Carne se torna artigo de luxo na mesa do consumidor; especialistas explicam razões da alta
Em 2024, o preço da carne bovina impactou o bolso dos consumidores. Nos últimos 12 meses, houve um aumento de 20,84%, a maior variação em cinco anos, conforme dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Especialistas apontam que esse aumento é resultado da elevação da demanda, tanto interna quanto externa, especialmente no segundo semestre do ano anterior, além do ciclo de produção da pecuária.
Felippe Serigati, pesquisador e coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócio da FGV Agro, esclarece que as políticas fiscais expansionistas têm aumentado a circulação de dinheiro no mercado interno. "Quando há mais dinheiro circulando na economia, seja no bolso das famílias ou nas empresas, isso se traduz em maior demanda", diz.
A demanda externa alcançou um nível recorde em 2024, com exportações totalizando 2,9 milhões de toneladas, conforme informações da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Serigati ressalta que as dificuldades enfrentadas por outros fornecedores aumentam as oportunidades do Brasil nas vendas globais, especialmente para os Estados Unidos e a China, que são os principais destinos da carne bovina brasileira.
"O Brasil tem atendido uma parte da demanda norte-americana, enquanto países como Austrália e Argentina estão se recuperando de problemas em seus rebanhos", explica. Com a demanda aquecida, temos também o contexto atual da oferta. A redução nos preços da carne bovina, ocorrida entre janeiro de 2023 e agosto de 2024, desincentivou a produção de boi gordo. “Com a oferta mais baixa, houve um aumento natural de preços quando a demanda interna e externa se aqueceram”, diz Lygia Pimentel, diretora da Agrifatto.
Novo ciclo de valorização
A alta no preço do boi, observada desde o último trimestre de 2024, também impactou o valor do bezerro. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), na quarta-feira (29/01), a arroba do boi gordo estava sendo negociada a R$ 325,85. Por sua vez, o bezerro com peso médio de 221,45 quilos tinha um preço de R$ 2.639,34.
"A alta é resultado da estratégia dos pecuaristas de reter mais fêmeas em vez de vendê-las para o abate, visando aumentar a produção futura", diz Serigatti. Contudo, esse aumento não será imediato: o ciclo de produção de gado bovino pode levar entre 40 a 50 meses desde a prenhez da vaca até o abate do boi gordo.
“O que se observa hoje é o começo de uma nova fase de alta nos preços, após um período de liquidação de fêmeas, essenciais para a produção de bezerros”, afirma Lygia.
A liquidação mencionada foi uma reação dos produtores às dificuldades financeiras que enfrentaram em 2023 e 2024. Dessa forma, a recente valorização do bezerro indica que os preços da carne bovina podem se manter elevados até, pelo menos, 2026.
Serigatti observa que qualquer alteração significativa nos preços estará sujeita a fatores externos imprevisíveis, como restrições comerciais ou problemas de abastecimento em outros países. "É difícil ver uma queda no preço da carne no curto prazo, exceto se acontecerem eventos extraordinários", diz.
Com o aumento dos preços da carne bovina, os brasileiros estão optando por outras opções de proteína, como frango e suíno. A produção de aves e suínos alcançou recordes em 2024, e essa tendência pode se repetir neste ano.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção de carne de frango atingiu 15 milhões de toneladas, com 9,7 milhões destinadas ao mercado interno, resultando em um aumento de 1,1% no consumo per capita, que agora é de 45,6 quilos.
A produção de carne suína foi de 5,35 milhões de toneladas, com 4 milhões comercializadas internamente, e o consumo per capita cresceu 3,8%, alcançando 19 quilos.
Por outro lado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção de carne bovina no Brasil, que foi de 10,9 milhões de toneladas em 2024, deve sofrer uma queda de 5%, totalizando 10,37 milhões em 2025. O consumo per capita, que foi de 35 quilos por pessoa no ano passado, deve diminuir para 31,9 quilos este ano.