De pastor socialista a astronauta: a disputa inesperada pelo comando
Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) estão se preparando para assumir a presidência do Senado e da Câmara, respectivamente, contando com o apoio de governistas e bolsonaristas, com a eleição agendada para sábado. No entanto, existem candidatos menos proeminentes na disputa, considerados "azarões", que têm chances quase nulas de vitória. Na Câmara, Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) se opõem ao acordo que quebrou a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. No Senado, o bolsonarista Marcos Pontes (PL-SP) decidiu se candidatar independentemente do seu partido. Outros senadores na disputa incluem Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos do Val (Podemos-ES).
Um exemplo de um "azarão" que conseguiu vencer foi Severino Cavalcante (PP-PE), eleito presidente da Câmara em 2005, embora fosse parte do baixo clero, que compreende parlamentares sem grande influência política. Hoje, uma repetição desse fenômeno parece improvável, dada a atual correlação de forças nas duas Casas.
Na Câmara, Marcel Van Hattem e Henrique Vieira, que geralmente ocupam posições opostas nas votações, unificam suas vozes em defesa da transparência das emendas parlamentares, argumentando que isso não será garantido se Hugo Motta for eleito. No entanto, os deputados têm opiniões divergentes quando o assunto é a anistia para os condenados pelos eventos de 8 de Janeiro.
— Entendo que a Câmara é uma Casa plural e a direita, oposição ao governo, precisa ser representada por uma candidatura. A escolha pelo Hugo Motta tem ingerência direta do PT, o que nos deixa insatisfeitos. Defendo pautas como o impeachment do presidente Lula por crimes de responsabilidade, o combate aos abusos de autoridade do Supremo Tribunal Federal, a defesa das prerrogativas dos parlamentares e a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. O orçamento não pode ser secreto e precisa ter critérios claros de distribuição — diz Van Hattem.
Já Henrique Vieira diz que os condenados pelo 8 de janeiro não devem ser anistiados e critica Motta, que negocia o tema com parlamentares do PL.
— Antes de tudo, levanto a bandeira “sem anistia”. Houve uma tentativa de golpe contra a democracia no Brasil e a extrema direita que é autoritária e violenta cresce globalmente. Outra estratégia é dialogar sobre recursos públicos; R$ 50 bilhões saem do Congresso em emendas, parte significativa sem transparência.
No Senado, a candidatura de Marcos Pontes ocorre à revelia de Bolsonaro, que chegou a se referir ao correligionário como “traidor” por não apoiar Alcolumbre e lembrou que o apoiou para chegar ao Congresso. Pontes diz não temer punições ou represálias do partido.
— Fui eleito senador para representar e defender os interesses do povo brasileiro. O Congresso escolherá seu rumo entre a continuidade da estagnação, simbolizada pelo senador Davi Alcolumbre, ou a mudança que representa minha candidatura e meu compromisso com o futuro. Confio na integridade e no compromisso de pelo menos 36 senadores que se posicionaram a favor da bandeira: “Sim pela abertura dos pedidos de impeachment” —afirma, referindo-se ao afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
STF na mira
Girão diz que é candidato por acreditar que o Senado pode impedir que o STF avance sobre as prerrogativas dos outros Poderes.
— Mesmo sendo oposição ao governo Lula, eu não sou oposição ao Brasil. Minhas prioridades são a retomada da independência e separação entre os Poderes. Temos um STF ativista que tem invadido as prerrogativas do Congresso. Só o Senado pode barrar esses abusos. Eu vou colocar em pauta análises de pedidos de impeachments de ministros, até por uma questão pedagógica. Também defendo a anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro. São pessoas que não tiveram direito à livre defesa. Além disso, defendo o enxugamento das contas do Senado, com menos mordomias a parlamentares e verbas.
Marcos do Val também diz que terá no enfrentamento ao STF sua principal plataforma.
—Todos sabem da perseguição que venho enfrentando há dois anos, sendo o único senador que tem enfrentado o STF de frente e sozinho.