Atendimento no Ipasgo é interrompido com paralisação parcial de médicos em Goiás
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Um grupo de médicos credenciados pelo Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás (Ipasgo) interrompeu o atendimento na manhã desta terça-feira (7). A médica Lara Roberta Marques, representante dos profissionais, informou ao g1 que as atividades em consultórios, exames e cirurgias eletivas foram suspensas, enquanto os serviços de urgência e emergência continuam funcionando normalmente.
De acordo com a médica, mais de 300 profissionais estão participando da paralisação. Entre as demandas dos médicos, destaca-se a regularização dos pagamentos pendentes referentes aos meses de julho, agosto, setembro, outubro e novembro de 2024. A paralisação está programada para encerrar na quinta-feira (20), às 7h da manhã.
O Ipasgo Saúde disse ter visto com a paralisação com estranheza, uma vez que “desconhece qualquer falta de pagamento à rede credenciada” e que “não recebeu um documento oficial da entidade para tratar de pauta reivindicatória”, esclareceu que a interrupção dos serviços envolve apenas um grupo de médicos e dentistas, correspondendo a aproximadamente 10% da rede credenciada, a qual é composta por quase 5 mil profissionais e entidades.
"A instituição pode provar que, desde setembro de 2024, repassou aos prestadores quase R$ 1 bilhão. Só nos dias 31 de janeiro e 14 de fevereiro de 2025, os profissionais que atendem beneficiários do plano de saúde receberam R$ 18,2 milhões", escreveu o Ipasgo.
Reivindicações dos profissionais
No dia 11 de fevereiro, a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) promoveu uma audiência pública em Goiânia para debater as questões apontadas pelos profissionais. Durante o evento, o presidente da comissão, Gustavo Sebba (PSDB), declarou que as irregularidades surgiram após a mudança na empresa responsável pelo faturamento.
“O usuário não consegue marcar exame, não consegue marcar consulta, um procedimento relativamente barato, chega lá falando que não tem vaga, porque o Ipasgo limita cotas. E aí tem vários profissionais que estão há quatro meses já sem receber”, explicou o deputado.
Existe um documento que apresenta reivindicações de mais de 600 profissionais credenciados. Além dos pagamentos referentes aos meses de 2024, os médicos associados ao Ipasgo solicitem:
- Data fixa para pagamento;
- Atualização da tabela de Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM);
- Realização de pagamentos simultâneos para honorários de consultas, cirurgias e procedimentos, consolidados em um único demonstrativo, com a disponibilização de demonstrativos detalhados em até 7 dias após o pagamento;
- Cobrança de diferença de acomodação e honorários de instrumentação cirúrgica;
- Pagamento direto aos médicos via pessoa jurídica ou física, rejeitando pagamentos feitos via hospitais;
- Adicional noturno para procedimentos;
- Exigência de identificação dos auditores responsáveis pela liberação de guias.
Em relação ao suposto problema para agendar consultas e exames pelos usuários, no dia da audiência pública, o Ipasgo afirmou que não há um sistema de cotas em funcionamento e que desde novembro de 2024 a ouvidoria não recebeu reclamações sobre exames.
Quanto às irregularidades mencionadas pelos profissionais de Saúde, o instituto negou que a rede credenciada esteja há meses sem receber pelos serviços realizados. Em comunicado, o instituto reconheceu que houve problemas pontuais no pagamento de prestadores em decorrência do processo de migração de sistemas, mas enfatizou que isso não afetou toda a rede credenciada.
“Entre setembro e dezembro de 2024, quase 3,3 mil prestadores do Ipasgo Saúde receberam mais de R$ 755,64 milhões. Neste total, estão incluídos R$ 71,7 milhões destinados a 2.601 prestadores pessoa física (médicos e demais fornecedores). Em 2025, já foram realizados R$ 190,72 milhões em pagamentos a prestadores, sendo R$ 23,74 milhões para prestadores pessoas físicas e R$ 166,98 milhões para prestadores pessoa jurídica (como hospitais)", escreveu o Ipasgo.
O Grupo Fácil, que gerencia o sistema Facplan e cuida do faturamento do Ipasgo, destacou que a integração do Ipasgo Saúde à ANS apresentou alta complexidade e considerável esforço que demandou "alterações significativas em todo o processo de faturamento dos prestadores".
Além disso, afirmou que está colaborando com o Ipasgo para determinar os valores que devem ser repassados a terceiros, incluindo médicos e outros prestadores de serviços.
Os médicos também relataram que os pacientes oncológicos do Ipasgo estão recebendo seus medicamentos quimioterápicos em casa, em vez de serem atendidos por farmacêuticos nas clínicas, o que tem causado problemas no tratamento. Conforme a médica Lara Roberta Marques, uma das queixas é que os medicamentos estão chegando através de entregadores e sem os devidos cuidados.
"O tratamento venoso que acontece nas clínicas não sincroniza com o oral, o que para o câncer é fundamental no resumo final", acrescentou Lara.
Em relação a essas acusações, o Ipasgo Saúde informou ao g1 que a entrega de medicamentos oncológicos orais integra o recém-lançado Programa de Atenção Farmacêutica, cujo propósito é proporcionar maior conforto aos pacientes em tratamento contra o câncer. "Por meio dele, os beneficiários, mediante recadastramento prévio, recebem medicações de alto custo em casa, sem qualquer cobrança, tanto pelo remédio quanto pelo serviço de entrega, um grande diferencial do plano de saúde", explicou o instituto.
O instituto informou que a atualização dos dados necessária para a aquisição do medicamento teve início em 9 de dezembro do ano passado. Reconheceu que, no primeiro mês de distribuição, surgiram dificuldades, como a falta de contato telefônico com os beneficiários e a recusa em fornecer informações por temor de golpes, o que impactou a logística. No entanto, enfatizou que esses foram casos isolados.
"Até agora, o delivery de medicamentos atende 1.784 beneficiários que atualizaram os cadastros junto à instituição. De janeiro até 15 de fevereiro foram realizadas 1303 entregas, com 1692 caixas de medicamentos. Neste momento, existem 140 pedidos em trânsito. Desde a semana passada, não há registro de reclamações sobre o programa junto a Ouvidoria do Ipasgo Saúde", explicou o instituto.
Nota do Ipasgo Saúde na íntegra:
"O Ipasgo Saúde viu com estranheza e perplexidade a decisão unilateral do Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego) de realizar uma paralisação nos dias 18 e 19 de fevereiro de 2025 sob a alegação de que não houve atendimento às demandas da categoria. O plano de saúde, até então, não recebeu um documento oficial da entidade para tratar de pauta reivindicatória.
A paralisação, que se restringe a um grupo de médicos e odontólogos, representa cerca de 10% da rede credenciada do Ipasgo Saúde, a maior de Goiás, composta por quase cinco mil pessoas físicas e jurídicas. Portanto, 90% dos prestadores, como hospitais, clínicas e a rede própria da instituição, mantêm atendimentos regulares às quase 600 mil vidas que estão sob os cuidados do plano de saúde.
O Ipasgo Saúde desconhece qualquer falta de pagamento à rede credenciada. A instituição pode provar que, desde setembro de 2024, repassou aos prestadores quase R$ 1 bilhão. Só nos dias 31 de janeiro e 14 de fevereiro de 2025, os profissionais que atendem beneficiários do plano de saúde receberam R$ 18,2 milhões. Caso, de forma excepcional, algum prestador identifique pendências, essas devem ser formalmente comunicadas para que o Ipasgo Saúde possa apurar e adotar, com celeridade, as providências cabíveis.
A suspensão injustificada e unilateral dos atendimentos aos beneficiários fere diretamente as regras contratuais estabelecidas e pode resultar em sanções, incluindo a rescisão do contrato e o descredenciamento do prestador. Por isso, o Ipasgo Saúde está monitorando a situação de perto e tomará todas as medidas necessárias para assegurar o cumprimento das normas, para fazer com que os direitos dos beneficiários sejam respeitados, para garantir plena assistência e que a qualidade no atendimento seja mantida.
O maior plano de saúde do Estado de Goiás esclarece que esses profissionais não têm vínculo empregatício com o Ipasgo Saúde. São autônomos e instituições independentes, que atendem aos beneficiários com base em contratos de credenciamento. Portanto, eles têm plena autonomia para solicitar descredenciamento a qualquer tempo, desde que respeitadas as condições pactuadas, inclusive a continuidade do atendimento aos beneficiários durante o prazo de aviso prévio.
O Ipasgo Saúde tem compromisso inegociável com a excelência, a continuidade dos serviços prestados e com diálogos responsáveis, construtivos e legítimos. A transparência, a ética e o respeito aos nossos beneficiários são valores que norteiam nossas ações."
"O Ipasgo Saúde esclarece que o delivery de medicamentos oncológicos orais faz parte do recém-criado Programa de Atenção Farmacêutica, cujo objetivo é levar mais conforto aos pacientes em tratamento de câncer. Por meio dele, os beneficiários, mediante recadastramento prévio, recebem medicações de alto custo em casa, sem qualquer cobrança, tanto pelo remédio quanto pelo serviço de entrega, um grande diferencial do plano de saúde.
A atualização de dados, necessária para recebimento do medicamento, começou no dia 09 de dezembro de 2024 e segue sendo realizada por meio do site www.ipasgo.go.gov.br. Até agora, o delivery de medicamentos atende 1.784 beneficiários que atualizaram os cadastros junto à instituição. De janeiro até 15 de fevereiro foram realizadas 1303 entregas, com 1692 caixas de medicamentos. Neste momento, existem 140 pedidos em trânsito. Desde a semana passada, não há registro de reclamações sobre o programa junto a Ouvidoria do Ipasgo Saúde.
O programa funciona por meio de contrato com uma empresa farmacêutica, que possui sua documentação devidamente regular e conta com o apoio de farmacêuticos que interagem diretamente com o beneficiário.
No primeiro mês de distribuição, dificuldades, como contato telefônico com o beneficiário e recusa de fornecimento de dados por medo de golpe, afetaram a logística, mas se trataram de casos excepcionais. Tanto, que o Ipasgo Saúde recebeu somente 30 (ou seja, 1,68%) questionamentos de pacientes atendidos, todos já devidamente solucionados e que serviram de base para revisão e aperfeiçoamento dos protocolos adotados pela empresa responsável pelo fornecimento das medicações.
Atualmente, sem exceção, os beneficiários aptos a participar do programa recebem os remédios em até 5 dias, caso residam na Capital, ou em até 7 dias, caso vivam no interior."