PL de Bolsonaro deixa base de Zema na Assembleia e desenha cenário de afastamento para 2026
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O desgaste entre o Partido Liberal (PL) e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), chegou ao auge nesta quarta-feira, quando a sigla irá oficializar sua saída da base na Assembleia Legislativa. Os onze deputados do PL vão deixar um dos blocos governistas e criar uma bancada na Casa, mais à direita. O afastamento desenha um cenário de independência para as eleições do ano que vem.
A decisão de deixar a base ocorreu por uma disputa interna pela liderança do bloco Avança Minas na Assembleia Legislativa — composto por 25 parlamentares de oito partidos diferentes, incluindo o PL. Tudo começou nas eleições da mesa diretora no ano passado, quando os parlamentares do PL, Antônio Carlos Arantes e Gustavo Santana, disputaram a 1ª Secretaria da Casa. Com a vitória de Santana, Arantes ficou sem cargo e agora ameaça um acordo que vinha sendo costurado para que outro correligionário, Bruno Engler, assumisse a liderança do bloco, antes ocupada por Santana.
Aliados de Engler ouvidos pelo GLOBO relataram que, durante o recesso parlamentar, Arantes teria tentado reverter este cenário, com o intuito de se cacificar para o posto. Neste contexto, nove dos onze deputados concordaram com a saída do bloco e a criação da bancada, que será liderada por Bruno Engler.
Inicialmente, aliados de Engler queriam criar um novo bloco. O regimento interno da Casa prevê um quinto de representatividade, ou seja, 16 parlamentares. Como as conversas com outros partidos não andaram nos últimos dias, a empreitada caiu por terra.
Com a saída do "Avança Minas", Engler será reconhecido como um dos líderes da Assembleia e o PL atuará com independência do governo nos próximos dois anos.
A manobra é motivada por um desconforto com Zema. Segundo Cristiano Caporezzo, aliado de primeira hora de Engler, as propostas prioritárias dos parlamentares não teriam sido acolhidas pelo governador.
— Não faremos oposição, mas seremos uma bancada independente, para representar o trabalho mais à direita. A base do Zema vota contra os nossos projetos, tem nos sabotado — afirmou o deputado estadual.
Afastamento em 2026
Com a criação desta nova bancada, o cenário das eleições do ano que vem deve ser impactado. O PL tem proximidade com o senador Cleitinho (Republicanos), que já se coloca como candidato ao governo do estado, contra o sucessor de Zema, o vice-governador Mateus Simões (Novo), e com o apoio de seu partido. A união na Assembleia pode, assim, consolidar uma aliança eleitoral.
Recentemente, o PL tem mostrado entusiasmo ao redor de Cleitinho. A Quaest divulgada em dezembro colocou Cleitinho o senador em primeiro lugar, com 26% das intenções de voto. Simões, por sua vez, seria o candidato menos viável entre os nomes testados, com 2%.
Esta não seria a primeira vez que Cleitinho e PL estariam juntos e o governador, com um adversário. Nas eleições de Belo Horizonte, no ano passado, Engler foi o candidato bolsonarista, com o apoio do senador. Zema, por sua vez, preferiu Mauro Tramonte (Republicanos), juntando-se a eles, de forma tímida, apenas no segundo turno.
A relação entre Zema e PL sempre foi conturbada e, mesmo na base, o partido era um dos mais infiéis. No final de 2023, Engler foi demovido da vice-liderança do governo após votar contra uma proposta que aumentava em 2% a alíquota adicional de produtos considerados "supérfluos".
O rompimento estadual, todavia, ocorre em meio à construção do projeto presidencial do governador. Ele vem tentando se consolidar como o nome da direita nacional, que poderá herdar o espólio de Jair Bolsonaro (PL). No mês passado, contudo, em entrevista à CNN, o ex-presidente caracterizou o mineiro como uma liderança restrita ao seu estado. O paranaense Ratinho Júnior (PSD) recebeu mais elogios, sendo chamado de "bom nome".