Fintech ‘salva casamentos’, Noh alcança primeiro bilhão em transações
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Brigas pela falta de intimidade nas questões financeiras costumam ser apontadas como segunda causa de divórcio no país — só perde para traição. E foi pensando na própria relação quando o namorado se mudou para casa dela no primeiro dia de pandemia que Ana Zucato resolveu criar a Noh, uma conta digital projetada para ser operada em conjunto.
Lançada há três anos, a conta digital acaba de bater a marca de R$ 700 milhões em transações — e até o final de março deve superar a marca de R$ 1 bilhão. Quando fez dois anos, a fintech comemorou R$ 50 milhões em transações. Já o número de clientes cresceu 18 vezes neste último ano.
A Noh ganhou um impulso com a entrada da influenciadora de finanças pessoais Nathalia Rodrigues de Oliveira, a Nath Finanças — que virou sócia e divulgadora – em outubro passado. (E como em casa de ferreiro o espeto é de pau, a influenciadora chegou até a Noh buscando “conta conjunta” no Google, quando estava tendo problemas em lidar com dinheiro com a companheira na própria casa.)
As contas conjuntas tradicionais, diz Zucato, “pararam no tempo em que as mulheres não trabalhavam” ou não podiam ter conta. E os digitais não atentaram para esse “nó” nas relações.
— Nenhum outro banco digital oferece conta conjunta. E os bancos tradicionais são burocráticos, tinha que ir na agência, provar que há consenso para abrir a conta. E não é uma conta de iguais. Ou você é o dono da conta ou é dependente ou adicional — diz Ana.
No universo digital da conta grátis, a Noh se diferencia por ser a única a cobrar tarifa. Isso reduz o potencial de crescimento da base, mas em contrapartida a fintech não sofre para fazer ativação de conta: quem paga a tarifa, se engaja intensamente.
— A gente é a primeira segunda conta dos clientes — diz Ana, que trabalhou 15 anos atuando em fintechs antes de fundar o Noh. Fez carreira no Intuit e no Guia Bolso, onde conheceu o CTO e co-fundador, Octavio Turra, com quem não é casada.
Hoje a tarifa é de R$ 14 ao mês para o casal — e a julgar pelos comentários de clientes engajados, o investimento parece sair mais barato que a terapia de casal.
Para além de serviços como pix, cartão de crédito pré-pago e plataforma de investimentos integrada com a corretora Warren, o Noh facilita a (difícil) conversa sobre dinheiro entre os casais.
Cada um tem a sua conta – e as duas contas se entrelaçam em caixinhas de despesas personalizadas. Dá pra escolher um nome pra conta conjunta e colocar a foto do cachorro na caixinha das despesas com o pet. E tem a caixinha da viagem, da feira etc. Os dois são notificados quando um faz um gasto no cartão. E as conversas são facilitadas com emojis que um pode colocar de comentário para a despesa do outro.
— Tem que ter leveza para a conversa sobre dinheiro, para o relacionamento ficar em paz — diz Ana. — A maior parte das pessoas traz pra conta apenas o dinheiro combinado para as despesas conjuntas. É importante manter a individualidade com a outra conta — diz Ana,
Sem precisar monetizar a todo custo, a Noh não vende dados de clientes e “não tenta empurrar uma batedeira quando você só quer ver seu extrato”.
A conversa é sobre transparência – tanto na relação com o dinheiro como na relação da Noh com os clientes. No site da fintech um manifesto explica a razão da cobrança da tarifa. E a CEO mantém um diário no Linkedin e um podcast no Spotify onde compartilha os bastidores da fintech.
ANJOS UNICÓRNIOS
A Noh tem uma estrutura enxuta: são 11 pessoas. E tem sobrevivido com os recursos de uma rodada semente de R$ 17 milhões captada em 2021 com os fundos Kindred Ventures, Future Positive, Propel e 20VC. A rodada também atraiu como anjos os fundadores de unicórnios como Patrick Sigrist (iFood), André Penha (Quinto Andar), Pedro Conrade (Neon) e Ariel Lambrecht (99). A expectativa é fazer uma nova rodada, série A, só no ano que vem.
A Noh usa a estrutura de infraestrutura bancária white label da Dock – a mesma usada para lançar o Nubank e o Neon. A Noh também está na fase 3 do Open Finance e o cliente consegue puxar dinheiro de outros bancos para a conta conjunta sem precisar sair do app. No Brasil só Noh e Mercado Pago oferecem a funcionalidade.
Novas funcionalidades estão a caminho. No próximo mês, entram em vigor as ‘regras’, que são comandos automáticos para programar transferências, seja quando entrar um determinado valor ou a partir de uma data.
Com um público na casa dos 30 ou 40 anos, a Noh tem atraído clientes principalmente no Instagram, onde engaja casais com um “reality show” em que eles podem se candidatar para assumir a conta digital por um mês. Quem conseguir viralizar ganha uma pequena participação na empresa. Dois casais já garantiram suas ações. A empresa também tem uma profissional cujo cargo é ser Cupida. Entre as suas atribuições está a de sugerir o match entre potenciais clientes que se engajam nas redes da Noh.