Grupo japonês busca investimentos da Tesla, de Elon Musk, na Nissan, diz jornal
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Um grupo japonês de alto nível tem planos para buscar investimentos da Tesla, de Elon Musk, na Nissan para ajudar a montadora em dificuldades após o colapso das negociações de fusão com a Honda, informou o jornal Financial Times nesta sexta-feira.
Com a notícia do possível investimentos, as ações da Nissan subiram mais de 12%, antes de fecharem com alta de 9,5% na Bolsa de Tóquio.
O grupo acredita que a fabricante de veículos elétricos tem interesse em adquirir as fábricas da Nissan nos Estados Unidos, informou o jornal, citando fontes. A proposta prevê um consórcio de investidores, com a Tesla como principal financiadora, mas também considera a possibilidade de um investimento minoritário da Hon Hai Precision Industry, mais conhecida como Foxconn, para evitar uma aquisição total pelo fornecedor da Apple, segundo a reportagem.
A Nissan se vê mais uma vez precisando de um resgate depois que um acordo com a Honda para unir ambas as marcas sob uma única holding foi oficialmente encerrado no início deste mês. Enquanto busca um novo parceiro — o CEO Makoto Uchida afirmou que seria difícil sobreviver sem um — a ideia de uma parceria com a Tesla foi recebida com ceticismo por analistas do setor.
Isso se deve, em parte, às próprias dificuldades da Tesla, já que a demanda por veículos elétricos está desacelerando. No mês passado, a empresa registrou sua primeira queda anual de vendas em mais de uma década e cortou mais de 10% de sua força de trabalho.
Além disso, adquirir participação em outra montadora representaria uma mudança significativa na estratégia de investimentos da Tesla, que normalmente se concentra em empresas que apoiam suas ambições tecnológicas no setor de EVs.
Também não está claro quais ativos da Nissan poderiam atrair interesse. A montadora possui três fábricas nos EUA e já alertou que pode desacelerar a expansão planejada da produção de veículos elétricos em sua unidade de Canton, no Mississippi, devido a incertezas sobre políticas energéticas e comerciais sob a presidência de Donald Trump.
— Para a Tesla, é difícil imaginar qualquer vantagem em comprar a Nissan — disse Yasuhiko Hirakawa, chefe de investimentos da Rakuten Investment Management Inc. — Obviamente, ela não precisa de ativos tradicionais, como motores e linhas de montagem. É difícil imaginar algo que a Nissan possa oferecer e que a Tesla precise.
A proposta está sendo liderada por Hiromichi Mizuno, ex-diretor de investimentos do Fundo de Investimento do Governo do Japão, que integrou o conselho da Tesla como diretor independente de 2020 a 2023, segundo o Financial Times. O projeto também teria o apoio do ex-primeiro-ministro Yoshihide Suga e de seu ex-assessor Hiroto Izumi, informou o jornal,
Um porta-voz da Nissan se recusou a comentar a reportagem. A Tesla não respondeu imediatamente a um pedido de comentário por e-mail. Mizuno e um representante da Hon Hai também não responderam. O escritório de Suga não se manifestou até o momento.
As consequências do acordo cancelado com a Honda foram particularmente duras para a Nissan, que enfrenta vendas fracas, excesso de capacidade, uma linha de modelos desatualizada e impopular, além de uma liderança instável desde a destituição de Carlos Ghosn em 2018.
No entanto, apesar dos desafios da Nissan, sua ampla capacidade de fabricação e o reconhecimento da marca ainda atraem interessados.
A fusão de Honda e Nissan criaria a terceira maior fabricante de veículos do mundo e aspirava disputar o mercado com os principais nomes do setor de automóveis elétricos, como a americana Tesla e as empresas chinesas.
A Foxconn demonstrou um renovado interesse na Nissan após o colapso do acordo com a Honda. Além disso, a Bloomberg News informou no início deste mês que a KKR & Co. está avaliando um investimento na montadora.
A Nissan continua enfrentando riscos devido à sua reestruturação e ao cenário geopolítico desafiador. Na sexta-feira, a Moody’s Ratings rebaixou sua classificação de crédito para grau especulativo e manteve uma perspectiva negativa.
— Seja quem for o comprador, a reestruturação da Nissan é inevitável — disse Rieko Otsuka, estrategista da MCP Asset Management Japan.