Kassab diz que é preciso aguardar investigações contra Bolsonaro e afirma que políticos do PSD são livres para votar anistia
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O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse que é preciso aguardar as investigações após a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e afirmou que nada afeta a decisão dos parlamentares do PSD de apoiarem um projeto de anistia aos presos do 8 de janeiro.
— Vamos aguardar agora as investigações, mas nada afeta a decisão dos nossos parlamentares, que como qualquer votação do Congresso Nacional, vão ter a liberdade de votar (sobre o projeto de anistia). O PSD nunca fechou questão em relação a nenhum tema até hoje — afirmou Kassab após fazer uma palestra sobre cenários político e econômico na Associação Comercial de São Paulo.
No começo de fevereiro, em busca de apoio ao projeto de anistia para os condenados do 8 de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou de lado os ataques a Gilberto Kassab e teve uma conversa reservada com o presidente do PSD. Questionado sobre o encontro, Kassab disse que eles falaram sobre tudo.
— Dois políticos quando se encontram falam sobre tudo. Tivemos uma longa conversa, muito respeitosa, muito positiva, ele mostrando a sua visão do país, da política, mas não tivemos nenhum tema específico — afirmou.
Kassab disse que se depender dele, a relação com o ex-presidente vai continuar melhorando, já que Bolsonaro "foi presidente da República e é um grande e importante líder", afirmou.
O ex-titular do Palácio do Planalto se incomoda com a influência de Kassab no governo Tarcísio, no qual é secretário de Governo. Segundo correligionários, Bolsonaro teme que Kassab possa concorrer como vice de Tarcísio em uma eventual tentativa de reeleição ao governo de São Paulo em 2026. Nesse cenário, Kassab poderia assumir o Palácio dos Bandeirantes caso o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro renuncie ao cargo para disputar a Presidência da República mais à frente. Kassab negou essa intenção.
Em março do ano passado, Bolsonaro atacou Kassab em mensagem a aliados em um grupo de transmissão do WhatsApp. “O Kassab, pelos seus três ministérios, apoia as políticas do PT, como a ideologia de gênero, maconha, aborto, censura, defesa do MST, destruição da família, defesa do Hamas, desarmamento, fim da propriedade privada, etc.”, escreveu Bolsonaro sobre o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD.
Na palestra na Associação Comercial, entretanto, Kassab criticou pontualmente a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro dizendo que ele tinha todo o apoio da sociedade, mas esqueceu de governar para aquelas pessoas que estavam mais ao centro do espectro político — e foi se desgastando. Também criticou algumas posturas equivocadas do ex-presidente, como a negação da vacina contra a Covid-19.
— Houve equívocos políticos e ele foi se direcionando para os mais conservadores, com manifestações pessoais erradas, como o posicionamento em relação à vacina. Isso gerou a volta do presidente Lula — declarou.
Novas críticas ao ministro da Fazenda
Durante a palestra na Associação Comercial, Kassab voltou a falar da necessidade do governo ter um ministro da economia forte e se impor no governo. Ele citou governos anteriores de Lula, que teve Antonio Pallocci e Henrique Meirelles, na Fazenda e no Banco Central, respectivamente, e afirmou que ambos enfrentavam com respeito o presidente para impor suas ideias. Questionado, ele não respondeu se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deveria ser substituído na atual reforma ministerial.
Kassab atribui a essa condução forte da economia o fato de Lula ter adquirido capital político para obter cinco vitórias em eleições presidenciais: três dele próprio e duas de Dilma Rousseff.
— Não sou petista, mas reconheço isso, além dos bons programas de seus governos, como o Minha Casa Minha Vida (MCMV). Hoje, o que deixa o mercado preocupado não é que o ministro Fernando Haddad tenha ideias erradas ou não tenha feito nada. Mas na gestão pública não adianta o passado, conta o presente e o futuro. Ele (Haddad) está com enorme dificuldade de completar seu pacote e acaba passando a imagem de insegurança para a sociedade — afirmou.
Kassab disse que o fato de o Congresso ter emendas parlamentares que somam R$ 50 bilhões, mesma cifra que o executivo tem para investir, preocupa. Para ele trata-se de um valor absurdo e que precisa de transparência em sua aplicação. Ele também afirmou que também preocupa o fato de o governo não apresentar ações para reduzir o custeio.
— Nós que torcemos por uma estabilidade fiscal, não estamos vendo energia do governo, talvez boa vontade, mas falta energia do governo para cortar. O pacote de cortes apresentado trouxe no mesmo dia a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. São sinalizações ruins que o governo apresenta — afirmou Kassab, que disse defende uma reforma administrativa não para reduzir salários, mas sim para aumentar a eficiência do Estado.