Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), eleitos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente, utilizaram seus discursos de vitória para reafirmar a importância das prerrogativas do Congresso. Ambos defenderam o controle do Orçamento conquistado por meio de emendas parlamentares, tema que gerou embates com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Autonomia do Legislativo

Alcolumbre ressaltou a necessidade de respeito entre os Poderes e cobrou o cumprimento de acordos, fazendo referência aos bloqueios de recursos após decisões do STF.

— É essencial respeitar o papel do Judiciário, mas também garantir que o Parlamento exerça sua função constitucional de legislar e representar o povo brasileiro — afirmou.

Já Motta enfatizou o poder do Congresso sobre o destino dos recursos públicos. Ele destacou que o Orçamento impositivo fortalece a autonomia legislativa, citando Ulysses Guimarães para reforçar que Executivo e Legislativo “são governo”.

— O Parlamento finalmente se reconcilia com as bases da Constituição de 1988 ao assegurar suas prerrogativas — declarou.

Recados políticos e pacificação

Além das questões orçamentárias, ambos os novos líderes legislativos mencionaram a necessidade de estabilidade econômica, pacificação política e rejeição ao extremismo. Motta, que recebeu a segunda maior votação da história da Câmara, citou Ulysses Guimarães 14 vezes e criticou o superpresidencialismo.

— A nova Constituição decretou o fim do presidencialismo absoluto e rejeitou qualquer forma de autoritarismo. Como dizia Ulysses: “Tenho ódio e nojo à ditadura” — discursou, encerrando com a frase “Ainda estamos aqui”, em referência ao sofrimento da família do ex-deputado Rubens Paiva, morto pela ditadura militar.

Alcolumbre pediu que o Senado se distancie do radicalismo e priorize a governabilidade até 2026.

— O Brasil precisa de um ambiente de respeito e cordialidade, onde as diferenças sejam vistas como oportunidades de crescimento — declarou.

Diálogo entre governo e oposição

Alcolumbre fez um gesto à oposição ao não descartar o debate sobre a anistia aos condenados do 8 de janeiro, pauta defendida pelo bolsonarismo.

— Discutir um tema não significa apoiá-lo. O debate precisa ocorrer sem contaminações políticas — disse à GloboNews.

Por outro lado, ele também sinalizou apoio ao governo, reconhecendo a legitimidade da agenda do presidente Lula.

— Nenhum senador tem autoridade para impedir a pauta do governo eleito democraticamente.

Economia e papel do Legislativo

Motta destacou que a estabilidade econômica deve ser prioridade, alertando para os riscos da inflação e da irresponsabilidade fiscal.

— Nada prejudica mais os mais pobres do que a inflação. Não se combate crise com medidas irresponsáveis. Nosso dever é garantir equilíbrio econômico pelo bem do povo brasileiro.

Sobre a disputa entre Legislativo e Judiciário a respeito da imunidade parlamentar nas redes sociais, Motta reafirmou a inviolabilidade das falas dos congressistas, defendendo o fortalecimento do Parlamento.

Com um discurso conciliador, mas firme na defesa das prerrogativas do Congresso, os novos presidentes da Câmara e do Senado iniciam seus mandatos buscando equilíbrio entre autonomia legislativa e diálogo institucional.