Brasileiros descafeinados culpam Lula pelo preço do cafezinho

O aumento do preço do café tem gerado descontentamento no Brasil, à medida que a alta nos supermercados impacta a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A maior economia da América Latina, que é também o maior produtor de café do mundo, viu um aumento de quase 40% nos preços do café no último ano, o que se tornou um símbolo de um descontentamento mais amplo com a inflação de alimentos e bebidas, afetando a aprovação de Lula.
Em um supermercado de São Paulo, o motorista Claudio, de 49 anos, expressou surpresa com o preço de R$ 145 (US$ 25) por um pacote de café de 1kg. "Eu culpo o governo", afirmou. "Itens básicos não deveriam ser tão caros." Vídeos virais no TikTok, que brincam sobre esconder a garrafa de café quando os convidados chegam, refletem a situação.
O consumo de café no Brasil caiu 2,2% até outubro, segundo a associação da indústria. Essa alta no custo de vida tem impactado as perspectivas de reeleição de Lula, já que, pela primeira vez desde seu retorno à presidência em 2023, mais pessoas desaprovam seu governo do que o aprovam, conforme pesquisa realizada pela Quaest no mês passado.
"O preço dos alimentos subiu rapidamente e os eleitores veem que suas rendas não estão acompanhando", afirmou Felipe Nunes, diretor da empresa de pesquisas. Isso se torna ainda mais sensível para Lula, que, durante sua campanha, havia prometido "cerveja e churrasco" aos brasileiros, um símbolo do padrão de vida que queria melhorar.
O aumento da cesta básica de supermercado, que subiu 14,2% no ano passado, incluindo um aumento de 25% nos preços da carne, reflete o impacto da inflação. A inflação de alimentos e bebidas foi de 7,7%, conforme dados oficiais. Zeca Dirceu, deputado do PT, defendeu que todos os governos enfrentam dificuldades econômicas, mas destacou que as fake news têm sido um fator importante na queda de popularidade de Lula.
Embora o PIB tenha crescido 2,9% em 2023, e o desemprego esteja em níveis baixos, os eleitores não estão creditando essas melhorias ao governo. "A população não come PIB", observou Nunes, criticando a falta de reconhecimento por parte da população sobre a recuperação econômica.
Uma pesquisa recente do Datafolha mostrou que a aprovação do governo Lula caiu para 24%, a mais baixa de seus três mandatos. Isso inclui uma queda entre os eleitores de baixa renda, um grupo chave para o presidente.
Lula e seus apoiadores apontam que, embora a inflação tenha ficado abaixo dos índices de dois dígitos registrados durante o governo de Jair Bolsonaro, economistas preveem que o Brasil possa enfrentar um novo aumento da inflação em 2025, com o gasto excessivo do Estado sendo um dos fatores principais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou minimizar as preocupações, afirmando que uma inflação entre 4% e 5% é "relativamente normal". No entanto, analistas como Fernanda Guardado, economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, acreditam que um corte nos gastos do governo ajudaria a controlar a inflação.
O Banco Central reagiu ao aumento das taxas de juros, que estão em 13,25%, o que, segundo analistas, pode estar sinalizando uma desaceleração econômica. Economistas do UBS afirmam que o Brasil pode estar caminhando para a estagflação, uma combinação de baixo crescimento e inflação persistente.
Lula foi alvo de críticas ao sugerir que os consumidores boicotassem produtos caros para pressionar a queda dos preços. O deputado de direita Nikolas Ferreira fez uma zombaria sobre a sugestão, com um vídeo amplamente compartilhado nas redes sociais.
Para tentar recuperar sua popularidade, o governo de Lula aposta em medidas como isenção de impostos para os mais pobres e doações de gás de cozinha e medicamentos para famílias necessitadas. Enquanto isso, brasileiros enfrentando dificuldades financeiras, como o aposentado Adilson, de 70 anos, estão recorrendo a cafés mais baratos. "Para quem ganha o salário mínimo, não é acessível", disse ele.