Cid diz que Bolsonaro 'mantinha a chama acesa' para que golpe fosse concretizado
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O tenente-coronel Mauro Cid, delator no inquérito que apurou uma trama golpista no país, disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nunca desmobilizou os manifestantes que ficavam nas ruas e nas portas dos quartéis-generais do Exército de que algo pudesse ser feito para impedir a posse do presidente Lula justamente com o objetivo de convencer as Forças Armadas a concretizarem o golpe.
A informação foi repassada por Cid ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso, em depoimento em novembro do ano passado.
— Ele tinha esperança que até o último momento fosse aparecer uma prova cabal que houve fraude nas urnas. E aí, sim, todo mundo visse, e aí teria aquele povo na rua, mobilização, as forças armadas. então, eu acho que era isso que passava na cabeça do presidente — disse o militar, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro na Presidência da República.
No depoimento, Cid afirmou que por isso Bolsonaro nunca desmobilizou as pessoas que ficavam na frente dos quartéis. O militar disse, inclusive, que foi por determinação de Bolsonaro que o Exército divulgou em novembro de 2022 uma assinada pelos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica na qual chamavam as manifestações de "populares" e que não constituía crime "a manifestação crítica aos poderes constitucionais".
Cid também foi questionado sobre um vídeo no qual o general Braga Netto, ex-ministro no governo Bolsonaro, dizia a manifestantes para não desistirem. "Ainda vai ter surpresa, eu não posso falar, mas...", disse em vídeo que circulou no fim de 2022. Sobre isso, ele reafirmou que tanto Bolsonaro quanto Braga Netto esperavam que algo pudesse acontecer para convencer as Forças Armadas a darem um golpe. Por isso, incentivavam a manutenção das mobilizações.
Na terça-feira, a PGR denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro Braga Netto e mais 32 pessoas por participação em uma trama golpista para mantê-lo no poder após ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. A denúncia foi oferecida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, e será apreciada pela Primeira Turma da Corte após ser liberada pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.
De acordo com a acusação, Bolsonaro cometeu os crimes de organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do estado democrático de direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Nesta quarta-feira, Moraes retirou o sigilo sobre a delação de Cid e sobre os depoimentos do tenente-coronel.