Delação de Cid implode esperança de livrar Bolsonaro em caso de cartão de vacina e joias
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A divulgação da delação do tenente-coronel Mauro Cid trouxe novos detalhes que podem enterrar a esperança dos aliados e defensores de Jair Bolsonaro de que ele fosse inocentado nos inquéritos que investigam a fraude no cartão de vacinação do ex-presidente e o desvio das joias recebidas de presente da Arabia Saudita. Nos dois casos Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal.
Até agora, os bolsonaristas diziam acreditar que não havia provas da participação do ex-presidente em nenhum dois casos. Nos últimos dias sugeriram, inclusive, que a Procuradoria-geral da República não tinha acusado Bolsonaro por esses episódios na mesma ocasião da trama golpista porque seriam denúncias mais fracas.
No episódio do cartão de vacinação, por exemplo, afirmavam que não havia nenhuma evidência de que Bolsonaro tinha ordenado ou sequer sabia da fraude nos cartões de vacinação dele e de sua filha, Laura, para que passassem a constar que eles tinham sido imunizados contra a Covid-19.
Em seu depoimento, porém, Cid colocou o ex-presidente no centro dos acontecimentos ao dizer que foi ele quem pediu que a falsificação fosse feita “para uma necessidade qualquer”.
O ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro fez o pedido depois de saber que ele, Cid, “possuía os cartões de vacina para si e sua família”.
A delação também dificulta a defesa de Bolsonaro no caso das joias quando Cid afirma que foi o ex-presidente quem ordenou que ele vendesse dois relógios, depois de mandar o auxiliar fazer um levantamento dos presentes que ele tinha ganhado e apurar quais eram os mais fáceis de passar adiante.
Em seu depoimento, Mauro Cid é bem claro quando diz que, no começo de 2022, Bolsonaro “estava reclamando dos pagamentos de condenação judicial em litígio com a deputada federal Maria do Rosário e de gastos com a mudanças e transporte do acervo que deveria arcar, além de multas de trânsito por não usar o capacete nas motociatas”.
Por causa disso, Bolsonaro não só teria pedido que Cid vendesse os relógios, como autorizado as tratativas e acompanhado tudo.
De acordo com Cid, os relógios foram vendidos para lojas nos Estados Unidos e levantaram US$ 86 mil dólares. O dinheiro, então, teria sido entregue em espécie a Bolsonaro pelo pai do Mauro Cid, o Lorenna Cid, uma delas em Nova York em setembro de 2022, durante a assembleia geral da ONU.
Para além do insólito da cena – um general entregando dinheiro em espécie para o presidente em uma viagem oficial –, esses dois trechos da delação complicam bastante a situação de Bolsonaro.
Embora sejam informações que só estão na delação, elas se encaixam nos fatos já revelados pela PF a partir de mensagens, emails e outras evidências. E são mais um problemão para quem já está bem enrolado na investigação da trama golpista