Lideranças da direita e do centrão criticam insistência de Bolsonaro em 2026

Folha de São Paulo
Lideranças da direita e do centrão criticam insistência de Bolsonaro em 2026 reprodução

Lideranças da direita e do centrão têm demonstrado, em conversas reservadas, resistência ao plano do ex-presidente Jair Bolsonaro de insistir em uma chapa encabeçada por ele para a eleição presidencial de 2026, apesar de sua inelegibilidade. Há preocupação de que a demora em admitir outra candidatura possa comprometer o desempenho do grupo nas urnas.

A recente denúncia da Procuradoria-Geral da República, que coloca Bolsonaro no centro de uma suposta tentativa de golpe e pode levar a uma condenação criminal em 2025, aumentou o desconforto entre aliados. Muitos acreditam que sua insistência em manter a liderança política pode acabar prejudicando-o, uma vez que um eventual indulto só seria viável com a vitória de um candidato alinhado ao seu grupo político.

Para setores da direita, o ideal seria definir um único candidato até o final deste ano, a fim de estruturar uma campanha nacional competitiva. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, surge como o principal nome entre as lideranças, embora ele tenha afirmado publicamente que pretende buscar a reeleição. Outras opções mencionadas incluem Ratinho Jr., governador do Paraná, Ronaldo Caiado, de Goiás, e Romeu Zema, de Minas Gerais.

Relatos indicam que aliados já tentaram convencer Bolsonaro a indicar um sucessor, mas ele se mostra irritado e reativo à ideia, encarando qualquer sugestão como uma traição. Seu círculo familiar adota a mesma postura, e há uma forte pressão para que não se admita outra candidatura até o último momento. Qualquer menção pública a um nome alternativo gera ataques nas redes sociais bolsonaristas.

Nos bastidores, alguns aliados comparam a situação ao cenário de 2018, quando Lula insistiu em sua candidatura até ser barrado pelo TSE, o que inviabilizou uma campanha nacional robusta para seu substituto, Fernando Haddad. Diante disso, há o entendimento de que a direita não pode repetir o mesmo erro. Apesar da queda na aprovação do atual presidente Lula, a viabilidade eleitoral de um nome alternativo depende do apoio de Bolsonaro.

Bolsonaro, no entanto, mantém a intenção de levar sua candidatura até o momento do registro, apostando em pressão popular e no apoio de aliados internacionais, como Donald Trump. Em um cenário de impugnação, ele cogita ter um vice de sua própria família, com Eduardo Bolsonaro sendo o nome mais provável. Outra possibilidade mencionada foi sua esposa, Michelle Bolsonaro, mas essa alternativa não é considerada viável entre aliados.

Além de rejeitar a ascensão de outras figuras da direita, Bolsonaro já fez críticas públicas a Caiado e minimizou a relevância nacional de Zema. Ele reforça constantemente que o candidato para 2026 será ele próprio, o que tem causado desconforto entre setores da direita que desejam consolidar um projeto político sem depender exclusivamente de sua figura.

Nos últimos tempos, algumas lideranças tentaram se desvencilhar da hegemonia de Bolsonaro. Um exemplo foi a eleição municipal de São Paulo, quando Pablo Marçal atraiu parte do eleitorado bolsonarista, mesmo enfrentando resistência da família Bolsonaro. Mais recentemente, Bolsonaro também enfrentou oposição interna ao rejeitar o discurso do impeachment de Lula em um ato político. Parlamentares como Nikolas Ferreira continuaram a defender o impeachment, contrariando sua orientação.

A investigação sobre uma suposta trama golpista fragiliza Bolsonaro e abre espaço para que outros nomes da direita tentem se consolidar. No entanto, o caminho até 2026 apresenta desafios. De um lado, buscar a vitória sem o apoio de Bolsonaro parece improvável. De outro, contar com ele pode gerar instabilidade, dado seu perfil personalista e inconstante.

A tendência é que Bolsonaro prolongue sua suposta candidatura até o limite legal, usando sua popularidade como moeda de troca. Ele pode negociar seu apoio a outro candidato em troca de um compromisso com anistia aos envolvidos no 8 de janeiro ou buscar influência em um eventual futuro governo. Seu maior trunfo não está na estrutura partidária ou na articulação política, mas na capacidade de transferir votos a quem apoiar. Assim, ele deve manter a incerteza o máximo possível, tentando garantir vantagens para si e para seu grupo político




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