Substituição de Nísia por Padilha abre disputa entre PT e Centrão pela articulação política
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu fazer mudanças no seu ministério, substituindo Nísia Trindade por Alexandre Padilha no Ministério da Saúde. Agora, o petista precisa decidir quem ocupará a Secretaria de Relações Institucionais, que antes era comandada por Padilha. A dúvida persiste sobre se o PT ou um nome do Centrão ficará responsável pela pasta, com o objetivo de fortalecer a base aliada do governo no Congresso.
Lula já conversou com interlocutores dos ministros envolvidos e espera comunicar a decisão em breve. A escolha de Padilha para a Saúde visa agilizar a articulação com o Congresso, principalmente para dar andamento ao programa Mais Acesso a Especialistas e à campanha de combate à dengue, para evitar um surto como o do ano anterior.
Para a Secretaria de Relações Institucionais, um dos nomes cotados é o atual ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), que tem boa relação com o novo presidente da Câmara, Hugo Motta, o que facilita a articulação política. Outros possíveis nomes são o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), o senador Jaques Wagner (PT-BA) e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG). No entanto, Wagner e Silveira já indicaram que preferem manter seus cargos atuais.
Dentro do governo, a avaliação é de que Silvio Costa Filho seria mais adequado para comandar a articulação política do que um nome do próprio PT. Apesar de ter oferecido ministérios a partidos aliados, o Planalto enfrenta dificuldades para manter uma base sólida no Congresso.
As mudanças na equipe ministerial começam nesta semana, em meio a uma crise política e a baixa popularidade do governo, refletida nos números das últimas pesquisas. Até agora, a única alteração feita em 2025 foi na Secretaria de Comunicação Social (Secom), com a saída do deputado Paulo Pimenta e a entrada do publicitário Sidônio Palmeira.
Durante a festa de 45 anos do PT, realizada ontem no Rio de Janeiro, Lula criticou a falta de coordenação entre os ministros, mencionando que descobriu, em uma reunião ministerial, que alguns ministérios não sabem o que estão fazendo.
Nísia Trindade, prestes a deixar o governo, esteve na festa e, embora tenha recebido sinais de que seria substituída, se mostrou tranquila quanto ao seu trabalho. Ela defendeu sua gestão e se disse segura, apesar das especulações.
Em relação ao programa Mais Acesso a Especialistas, Sidônio Palmeira já se reuniu com Nísia no ano passado, discutindo estratégias para dar mais visibilidade ao programa, que, segundo aliados, ainda não atingiu o impacto esperado.
Outro nome que deve ser trocado é o de Márcio Macêdo, que ocupa a Secretaria-Geral da Presidência. A tendência é que ele seja substituído pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Embora se esperasse que Lula anunciasse a nomeação durante a festa de ontem, o presidente optou por elogiá-la como dirigente partidária, reconhecendo sua importância para o partido.
Caso Gleisi assuma a pasta, o cargo de presidente do PT seria ocupado temporariamente até a eleição interna, prevista para julho. O favorito para sucedê-la é o ex-ministro Edinho Silva, mas Lula não fez o anúncio de apoio a ele durante o evento.