Mães relatam dificuldade em equilibrar uso das telas na criação dos filhos

Folha de São Paulo
Mães relatam dificuldade em equilibrar uso das telas na criação dos filhos Retrato de Ana Luiza com sua filha Magnólia. Ela costuma deixar a filha assistir à televisão ou vídeos no celular em momentos pontuais - Adriano Vizoni/Folhapress

Quando Ana Luiza Arra, 34, penteia o cabelo cacheado de sua filha Magnólia, 3, após o banho, ela enfrenta um desafio de paciência. Para manter a calma durante a tarefa, costuma colocar um videoclipe no celular para a filha assistir, o que a ajuda a ficar mais tranquila.

Embora este momento seja pontual, Ana Luiza reconhece a necessidade de recorrer aos aparelhos eletrônicos para facilitar o cuidado com a filha, apesar de tentar evitar ao máximo o contato da criança com as telas. Ela não está sozinha nessa realidade.

O debate sobre o uso de telas por crianças e adolescentes é um tema recorrente no Brasil, especialmente após a sanção de uma lei que proíbe o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos nas escolas públicas e privadas. Durante a assinatura da lei, o presidente Lula (PT) criticou as mães que entregam celulares às crianças para que elas parem de chorar, afirmando que isso é um comportamento desumano, que não contribui para a educação.

A discussão, no entanto, reflete a crescente individualização das famílias e o papel solitário de cuidadores, muitas vezes as mães, como explica Julieta Jerusalinsky, psicanalista e professora da PUC-SP. Ela observa que, com o afastamento das famílias extensas e a falta de uma rede de apoio coletiva, o cuidado se torna cada vez mais individualista, o que pode ser um problema em uma sociedade que exige mais conexões comunitárias.

Ana Luiza, mãe solo, enfrenta dificuldades ao não ter uma rede de apoio paga, o que a faz passar longos períodos sozinha com a filha, especialmente durante as férias. Ela explica que, mesmo com Magnólia estudando em período integral, seu trabalho ocupa mais tempo, o que a leva a recorrer aos dispositivos eletrônicos para conseguir realizar tarefas básicas, como alimentar a filha, ir ao banheiro ou lavar a louça. Ela tenta manter um controle rigoroso sobre o tempo de tela, permitindo apenas conteúdos de baixo estímulo.

Débora Adão, 35, também regula o tempo de tela das suas filhas, Kyara, 5, e Aylla, 2, bloqueando desenhos inapropriados. Ela permite que as crianças assistam à televisão enquanto prepara o café da manhã, mas insiste para que deixem os dispositivos durante as refeições e as incentive a brincar com brinquedos, livros ou outras atividades. Embora acredite que a tecnologia "rouba a infância" das crianças, ela admite que, em alguns momentos, cede ao uso das telas para poder dar conta das tarefas domésticas, já que não tem apoio e vive longe da família.

Esse relato é comum entre muitas mães que compartilham suas experiências em grupos nas redes sociais, questionando como distrair os filhos e lidando com a dificuldade de restringir o uso de telas. Muitas reconhecem que os dispositivos eletrônicos, apesar de problemáticos, ajudam a dar conta das demandas diárias.

Especialistas afirmam que a utilização das telas para evitar que as crianças interrompam os adultos ou exijam atenção pode prejudicar seu desenvolvimento, reduzindo as oportunidades de interação social e de lidar com frustrações. Julieta Jerusalinsky alerta que, antes de entregar um celular a uma criança, é essencial refletir sobre o que está sendo substituído. As telas podem funcionar como uma "chupeta eletrônica", afastando as crianças das interações e da exploração do ambiente.

A psicopedagoga Andrea Nasciutti concorda que a tecnologia em si não é o problema, mas sim como ela é utilizada. Ela destaca que muitas vezes os pais se acomodam com o uso das telas e não percebem os impactos disso no desenvolvimento infantil. Para contornar esse problema, ela sugere envolver as crianças em atividades diárias, como ajudar nas tarefas de casa, brincar com os adultos ou aprender a lidar com frustrações.

Nasciutti também observa que os pais precisam estar mais conscientes de sua própria relação com a tecnologia, pois isso pode influenciar diretamente no comportamento dos filhos. A parentalidade, segundo ela, deve ser intencional, e os pais devem ser um exemplo de equilíbrio.

Ana Luiza compartilha que, embora tenha tentado retardar o uso dos dispositivos eletrônicos por Magnólia, a filha acaba a vendo constantemente usando o celular, principalmente devido ao trabalho e outras atividades. Ela reconhece que precisa se policiar mais, mas acredita que o importante é manter um olhar atento e cuidadoso para as necessidades de ambos os lados.




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