Cresce o descrédito dos políticos e surgem novos falsos salvadores
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A política brasileira atravessa mais um momento de profunda desconfiança pública. No dia a dia as pessoas fazem piadas com a falta de picanha na mesa do brasileiro, nos jornais há sempre um novo escândalo envolvendo prefeitos, governadores, deputados em estranhas negociações milionárias e emendas enviadas tal qual Silvio Santos quando jogava dinheiro, rindo e perguntando “quem quer dinheiro?”. Uma pesada carga de impostos piorando a vida da população enquanto os deputados goianos aprovam auxílios para si mesmos de mais de dez mil reais, carros de luxo, auxílios moradias, verbas para combustíveis, verbas para uma multidão viajar sem trazer qualquer benefício para a cidade, estado ou para o país. Haja vista a enorme comitiva acompanhando Caiado na Índia.
E ainda assim as investigações sobre desvios nas emendas parlamentares, somadas à tentativa de reavivar a “PEC da Blindagem”, revelam um cenário preocupante: a classe política, em vez de enfrentar seus problemas, busca se proteger e perpetuar práticas que só ampliam o abismo entre ela e a sociedade. Esse comportamento, no entanto, não passa despercebido. Ele abre espaço para a ascensão de novos líderes que se apresentam como “fora do sistema”, mas que, na prática, muitas vezes reproduzem — ou até amplificam — os mesmos vícios que criticam.
A “PEC da Blindagem” é um exemplo claro de como deputados e senadores parecem mais interessados em se blindar do que em promover a transparência e a responsabilidade. A proposta, que busca limitar a atuação de órgãos de controle e dificultar investigações contra parlamentares, é uma afronta ao Estado Democrático de Direito. Ao tentar criar mecanismos que praticamente inviabilizam a investigação de desvios, os congressistas dão a entender que estão acima da lei. Essa postura não só mina a credibilidade das instituições, mas também alimenta o sentimento de que a política é um jogo de interesses, distante das necessidades reais da população.
Os escândalos recentes envolvendo emendas parlamentares são muitos, como o caso investigado pela Polícia Federal sobre um esquema de comercialização de emendas parlamentares feito por deputados federais do PL que exigia dos prefeitos a devolução de parte do dinheiro, e está evidente que o problema não é isolado. A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou repasses sem destino claro, enquanto o Supremo Tribunal Federal(STF) investiga suspeitas de desvios em cerca de R$50 bilhões em emendas. Esses números são um retrato de uma falha proposital em garantir a correta aplicação do dinheiro público.
Diante desse cenário, não é difícil entender por que tantos cidadãos se sentem desiludidos com a política tradicional. É justamente nesse contexto de descrédito que surgem figuras que se auto intitulam “fora do sistema” como coachs e aventureiros como o cantor Gusttavo Lima. Prometendo combater a corrupção e “renovar a política”, esses líderes se apresentam como alternativas ao establishment. No entanto, muitos deles, uma vez no poder, revelam-se tão ou mais problemáticos que aqueles que criticam. A história recente do Brasil está repleta de exemplos de políticos que chegaram ao poder com discursos antissistema, mas que, na prática, acabaram se tornando parte do problema.
A tentativa de ressuscitar a “PEC da Blindagem” é um erro que entrega a classe política. Em vez de buscar proteger-se de investigações, os parlamentares deveriam estar focados em promover reformas que aumentem a transparência e a responsabilidade no uso dos recursos públicos. A insistência em medidas como essa só reforça a percepção de que o Congresso está mais preocupado em se blindar do que em servir ao interesse público. Essa postura, além de ser moralmente questionável, é politicamente suicida, pois alimenta o ciclo de desconfiança e abre espaço para que oportunistas se aproveitem do descontentamento popular.
É urgente que a classe política entenda que sua legitimidade depende da capacidade de servir ao interesse público, e não de se proteger contra a lei. Enquanto isso não acontecer, a política continuará a ser um campo fértil para falsos salvadores, que, longe de resolver os problemas, só contribuem para aprofundar a crise de representatividade. A verdadeira mudança só virá quando a população aprender a não eleger mais quem não cumpre o prometido em campanha, não votar em quem se blinda com sigilos, e não eleger mais quem quer viver como rei às custas do dinheiro público. Até lá, o ciclo de desilusão e oportunismo seguirá se repetindo, em prejuízo de todos.