travestis, que lançou a música “Educando com o C*” nas plataformas de áudio. A pesquisadora ainda mantém um perfil no Privacy, uma plataforma online de conteúdo adulto. Em seu perfil no Instagram, com 75,4 mil seguidores, ela divulga seus trabalhos que propõe uma metodologia pedagógica diferenciada, voltada à liberdade sexual.
Com a repercussão do caso em outubro do ano passado, internautas criticaram a performance da historiadora e consideraram a apresentação como “vergonhosa” por ter sido feita em uma palestra num ambiente acadêmico.
Em nota, a universidade afirmou na época que "estaria averiguando o ocorrido e tomará as providências cabíveis, após o comprometimento de ouvir todas as vozes, reafirmando seu compromisso com um ambiente acadêmico inclusivo, respeitoso e transparente".